CAPÍTULO 10°

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Guilherme.

Fazer parte do movimento nunca foi uma tarefa fácil. A gente vive em constante pressão e não temos noção do que vem a seguir, em um momento a gente pode tá de boa entre amigos amigos e no outro simplesmente partir dessa pra uma melhor. Eu sempre achei que a vida em meio ao tráfico não valesse a pena, mas nas últimas semanas minha idéia tem sido reforçada a cada segundo.

Quando eu ainda era um moleque recém chegado no movimento eu tinha nos pensamos a ideia de juntar uma boa grana pra dar uma vida melhor pra minha mãe e aí sim sair do movimento, mas como qualquer um dos caras que eu conheço eu entrei e não consegui sair mais. O tráfico te prende com tantas atrações que mesmo vivendo em meio a lama você não vê motivos bastantes pra sair.

Hoje eu tenho tudo que sempre quis quando era moleque. Eu tenho o meu barraco com as coisas que eu sonhava, eu tenho meu carro e a minha moto e também tenho a mulher que eu quiser na minha cama na hora que eu quiser, mas mesmo com tendo tudo isso eu nunca me sinto feliz. Parece que sempre está faltando alguma coisa que o meu dinheiro não é capaz de comprar.

O movimento da quebrada hoje está bem tranquilo pra um fim de tarde de uma sexta-feira. Poucas pessoas estão andando pelas ruas ruas, os botecos estão quase sem movimento e por incrível que pareça nem os viciados estão subindo pra comprar droga.

- quer dá um trago?- Lucão perguntou me fazendo encara-lo.

Desvio minha atenção das ruas e o encaro. A primeira coisa que eu vi em suas mãos foi um cigarro de maconha que aparentemente acabou de ser bolado.

- tô de boa parceiro!- digo ainda o encarando.

Apesar de estar envolvido de cabeça no tráfico há muitos anos eu nunca tive um real interesse por drogas. Na verdade desde que eu entrei pro movimento eu usei maconha uma vez e eu não gostei nenhum pouco da sensação de estar chapado. Eu creio que muitas das pessoas que usam drogas são pra fugir da realidade de alguma forma, eu já me acostumei com minha vida e tenho certeza que me drogar só irá deixar minha vida ainda pior.

Naquele mesmo momento um som soou do rádio do Lucão chamando minha atenção. Pelo tom de voz parece ser um dos moleques que fica tomando conta do primeiro ponto do morro.

- O cara que fornece arma tá lá na entrada do morro chefe, pode mandar subir?- Lucão logo perguntou.

Me levanto apagando meu cigarro com os pés e aceno com a cabeça afirmando.

- manda um rádio pro Diogo resolver a treta com ele. Eu vou pegar umas paradas lá no barraco e encontro com você e os moleques lá na quadra.- digo abrindo minha pochete e pegando as chaves da minha moto.

Lucão se levantou soltando a fumaça do seu cigarro e acenou com a cabeça tocando na minha mão.

- pode deixar meu parceiro!- ele disse por fim e saiu falando alguma coisa no rádio.

Subo em minha moto e arranco dalí pilotando direto para o meu barraco.

O Nefasto saiu do morro ontem pra resolver uma parada sobre uma grande quantidade de droga que não chegou no morro. Pelo visto tem gente grande de olho na gente e está dificultando o fornecimento de drogas no morro. No começo eu achava que era apenas uma investigação da polícia militar ou talvez até da polícia civil, mas pelo jeito que as coisas estão acontecend eu tenho quase certeza que tem gente muito maior na nossa cola.

Entro no meu barraco jogando minhas coisas no sofá e vou direto para o meu quarto. Paro em frente a minha cômoda e a arrasto a afastando da parede, enfio minha mão no pequeno buraco que há na parede e tiro toda droga que havia alí. Coloco a cômoda no lugar novamente e os meus olhos foram direto para o par de argolas que a Pilar "esqueceu" aqui há algumas semanas atrás. Na verdade os brincos devem ter caído da orelha dela porque eu os achei jogado no chão do quarto um dia depois que ela esteve aqui, eu tenho certeza que é dela porque os brincos são de ouro e eu não trouxe nenhuma mulher pro meu barraco depois que ela esteve aqui.

A Filha Do Juiz (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora