No dia seguinte, Mara foi sozinha para a maternidade, decidiu que seria melhor ir apenas ela, até para falar com o médico. Ao chegar à entrada, viu Vanessa, sozinha.
- Por aqui? - perguntou Mara.
- Parece que sim... E sim, é o que estás a pensar: eu estou grávida - respondeu Vanessa, mostrando um leve sorriso.
- Nesse caso, parabéns. Os teus pais e o teu namorado sabem?
- Ainda não. Decidi primeiro vir à consulta, para ter a certeza que estou mesmo. Mas aposto que o Rúben vai ficar tão contente como eu fiquei, é a prova do nosso amor.
- Que sejam felizes. Tudo de bom - disse Mara.
- Obrigada e igualmente.
Mara foi diretamente falar com o médico, ainda a pensar naquilo que tinha acabado de acontecer. Aquela rapariga perdeu-se completamente, já nem parece a mesma a falar, pensava, enquanto seguia o caminho.
- Bom dia, Mara - disse o enfermeiro Gabriel, ao vê-la chegar ao consultório do médico.
- Bom dia.
- Podes entrar, o doutor está à espera - sorriu ele.
Mara esboçou um sorriso, sem dizer nada, e entrou.
- Pode entrar. Como está? - perguntou o médico.
- Estou bem, obrigada.
- Tenho boas notícias para si. Em princípio, os gémeos poderão ir para casa amanhã. Hoje sairão das incubadoras e a Mara irá tratar deles, para que tudo lhe seja explicado, principalmente os cuidados necessários.
- Obrigada, doutor! Estou tão feliz! Não me podia ter dado melhor notícia!
- Agora será acompanhada até à sala onde irá tratar dos recém-nascidos. Ficará com os enfermeiros que a irão orientar. Amanhã, antes de ir embora, voltamos a falar.
- Com certeza.
Mara estava a ir para a sala, quando, de repente, sentiu uma forte pontada no peito e tonturas. O enfermeiro agarrou-a de imediato.
- Mara, estás bem? - perguntou Gabriel.
Mas ela não respondia. Começou a ficar pálida e perdeu os sentidos. Ele chamou o médico que se encontrava mais próximo e trataram de a deitar com os pés elevados.
- Ela já está a abrir os olhos - disse o médico.
- Pode ir, doutor, eu posso ajudá-la. E obrigado - disse Gabriel.
- Certifique-se de que ela irá para casa descansar, pode ter sido uma quebra de tensão provocada pelo cansaço.
- Claro que sim, doutor. Uma vez mais, obrigado.
O médico ausentou-se e Gabriel disse a Mara para ir para casa.
- Os meus filhos precisam de mim - respondeu ela.
- Os teus filhos precisam é que estejas bem. Eles estão ótimos, amanhã já vão para casa. E tu vais agora e não se fala mais nisso.
- Está bem... Então vou só vê-los antes de ir.
E assim foi. Mara foi ver como estavam os bebés e regressou a casa. Os pais acharam um pouco estranho ela ter chegado tão cedo, mas não comentaram. Jéssica é que decidiu falar com ela.
- Vieste tão cedo? - perguntou Jéssica.
- Sim, mas amanhã já vou buscar os meus babies. E o Ricardo chega depois de amanhã. Finalmente está tudo a recompor-se - sorriu Mara.
- Fico tão contente! Foi por isso que já vieste? Para organizar tudo?
- Não, foi porque me senti mal. Foi uma sensação muito estranha e mandaram-me vir para casa. Mas assim também aproveito para arranjar as coisas.
- Estás melhor?
- Sim, já estou bem.
- Nesse caso, eu ajudo-te a arrumar. Aproveita, não é todos os dias que me ofereço para arrumar - brincou Jéssica.
As duas riram e começaram a trabalhar. Estavam entretidas quando o telemóvel de Mara começou a tocar. Ela não conhecia o número, mas atendeu. Era Gabriel.
- Já estás melhor? - perguntou ele, do outro lado do telemóvel.
- Sim... Mas... Como é que tens o meu número?
- Daquela vez em que tu e o Ricardo foram à maternidade e eu fiquei com os vossos contactos, para o caso de precisar de vos contactar.
- Já não me lembrava.
- Pois, eu lembrava.
Falaram mais um pouco e desligaram. Logo de seguida, o telemóvel volta a tocar. Era um número diferente, mas Mara continuava a não reconhecer. Atendeu.
- Boa tarde, gostava de falar com Mar...
- É a própria - interrompeu Mara.
- Bom, este assunto é bastante delicado, peço que ouça com muita atenção aquilo que lhe vou dizer.
- Claro.
Mara estava a começar a ficar nervosa.
- Eu vou direto ao assunto, não vou estar com rodeios. Há uns dias, o Ricardo descobriu que apanhou uma doença, da qual é muito difícil sobreviver. E ele não resistiu...
Fez-se silêncio e ela já não pensava em nada. O que é que aquilo queria mesmo dizer?
- Pode-me explicar melhor? - perguntou Mara.
- Os sintomas começaram a aparecer e o Ricardo dirigiu-se a um médico. Fez uns exames que comprovaram que ele estava infetado. Ficou isolado, tentaram fazer de tudo, mas nada resultou... Ninguém a conseguiu avisar mais cedo porque estivemos sem comunicações. Ele faleceu hoje de manhã... Os bens já foram enviados, devem chegar ainda hoje. O corpo será transportado e talvez amanhã chegue a Portugal.
Mara não reagiu e o senhor que estava do outro lado acabou por desligar. Percebeu que ela precisava de tempo.
Não pode ser... Isto não é verdade. Ele vai chegar vivo e vai comigo para casa. Os pensamentos invadiam a mente de Mara e não a deixavam pensar com clareza. Sem ela se aperceber, as lágrimas já lhe corriam pelo rosto. Jéssica, que se tinha limitado a olhar para a irmã, acabou por perguntar:
- O que é que aconteceu? Foram os gémeos?
- O Ricardo...
- O Ricardo o quê? Já não vem amanhã?
- Ele... Morreu... - disse Mara, abraçando-se à irmã.
Jéssica também não teve reação. Não podia ser verdade que Ricardo tivesse morrido. Não é natural ele morrer e deixar dois filhos tão pequeninos, que precisam tanto dele.
- Eu não posso acreditar que já não o terei mais ao meu lado, já não volto a acordar com os carinhos dele, já não vamos voltar a dar os nossos passeios... Nunca mais... - foram as últimas palavras de Mara, até as lágrimas se apoderarem por completo da sua voz.
Os pais ouviram e correram de imediato até elas, para saber o que se passava. Jéssica contou e todos ficaram desolados.
Passado um pouco, tocaram à campainha. Eram as coisas de Ricardo. Enviaram aquilo o mais rápido possível, em poucas horas já estavam no destino. Provavelmente, já estava tudo arrumado, a contar que este dia iria chegar.
Teresa levou a caixa até à filha, que mal conseguia olhar para aquilo que era do namorado. Contudo, ganhou coragem e abriu-a. No topo,estava uma carta com o nome dela e o primeiro pensamento que lhe veio à mente foi: porquê uma carta em meu nome no meio das coisas dele?
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No Brilho do Teu Olhar (Concluído)
RomansaJéssica era uma jovem normal de 18 anos que tinha acabado o Liceu e ia para a Universidade. No entanto, não gostava de sair, não pensava em rapazes e dedicava o seu tempo ao estudo, a típica "marrona", como todos lhe chamavam. Uma noite, as colegas...