Capítulo Trinta e Um: A Fúria Prateada das Arenas

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QUANDO A HORA finalmente chegou, separei-me de Dashaira, de Bokham e de Meon, e segui um guarda por um dos muitos corredores de teto baixo e úmido que, eu sabia, me levariam direto para um dos portões gradeados da Arena. Enquanto o seguia de perto, aproveitei a deixa e alcancei o frasco de vidro dado a mim por Zyora.

Deusas, protejam-me, supliquei antes de remover a tampa e entornar todo o líquido escuro e espesso que estava contido nele. Não me permiti registrar o sabor amargo nem mesmo o odor pungente. Engoli-o sem protestos e voltei a esconder o frasco vazio dentro do meu corselete. Bem a tempo de parar quando o guarda parou e puxou um molho de chaves para abrir o portão. A luz era cegante onde o corredor terminava. E ondas de calor intensas subiam das areias ebulientes.

É agora, Cadius, murmurei resignada ao meu oráculo, que também pediu por proteção à Bashir e à Meriath em resposta. Estávamos os dois tensos feito a corda esticada de um arco embora eu não soubesse se ele espelhava minhas emoções à flor da pele ou se a própria ansiedade dele fomentava a minha.

Por fim, o guarda abriu a grade e se colocou fora do meu caminho. Estava na hora. Segurei firme no meu escudo e desembainhei minha espada, atrelada às minhas costas. Respirei fundo, suor já escorria pela minha nuca, e fui em frente. Saí do corredor e pisei nas areias quentes da Arena.

A multidão me recebeu com uivos entusiasmados, gritando pelo meu nome. Mas então também gritavam por Dashaira, notei, que surgiu na Arena por outra entrada, à minha direita, a alguns metros. Ela também trazia espada e escudo consigo.

Apertei os olhos devido ao sol forte para distinguir as duas silhuetas que vinham ao nosso encontro, também sob os gritos da plateia. Contive o reflexo de erguer os olhos para o pódio, onde Sarghan certamente estaria confortavelmente abrigado do sol e do calor intenso. Daquela vez, a vitória não dependia apenas de mim. Tinha uma aliada com quem me preocupar.

Reunimo-nos os quatro no centro da Arena e foi só aí que a multidão faminta por violência pareceu se acalmar momentaneamente. Encarei Bokham depressa e então virei os olhos para Meon. A voz grave e retumbante de Telak soou, silenciando os últimos murmúrios dispersos:

— Enfim o primeiro dia dos combates em duplas chegou! Um dia glorioso que, assim como os seus antecessores, será lembrado pelas próximas gerações como um triunfo. Até mesmo os deuses nos honram nesse dia! — conclamou convicto. — Nysa e Dashaira de Théocras, Bokham de Thandruir, e Meon do reino de Éberus, vocês quatro já se provaram dignos ao chegar até aqui, agora é a hora de se provarem como os melhores dos melhores!

A multidão rugiu ensandecida em resposta ao seu discurso inflamado.

— Lutem por suas honras, por suas liberdades e por suas vidas! Lutem com tudo o que tiverem!

Meu coração acelerou. Lambi o suor que porejava meu lábio superior. Não ousei desviar os olhos de Meon nem por um segundo. Os brados da multidão pareceram-me cada vez mais distantes enquanto o calor nas arenas crescia a cada minuto.

Finalmente Telak ergueu e abaixou um braço:

— Comecem!

Ao invés de tomarmos distância e calcularmos friamente nosso primeiro movimento, nós quatro avançamos uns contra os outros numa confusão de golpes trocados, aparados e defendidos. O fogo no meu sangue falou mais alto quando Meon partiu para cima de mim, investindo com tudo o que tinha. Dashaira, à minha direita, usou seu escudo para aparar a lâmina pesada em forma de meia-lua da alabarda e em seguida foi obrigada a usar a espada para afastar a lança quando Bokham tentou estocá-la.

Nysa - A Campeã de AstherOnde histórias criam vida. Descubra agora