Quando Austin me deixou em frente à minha casa, com a promessa de que amanhã eu teria a maior surpresa da minha vida, no horário da noite, foi quase impossível me retirar de seu carro.
Acho louco o que a ansiedade por causar em cada um de nós. É quase inacreditável a quantidade de coisas que podem passar em nossa cabeça em um período tão curto de tempo.
Mamãe estava em seu escritório — o qual papai havia reformado com tanto amor —, tudo fora feito do jeito que ela amava, livros espalhados pelas estantes grudadas as paredes. Era o seu lugar preferido e quase não tínhamos o costume de adentrar lá.
Dei dois toques na porta para avisar que já estava em casa e segui para a cozinha. Enchi um belo de copo com suco de morango. Não demorou muito para que mamãe viesse até a cozinha com seu notebook.
— E então, como foi? — Mamãe perguntou.
— Ele está praticamente pronto para a última prova do ano. — Respondi animada e ela revirou os olhos.
Uni as sobrancelhas como gesto de confusão.
— Quero saber se aconteceu algo entre vocês dois? — Perguntou, colocando o seu óculos de descanso em cima da cabeça.
— Eu contei que já fui apaixonada por ele. — Respondi indiferente.
— Como assim "já fui apaixonada"? — Perguntou dando ênfase no "já".
— Falei sem querer e precisei mentir. — Dei de ombros.
Provavelmente dentro da cabeça dela o que eu havia feito era a coisa mais idiota. Quem sabe pensasse que eu não sou uma filha tão corajosa — não era mesmo —.
Mamãe fez um gesto para que eu fosse até o seu lado e desse uma olhada em seu notebook.
Lá estava escrito FIM, em letras maiúsculas e uma fonte enorme. Ela havia acabado de concluir mais um livro que com certeza seria outro sucesso.
— A sua fã número um já pode ler? — Perguntei curiosa.
— Exatamente. — Entregou-me. — Amanhã você me diz o que achou.
Balancei a cabeça em concordância.
Ainda iria demorar para que jantássemos. Enquanto isso, como não havia nada do colégio para adiantar, preferi ir para meu quarto iniciar a leitura.
Iniciei pela sinopse que ela havia deixado separado logo no início do seu documento.
O LIVRO QUE ELA LIA
Apaixonado pelo mar da Califórnia, Bryan era um dos jovens da região que mais levava jeito para o surfe. Apesar disso, seguiu a carreira do pai - após muitas discussões - como construtor civil.
Com as férias do trabalho, consegue passar duas semanas no lugar onde mais gosta: a praia. Mas isso não era nada do que estava por vir.
A cada dia que chegava, presenciava a cena de uma bela moça dos cabelos louros, sentada na areia da praia, com um livro em mãos.
O que lhe causava um certo arrepio e desejo pela desconhecida.
Uma das minhas coisas preferidas em relação aos livros, era que gostava muito dos que falavam sobre sonhos.
Como a minha família sempre teve conexão com sonhos e incentivos à busca deles, adorava isso quando estava lendo.
Passei a ler e deixei que aquela história adentrasse o meu coração. Gostava de me colocar dentro delas, para tentar ver o que eu faria se estivesse no lugar deles.
Havia perdido a noção de tempo lendo e aos poucos o sono foi tomando conta de mim. Só vi a hora chegar quando ouvi dois toques em minha porta, despertando-me do sono.
— A pizza chegou. — Mamãe avisou.
Havia tido uma boa refeição na casa de Austin e toda a ansiedade da grande surpresa que eu teria no dia seguinte me fez mordiscar duas fatias de pizza.
Meus pais consideraram o ato estranho, já que estão acostumados a me ver devorar uma praticamente inteira sozinha.
— Está tudo bem com você? — Perguntou papai.
— Aham, por que não estaria? — Perguntei confusa.
Mamãe e papai se entreolharam com a minha resposta e voltaram a me encarar.
— Aconteceu alguma coisa na casa do garoto Scott? — Papai insistiu.
— Não. Mas conheci os pais dele. — Contei. — Gostei deles.
— E o próximo passo? — Mamãe perguntou.
Revirei os olhos com a insistência deles.
— O próximo passo é que daqui alguns meses eu estarei na faculdade de Yale e eu e Austin não nos veremos mais. — Falei apressadamente, talvez até atropelando algumas palavras.
Mais tarde tentei retomar a leitura do livro finalizado de mamãe, para tentar tirá-lo da cabeça. O problema era que toda hora meu pensamento era desviado para Austin.
Estava curiosa para o dia seguinte. Só de imaginar que ele estava tendo o trabalho de preparar uma surpresa para mim, por pequena que fosse, fazia meu coração pulsar ainda mais.
Eu amava toda essa emoção que lia nos livros ou assistia em filmes. Demorei para sentir algo assim e agora torcia para que não acabasse rápido demais.
Mas logo eu estaria dizendo adeus. Eu deveria me acostumar com isso.
Meu coração está cheio de coragem. É isso que deixo em minha mente sempre que penso sobre mudar-me de cidade por conta dos meus estudos. É necessário ter coragem para deixar as pessoas e a vida que demoramos tanto tempo para desenvolver. Mas é apenas uma nova etapa da minha vida.
Não havia nada que me fizesse mudar de ideia, nem mesmo meu amor e minha amizade com Austin. Não poderia me deixar levar pelos momentos ao seu lado. Não poderia deixar com que os sentimentos tomassem conta de mim, fazendo-me mudar de ideia.
A minha vida era importante. A minha faculdade era meu objetivo principal.
Talvez eu o encontraria daqui alguns anos quando retornasse para a cidade. Ele poderia ainda estar solteiro ou já poderia estar com alguém, quem sabe filhos, são coisas que não estamos preparados a acontecer, mas que acontecem.
Juntei o outro travesseiro em meio aos meus braços e o apertei com toda força, desejando que aqueles dias finais demorassem o máximo a passar, para que pudesse aproveitar o máximo as horas ao lado de Austin.
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As vantagens de não se APAIXONAR
RomanceExiste um ditado que diz: "A felicidade está onde o coração encontra repouso.". Nunca acreditei neste ditado para ser sincera. Quer dizer, não exatamente da forma como todo mundo acredita que seja este "repouso". Meu coração encontra repouso de dive...