Prólogo

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"Você precisa de um tratamento intensivo Amanda."


Hoje foi um dia ruim, mas, um dia importante, para finalmente, as coisas mudarem e eu nunca mais precisar ir, tantas vezes no hospital. Então o tempo ficou cinza.

Sou diagnosticada com Leucemia Linfóide Aguda desde os dez anos. A minha vida saiu de um mundo de descobertas para remédios alternativos e algumas sessões de tratamento intensivo. No fim optamos pelo acompanhamento de um médico particular, com remédios tão fortes que, toda vez que tomo é impossível não vomitar.

Depois de completar meus 17 anos estava ciente que não poderia ser uma adolescente normal. Perdi o primeiro baile, a primeira paixão e o primeiro coração partido. Não tenho amigos próximos além do meu primo Kentin. Sem ele eu não poderia saber como sorrir é incrível.

Enquanto estou sentada no chão da sala, encostada no sofá, minha família inteira me olha assustada. Pedi para que todos estivessem presentes no meu anúncio, mas, assim que comecei a falar, gritos histéricos de todos os lados me prenderam ao chão.

Era a única coisa que estava pedindo. Pode parecer egoísta e uma grande ingratidão por tudo que, todos eles fazem por mim. Porém a minha vida não tem futuro nos meus olhos, então só quero aproveitar meu último momento como alguém normal.

...

Você ficou louca, prima?!

— Kentin!!

— Primo não fala isso! - respondo aflita com a reação irada dele.

— Você não pode estar falando sério!!

— Não adianta sobrinho! Sua prima não quer saber de nós! — minha mãe me olhou com os olhos marejados. — Ela quer MORRER e NÃO se IMPORTA com NINGUÉM!

— Mãe a gente já converso... — olhei para ela desesperada.

— O que você quer provar minha filha??
— meu pai pergunta passando a mão nos cabelos.
...

Ninguém disse mais nada. Comecei a chorar compulsivamente até tossir muito forte. Sentia meus pulmões fecharem e meu corpo perder as forças.

Estava tão angústiada e vivendo numa prisão à tanto tempo que, só a possibilidade da minha única chance de viver, de repente sumir da minha frente, era horrível. Me senti em pânico.

Quando os meus olhos ficaram pesados e a visão ficou embasada, senti que estava perdendo minha única chance de liberdade. Logo estava sozinha em lugar nenhum.

Meu coração ficou apertado assim que abri os olhos. O dia estava na metade, pelo que sabia. Minha discussão com toda minha família tinha sido pela manhã, na hora do almoço. Era domingo.

O sol estava escondido nas nuvens e meu quarto de sempre no hospital não tinha cores. A vontade de chorar estava voltando até baterem na porta.

Logo o doutor Marcos entrou no meu quarto e engoli as lágrimas em seco. Finalmente ele aproximou-se e me olhou com gentileza.

...
— Como se sente, Amanda?

— Estou bem doutor — respondo com um sorriso fraco.

Uma pétala de flor.Onde histórias criam vida. Descubra agora