SEIS - PROMESSAS QUEBRADAS

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DENNER


Inspira. Expira.

Tentei mandar esse comando ao meu corpo, mas parece que ele esqueceu como fazer isso. O simples ato de deixar o ar entrar e sair dos pulmões, que é vital para a sobrevivência, a minha sobrevivência. A qualquer momento terei um ataque e ninguém entenderá nada, porque eles não sabem dessa fraqueza, não sabem que sofro de ataques de ansiedade.

Ninguém sabe e permanecerá assim.

Com esse pensamento em mente, ignoro o casal sorridente no lobby e subo as escadas tão rápido consigo fazê-lo, sem correr. Atravesso o largo corredor da casa dos meus pais, em Beverlly Hills, em direção ao banheiro mais próximo. O fato de não ter crescido naquela casa e visitar pouco a propriedade tornam a procura desafiadora, abro portas no caminho me deparando com uma sucessão de quartos.

Por que um casal, com filhos crescidos, precisa de tantos quartos?

Claro, os quartos são suítes e eu poderia ter entrado em um deles, mas a falta de ar deixou meus pensamentos comprometidos, como se não fosse obvio esse fato. Finalmente, a porta certa. Entro no lavabo, giro a chave três vezes para ter certeza que ninguém poderá entrar, coloco as mãos espalmadas no mármore frio. Evito levar meu olhar ao espelho, estou um caco, eu sei.

Tento vomitar, mas não consigo, meus ouvidos zunem alto e minha visão falha com pontinhos pretos dançando no ar.

Inspira. Expira. Grito desesperado, mas nenhum som sai.

Abro a torneira e com as mãos em concha, joga água no rosto. Um alivio toma conta de mim, aos poucos, consigo retomar o controle do meu sistema nervoso, diminuindo a pressão em meu peito. Comemoro o fato de não recorrer ao frasco de remédios, em meu bolso, para recobrar a postura. Consegui diminuir o uso delas, uma para cada dez ataques.

No auge dos meus vinte e seis anos, dificilmente alguém diria que sou escravo da ansiedade, um problema que começou ainda na escola. Ser conhecido como o nerd da lan house não ajudou muito, as garotas tiravam sarro do meu óculos, do meu aparelho dental, das minhas pernas finas e pelo fato de ser alto e magrelo.

Seguir Thomas no gramado e na academia, não me tornou mais confiante, levei anos e muita terapia para aceitar que a opinião dos outros sobre mim, simplesmente não importa. Apesar de aceitar, não me livrei da ansiedade e ás vezes, ela aparece para atormentar minha vida.

Seguro a toalha branca em frente ao rosto, respiro bem fundo antes de passar o tecido felpudo secando a pele molhada, encaro o reflexo no espelho, mais confiante. Ajeito os botões da camisa branca, dou uma piscadinha e saio para o corredor.

— Den — a voz doce chega antes que eu possa fechar a porta do banheiro. Um furacão de cachos loiros se atira em meu colo, só tenho tempo de apará-la antes que colida em meu peito. — Estou chateada com você! Como ousa passar tanto tempo sem me visitar? E ainda diz que é meu melhor amigo.

— Acalme-se Annabel — consigo dizer entre cachinhos. — Você poderia ter vindo — reclamo.

— Sabe que não — ela se afasta, o olhar duro — Papai quase pirou depois que mamãe morreu, o câncer devastou a família inteira.

A mãe de Annabel desenvolveu um câncer raro, eles tentaram todo tipo de tratamento, até experimentais. Tudo aconteceu após o colegial, levou dois anos para que eles finalmente se mudassem para a Suíça.

— Como ele está?

— Melhor agora — Annabel funga, uma lágrima solitária escorre por sua bochecha. — Senti tanta saudades.

[ DEGUSTAÇÃO ] Você Não Soube Me Amar  |Série Amor Eterno | Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora