Capítulo Oito

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Jeon Jeongguk

Eu não esperava aceitar aquele convite suspeito, muito menos notei quando meus pés simplesmente caminharam até o local endereçado, como se tivessem controle de seus movimentos - pelo menos não até chegar aqui.

Toco a campainha com certo receio, crispando os lábios enquanto observo a construção moderna da parte externa da casa. Para ser sincero, todas as casas dessa região parecem as mesmas, todas padronizadas com telhados escuros e o revestimento externo em tijolos ou madeira, como se vivêssemos dentro de uma comunidade virtual e controlada.

A de Yoongi é diferente; a fachada está iluminada por pisca-piscas, mesmo que estejamos longe do Natal, e o corredor de pedras que leva à porta principal é envolvo por vergéis com flores das quais nunca ouvi falar. A picape vermelha está estacionada em cima da grama. Isso me incomoda um pouco.

É como se, à força, ele tentasse me inserir no mundo estranho em que vive.

Quase me sinto sem escapatória.

Estou prestes a ir embora quando ele abre a porta. Por um momento, fico petrificado.

— Ah, então você é o tal do Jeongguk? - Diz num tom de superioridade, e me pergunto que tipo de personagem está interpretando agora. - Parece novo e casto demais para um marujo. — Arqueia uma das sobrancelhas, arregalando os olhos. Solto uma risada baixa, encarando os seus pés. — Antes de tudo, como seu comandante, devo dizer que haverão regras rigorosas em minha tripulação de duas pessoas.

— Duas pessoas? — Finjo ponderar sobre isso. — Ainda posso desistir?

— Se estiver disposto a pular da prancha, vá em frente.

Dá de ombros, abrindo espaço para que eu entre. Ele me olha de cima a baixo quando passo por si, sinuosamente, um sorriso um tanto esnobe adornando os lábios fininhos.

— Você está de bom humor hoje — Não, não é isso, quero dizer. É mais fácil falar com você agora. — Isso é bom, estou orgulhoso.

Já faz muitos anos desde que não ouço algo assim.

Toco o aparador quando passamos pelo corredor, observando e admirando cada mínimo detalhe da decoração.

A família dele parece sempre feliz nos retratos, mas isso não me conforta. Fotos escondem muitas coisas, coisas demais para serem registradas em uma mera fotografia. Sinto vontade de vomitar só de pensar, então aperto o passo para alcançá-lo.

Reconheço o seu quarto logo que o vejo; a porta foi esmaltada com verniz preto, e há um aviso de entrada proibida pendurado na madeira.

Quando entro no cômodo, me sinto pequeno, quase como uma criança num parque de diversões. São tantas coisas nas paredes azuis — pôsteres, fotos, rasgos de papel — que mal presto atenção no que diz.

O quarto todo grita Min Yoongi.

É como se ele estivesse por toda parte; nas prateleiras, nos móveis, nos recortes colados nas paredes, no ar. Estou respirando uma parte sua agora mesmo, posso sentí-lo por entre os dedos das mãos, sob os meus pés.

Respiro fundo e tento analisar o quarto com mais clareza. Um pôster do Arctic Monkeys me chama a atenção.

— Não posso passar muito tempo aqui — Aviso, me aproximando. — Essa banda é legal.

Estou com inveja.

No fim das contas, ele não é só mais um adolescente normal?

— "Legal"? É a melhor banda desse século - Sinto um tom de indignação em sua voz. — Parece um pouco superestimado, eu sei, mas eles são fodas. Alex Turner é um gênio. Estou pensando em comprar uma vitrola, eu tenho alguns discos guardados. Você parece ter um bom gosto musical, quer ouvir alguma música?

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