Será coincidência?

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Já era sábado e Jéssica não conseguiu dormir nada. Agarrou novamente nos livros, mas o seu pensamento estava distante. Na república ainda estavam todas as raparigas a dormir, então decidiu ir para o parque mais próximo estudar. Tinha esperança que o ar fresco lhe fizesse bem.

Chegou ao parque, sentou-se na relva, pôs os fones nos ouvidos e começou a estudar. Estava sol, ouvia-se os pássaros e viam-se algumas pessoas a passear. Ainda era cedo, por isso eram poucos os que passavam.

Lucas também não conseguiu dormir, acabando por ir dar uma volta. Passou horas a vaguear, até que parou em frente ao parque, a sentir a brisa do vento e o ar puro. Já eram onze horas. Quando estava a ir embora, viu, ao longe, uma jovem a estudar, mas ignorou e seguiu em frente. Até que algo o fez olhar de novo. Ficou imóvel quando se apercebeu que era a mesma rapariga que tinha visto no bar.

- Não pode ser - murmurou Lucas.

Aproximou-se um pouco mais. Era mesmo ela! Encostada a uma árvore, com os longos cabelos a cair nos ombros, um casaco rosa que realçava a cor da sua pele e os livros em cima das pernas. Ele achou-a ainda mais bonita.

- Eu sabia que te ia encontrar. Não pensei é que fosse tão cedo. Mas, afinal, quem és tu? - perguntou para si mesmo.

Ele ia para avançar até ela, mas hesitou. Tinha medo daquilo que ela podia pensar dele. Contudo, sentia que lhe devia pedir desculpa pela reação dele naquela noite. E se ela já não se lembrava? Isso seria melhor ou pior? Havia muitas perguntas sem resposta.

Passou meia hora e Lucas finalmente ganhou coragem. Estava a ir na direção dela, quando, de repente, o telemóvel começa a tocar e ela atende. Ele para.

- Sim? Eu vou já. Até já.

Ela levantou-se e foi embora. Vanessa ligou-lhe para irem todas fazer o almoço.

Ele estava tão perto... Mais cinco passos e ficava mesmo ao lado dela... Jéssica nem reparou nele. Simplesmente foi embora...

- Foi por tão pouco... - disse Lucas, com a cabeça virada para baixo.

- Outra vez a falar sozinho? - perguntou Samuel, atrás dele.

- Então, meu? Estás louco? Assustaste-me!

- Desculpa, não era essa a minha intenção.

Lucas olhou na direção de Jéssica. Ela nem olhou para trás.

- Espera, mas tu estás a olhar para aquela rapariga?

- Porquê? - perguntou Lucas.

- Não me digas que... Não é a daquela noite, do bar?

- É... Estava a passar e vi-a.

- Pois, chama-lhe "estava a passar e vi-a" - disse Samuel, ironicamente.

Os dois amigos foram embora, mas, ao passar próximo da zona onde estava Jéssica, Lucas apercebeu-se de algo no chão: uma caneta. Uma simples caneta. Era dela. Ele agarrou-a e meteu-a no bolso do casaco. Seguiu em frente.

- Então, diz-me lá, o que é que aquela rapariga tem de especial? Eu sei que é gira, mas isso não chega para te deixar caidinho - comentou Samuel.

- Gira... Caidinho... O quê?

Lucas estava distraído, não tinha percebido a pergunta do amigo. Se aquela jovem já não lhe saía da cabeça, agora é que nunca mais a esqueceria.

- Estás mesmo...

- Eu não estou nada! - interrompeu Lucas.

- Calma, meu. Eu só comentei porque achei estranho. Até hoje, segundo sei, só tiveste três namoradas. E nenhuma delas te deixou nesse estado. Para além disso, tens montes de miúdas atrás de ti e não gostas de nenhuma... Nunca lhes ligas.

- Não sei porquê, mas esta parece-me diferente. Não consigo explicar.

- Bem, ela deixa-te mesmo mal.

- Cala-te!

- Ao menos sabes alguma coisa sobre ela? O nome?

- Não.

- A sério? Então tens de começar a tratar disso.

- Só sei que ela vive aqui perto. Para estar neste sítio...

- Boa sorte a encontrar o paradeiro.

Lucas olhou para Samuel, mas não respondeu. Não valia a pena.

Quando chegaram à república, Lucas deitou-se em cima da cama, tirou a caneta do bolso e ficou a olhar para ela. Ficou a pensar como devia encontrar a dona para a entregar. No entanto, o seu desejo não era entregar a caneta. Era ver quem a tinha deixado no parque.

*

Depois do almoço, Jéssica foi para o quarto, estudar. Quando estava a tirar as coisas do estojo, reparou que não tinha a sua caneta.

- Vais estudar? - perguntou Vanessa.

- Sim. Viste a minha caneta? - perguntou Jéssica.

- Não.

- Mas eu não a encontro.

- Não te preocupes, eu tenho muitas. Posso dar-te uma.

- Não estás a perceber, é a minha caneta da sorte! - exclamou Jéssica, nervosa.

- Calma, rapariga. É só uma caneta.

- Tu já sabes que eu só uso aquela caneta. Foi...

- Sim, eu sei - interrompeu Vanessa.

- Acho que a perdi... Deve de ter sido no parque, hoje de manhã - disse Jéssica, triste.

- Deixa lá, arranjas outra.

- Mas não é a mesma coisa... Eu andava sempre com aquela.

A caneta tinha-lhe sido dada pela irmã, quando estava no hospital, depois do episódio de bullying, na escola. Desde aí, ela nunca mais a deixou. Era o seu amuleto da sorte. Mas, agora, estava perdida. Ainda pensou voltar ao parque, o que seria absurdo. Não a encontraria.

- Olha, vou sair. Queres vir? - perguntou Vanessa.

- Não. Fico aqui. A Sara também já aí vem.

- Tu é que sabes. Não fiques é a pensar nisso. Até logo.

-Tchau.

Jéssica estava a pensar na caneta e, do nada, veio-lhe novamente ao pensamento o tal rapaz. Ela não percebia o que se passava. Nunca lhe tinha acontecido... Os rapazes sempre estiveram longe da sua vida. Porquê? Porquê agora? Porquê alguém que ela nem conhecia? Tantas perguntas e tão poucas respostas...

No Brilho do Teu Olhar (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora