Carta de amor

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Domingo chegou. Jéssica tinha de ir embora, de regresso à sua "nova casa", desde setembro. Despediu-se da mãe, do pai, do cunhado e, finalmente, da irmã.

- Pensa naquilo que falámos - disse Mara, ao abraçar Jéssica.

- Só se pensares em me dar um afilhado ou afilhada. E isto também é para ti - disse Jéssica, ao dirigir-se a Ricardo, que se encontrava ao lado da irmã.

- De onde surgiu isso? - perguntou Mara.

- Lembrei-me. Já tens 25 anos. É mais do que altura.

- Não sei se percebeste, mas ela chamou-te velha - disse Ricardo, na brincadeira.

- Não fales muito. Também já tens 28 - disse Jéssica.

- Hum, logo se vê. Ainda é um pouco cedo - respondeu Mara.

- Pensem nisso.

Jéssica foi embora. Ao chegar, dirigiu-se ao quarto, para desfazer a mala, mas Vanessa correu até ela e puxou-a.

- Tenho uma coisa para te contar - disse Vanessa.

- O quê? - perguntou Jéssica, curiosa.

- Comecei a namorar - gritou Vanessa, mais feliz do que nunca.

- E como é que ele se chama?

- Rúben. Anda em Direito e é lindo de morrer.

- E tu que não achasses um rapaz bonito... - disse Jéssica.

- Até parece. Hoje vamos todas jantar fora - disse Vanessa.

- Pagas? - perguntou Sara.

- Não, mas posso-vos arranjar um desconto.

Foram todas arranjar-se e jantaram num restaurante barato, lá próximo. Quando regressaram, foram dormir.

Na segunda feira, as três amigas foram juntas para as aulas. No caminho, apareceu Rúben e Vanessa apresentou-os.

- Meninas, este é o Rúben. Elas são Jéssica e Sara.

- Olá - disseram todos, simultaneamente.

Ele cumprimentou-as e, ao tocar em Jéssica, esta teve uma sensação estranha, uma espécie de insegurança, mas ignorou.

- Bem, amigas, nós vamos por aquele lado.

- Vão, vão - disse Sara.

- Até logo. Portem-se bem - disse Jéssica.

Entretanto, Lucas viu-as ao longe, mas não se aproximou. Não sabia qual seria a reação de Jéssica. Para além disso, já tinha uma ideia do que iria fazer.

*

As aulas terminaram a meio da tarde e estava na altura de Lucas tentar resolver a situação. Tudo dependia de Jéssica.

Jéssica saiu sozinha porque as amigas foram passear. Ao chegar ao quarto, decidiu ir tomar um duche, antes de estudar. Foi quando voltou que reparou em algo em cima da cama. Era uma rosa vermelha, perfumada, e um papel, com um grande texto:

Olá princesa (sim, para mim és uma princesa).

Na sexta feira fui à tua procura, mas disseram-me que tinhas ido passar o fim de semana a casa. Espero que te tenha feito bem aliviar disto. Bom, eu estou a escrever porque tenho medo que não queiras falar comigo, apesar que também podes ignorar esta carta. Aqui vai: no momento em que estava contigo, não consegui controlar o meu impulso e beijei-te. Um beijo que, para mim, significou muito, visto que provou o que desconfiava há algum tempo: estou apaixonado por ti. Amo-te de uma maneira que nunca pensei amar, que nunca pensei existir, até te conhecer. É algo tão forte que até o infinito parece pequeno. Um dia cinzento fica alegre quando tu apareces e me olhas com esse olhar doce, que me faz esquecer de tudo à minha volta. Quando estou contigo, só desejo que o relógio pare e o tempo nos deixe viver mais um bocado. Posso tentar escrever as mais belas palavras do mundo para te descrever, mas a única que fica mais próxima é "perfeição". E, se eu pudesse, dar-te-ia o poder de te veres através dos meus olhos, para que então percebesses tudo o que sinto e não consigo explicar. Para que percebesses que és a pessoa mais especial para mim. Se sentes o mesmo por mim, por favor, diz-me. Porque, se algo é para sempre, então que seja connosco juntos. Estarei à tua espera, no parque, junto a uma árvore.

Beijinho grande.

Lucas

Jéssica ainda não estava em si. Porque é que Lucas lhe deixou uma carta? Pior, como é que ele entrou no quarto?

- A janela... - murmurou Jéssica.

A janela estava entreaberta e, ao espreitar, apercebeu-se que seria relativamente fácil subir. Só podia ter sido por lá, visto que não é permitida a entrada de rapazes.

Ela não queria acreditar que Lucas tinha feito tudo aquilo por ela. O seu sentimento era mesmo forte. Para além disso, nem todos os rapazes seriam capazes de fazer o que ele fez. Mas, a atitude dele confundiu ainda mais os sentimentos dela. Tudo o que andava a ignorar estava a tornar-se demasiado óbvio. E, afinal, ele sentia exatamente o mesmo por ela.

Jéssica só tinha duas opções: ia ter com ele, admitia que o amava e enfrentava os seus medos de uma vez, ou ficava onde estava, não lhe dizia nada e continuava a viver no seu mundo, sem ter de se preocupar com o seu passado.



Será Jéssica capaz de resistir aos seus sentimentos? Ou entregar-se-á, finalmente, a um rapaz?

No Brilho do Teu Olhar (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora