CAPÍTULO 2°

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Capítulos novos as segundas, quartas e sextas.

Guilherme.


Eu sempre tenho flashes de lembranças sobre minha infância. Me lembro bem dos momentos difíceis que passamos e me lembro bem de quando meu pai era vivo. Quando eu era adolescente eu sentia muita falta de uma figura paterna pra me proteger, dar concelhos e até mesmo ter uma conversa atoa.

As lembranças que eu tenho da minha infância e adolescência são memórias difíceis e muito dolorosas. Eu perdi meu pai no dia do meu aniversário de sete anos, eu me lembro bem de estar em casa com amigos jogando videogame e ouvir barulhos de tiro e em questão de segundos minha festa de aniversário se transformou em luto. O meu pai foi morto a tiros por uma policial federal. A desgraçada invadiu o morro e acertou uma bala bem na cabeça do meu pai, essa é uma das memórias que nunca sairá da minha cabeça.

O meu pai foi a pior pessoa que eu já conheci em toda minha vida. Ele era um homem ruim com todos os em minha volta e até mesmo comigo e com minha mãe, eu me lembro bem de ouvir os gritos desesperados da minha mãe sempre que ele chegava em casa estressado. Meu pai era uma pessoa horrível, ele traía minha mãe com todas as vagabundas do morro e ainda assim se achava no direito que agredi-la. Eu passei minha infância inteira tentando entender o porque minha aceitava aquela situação horrível, mas quando meu pai morreu e ela se envolveu outro cara do movimento eu entendi bem o motivo do seu sofrimento. Ela aceitava todas as agressões e traições por causa de patrocínio.

Quando eu era criança eu não entendia o porque as pessoas entravam para o tráfico. Eu sabia que era um caminho fácil aonde o dinheiro brota e todos os problemas se resolvem, mas eu sempre via os caras do movimento morrendo ou indo para cadeia. Eu sempre dizia pra mim mesmo que jamais entraria para esse mundo e que o meu futuro seria muito diferente, mas eu cresci e vi minha mãe doente passando por necessidades e eu finalmente enxerguei que a vida nem sempre é como os noticiários diz, as vezes você precisa ir contra seus pensamentos e tomar decisões que não são certas aos olhos da sociedade. Foi isso que eu fiz.

Eu tinha exatamente dezesseis anos quando eu entrei para o movimento aqui no morro e na época minha mãe estava com uma pneumonia muito grave e nós não tínhamos dinheiro pra comprar remédio. Eu era o homem da casa e não sabia o que fazer pra ajudar, na época meu tio era o chefe do movimento e me fez convite irresistível. Eu iria ganhar cento e cinquenta reais pra ir entregar uma quantidade de drogas na zona sul. O remédio da minha mãe custava cem reais e foi aí que eu entrei nessa vida. Eu era uma adolescente e essa foi a decisão mais fácil e mais lucrativa, então eu peguei o trampo e fiz o corre na maior tranquilidade, a pior parte disso é que eu nunca mais consegui sair dessa porra de vida.

Agora eu já estou acostumei com a vida que eu levo, antes eu ficava mentindo pra mim mesmo dizendo que um dia sairia do tráfico e levaria uma vida honesta, mas eu vou dizer uma coisa do fundo do meu coração com toda minha honestidade. Quem entra nessa vida desgraçada não saí mais não.

Eu já estou ciente que qualquer hora eu posso ser baleado, preso ou até ir dessa pra melhor. No meu caso pra um lugar bem pior do que esse inferno.

Hoje eu apenas faço o que eu tenho vontade e vivo cada dia como se fosse o último. Sabe-se lá se eu não vou ser preso daqui a duas horas, se alguém vai foder comigo ou se eu parar dentro de uma vala qualquer.

- Ô chefe, o patrão tá te convocando lá na boca da nove.- uma voz chamou minha atenção me fazendo acordar.

Há mais ou menos um mês atrás ouve uma invasão no morro aonde um dos meninos foram mortos, desde então eu tenho passado a noite inteira na fonte mais alta do morro cuidando do movimento e cuidando da porra da segurança.

A Filha Do Juiz (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora