Capítulo Quatorze: Segredos

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COMO AS PRÓXIMAS rodadas do Torneio não aconteceriam até a próxima semana, eu tive tempo ocioso demais nos próximos dias.

Mas, para a minha surpresa, três dias depois que o banquete foi oferecido aos primeiros dezesseis finalistas no palácio, eu me encontrei com o príncipe Sarghan pela segunda vez.

Estava deitada em minha cama, com Emera enroscada em meu corpo dormindo sobre o meu estômago e meus dedos correndo pelos cachos de seu cabelo escuro quando minha senhora irrompeu em completo desalinho no meu quarto. Sua aparência desgrenhada dava-lhe o ar de quem tivesse acabado de ver uma assombração e corrido a corrida mais importante de sua vida logo em seguida.

— Senhora? — chamei-a quando a vi, sem dizer uma única palavra, se ajoelhar sobre o baú aos pés de minha cama, abri-lo e começar a revirá-lo.

Sentei-me, movendo Emera de cima do meu corpo e acomodando-a sobre as almofadas. Abri a boca para chamá-la outra vez, mas um vestido foi atirado para mim antes que tivesse a chance. Peguei-o, aturdida.

Cadius, o que em nome das deusas está havendo?

Como se eu pudesse te responder essa pergunta, criança. Estreitei os olhos para ele de forma ameaçadora e deslizei para a beira do colchão. Minha senhora finalmente se pôs de pé, apontando um dedo para mim.

— Você. Vista isso. Agora.

— Senhora? Importa-se de dizer o que está acontecendo?

Ela agarrou os cachos sempre muito bem arrumados do cabelo e grunhiu, calando meus protestos com muita eficiência. Mesmo sem entender as circunstâncias que a levaram a agir de modo tão tempestivo, despi o vestido simples de linho que usava e vesti um muito mais sensual e chamativo, de musselina cinza-claro que se ajustava ao meu corpo com fendas que subiam pelas minhas pernas até o topo de minhas coxas e uma saia de renda branca por baixo. Era sem dúvida alguma menos recatado do que o vestido que usei há duas noites. Kara ainda me ajudou a fazer os últimos ajustes e desfez minha trança sem ao menos me consultar, penteando meu cabelo com os próprios dedos a seguir.

— Solte o cabelo dessa vez, seu cabelo é lindo demais para estar sempre preso.

Peguei-a pelos ombros, forçando-a a desacelerar pela primeira vez desde que entrara no quarto como uma tempestade. Ela me olhou boquiaberta.

— Senhora, o que está havendo?

— O príncipe Sarghan em pessoa está vindo aqui, é isso o que está acontecendo! E ele muito cortesmente lhe fez um convite para passear a cavalo com ele pela cidade — ela explodiu, agitando as mãos nervosas no ar em grandes gestos enfáticos.

Apontei para o vestido que eu vestia agora com um ar cético que a agitou novamente.

— Senhora, eu tenho certeza de que essa roupa não é a mais apropriada para usar quando se monta um cavalo.

— Detalhes, minha cara, meros detalhes! O que verdadeiramente importa é que você precisa estar linda para recebê-lo! Deslumbrante como uma dama! Não, melhor: como uma princesa!

— Mas não sou nem uma coisa nem outra, senhora — caçoei. — Sou uma escrava — lembrei-a, proferindo a última palavra entredentes sem pretender.

Minha senhora voltou a me silenciar com um olhar cortante.

— Não me contrarie, mocinha. E cale-se, tenho que terminar de lhe aprontar!

Mesmo contrafeita — e me segurando para não rir durante todo o tempo —, acatei a ordem enquanto suas mãos trabalhavam em meu cabelo e face. Suspirei e esperei que ela terminasse, o que aconteceu quando se convenceu de que não havia mais nada a fazer, resmungando sobre não ter tempo o suficiente para me preparar adequadamente para receber a realeza.

Nysa - A Campeã de AstherOnde histórias criam vida. Descubra agora