Capítulo Quarenta e Um: Conspiradora

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— PARABÉNS PELA VITÓRIA — ouvi alguém dizer-me à meia-voz.

Eu me virei e dei de cara com Dashaira em meio a uma névoa de fragrâncias adocicadas, tecidos coloridos e joias cintilantes que estavam penduradas nos pescoços e orelhas de todas as damas nobres que nos rodeavam.

Suspirei de alívio quando a reconheci. Ela estava apropriadamente vestida para a noite do último banquete celebrado no palácio real de Théocras antes do evento principal e derradeiro: o festim do campeão, o evento pelo qual todos aguardavam com ansiedade, assim como eu mesma aguardava.

— Estou aliviada por te ver — admiti com um sorriso.

— Achou que se tratasse de outro nobre afetado vindo te adular? — ela me pareceu insultada por eu ao menos haver considerado essa possibilidade.

Anuí e seu sorriso se aprofundou; Dashaira era linda. Não uma beleza óbvia ou mesmo delicada, seus traços eram todos muito bem realçados na pele cor de oliva. Mas naquela noite em especial, ela estava radiante com o cabelo belamente trançado e um vestido de seda acobreada luxuosa.

O sorriso desapareceu depressa do seu rosto, entretanto, e um vinco surgiu entre os seus olhos amendoados.

— E como está Ymira?

Dei de ombros.

— Vai viver, pelo menos é o que o médico da corte e sua recuperação milagrosa dizem.

Dashaira aquiesceu, passou-me a impressão de que estava satisfeita com o desfecho da história da afamada ladra de Éberus. Na verdade, eu havia visitado Ymira mais cedo, antes do início do banquete. Ela estava, de fato, melhor. Não menos ranzinza ou irritante por continuar presa a um leito, mas definitivamente mais... conformada. Não pensava nela como uma amiga, não pensava nela sequer como uma aliada. Tão estranhas as reviravoltas da vida e tão insondáveis os planos das deusas.

— Isso é bom. Senti que não era o destino dela cair naquelas arenas — Dashaira explicou-me com um dar de ombros que imitava o meu.

Seus olhos se entrecerraram a seguir, encarando-me de forma incisiva, perscrutadora.

— Mas certamente era o destino de Rhyz — completou com um timbre categórico.

O sangue dele manchara a minha espada. Eu sabia que não havia volta e para ser honesta não estava arrependida. Se fosse da vontade de minhas deusas que eu o houvesse poupado, então ele seria poupado. Não foi o caso. Bashir e Meriath entregaram-me a sua vida em minhas mãos e eu fiz dela o que melhor me agradou.

— Certamente era — concordei.

Quando um silêncio atípico se esgueirou entre nós duas, Dashaira se empertigou, ofereceu-me a mão num aperto cortês. Eu a aceitei, grata.

— Que a melhor de nós triunfe como a verdadeira campeã que nasceu para ser — murmurou com reverência e eu ecoei cada palavra, era uma promessa que fazíamos mais uma vez uma para a outra, um pacto.

— Independente de quem vença, não haverá ressentimentos — assegurei ainda apertando a sua mão.

Vi meu senhor Gorah atravessar o salão na minha direção e escolhi esse momento para soltar a mão de Dashaira. Entreolhamo-nos quando ele nos abordou com uma expressão que mal disfarçava o quão consternado a nossa aparente camaradagem uma para com a outra o punha.

— Dashaira, mas que prazer em te ver aqui... Com Nysa — ele comentou com um sutil franzir da testa.

— Eu a estava parabenizando pela última vitória — ela se justificou sem se deixar constranger e em seguida se despediu de nós dois: — Preciso ir agora. Até mais, Nysa.

Nysa - A Campeã de AstherOnde histórias criam vida. Descubra agora