Capítulo Trinta e Três: Promessa de Vingança

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OS QUATRO SE ESTUDARAM por um tempo longo demais em minha opinião, descrevendo círculos na areia enquanto se rodeavam, decidindo quem atacaria quem.

Por fim, Ymira desembainhou suas adagas e partiu para cima de Zyora com tudo o que tinha; ela a repeliu, lutando de igual para igual ao desembainhar sua cimitarra enquanto Darien balançava seu machado imenso na direção de Rhyz, esse último evadia cada golpe com acrobacias impressionantes.

Tentei relaxar, mas não consegui. Cada golpe trocado entre Ymira e Zyora fazia algo reverberar dentro de mim, como se eu os sentisse ecoar nos meus próprios ossos. Suas lâminas cantavam uníssonas, compondo um clangor harmonioso que me assustava. Zyora era rápida e ágil, mas Ymira também.

A uma boa distância dali, Darien e Rhyz também digladiavam de igual para igual. E se Darien fazia uma verdadeira exibição de força bruta ao balançar seu machado de batalha sem cansar, Rhyz compensava tudo com sua velocidade, usando sua lança para aparar os golpes duros e brutos e evadindo aqueles que seriam impossíveis de se rechaçar.

A multidão uivava ensandecida frente ao espetáculo que era oferecido com promessas de sangue e morte. Minha pele estava coberta de arrepios devido à intensidade da luta. Sarghan deve ter percebido isso, pois sua mão voltou a deslizar no meu colo até poder apanhar a minha, enlaçando-a num aperto firme. Suspirei, agradecida pelo gesto, enquanto o combate lá embaixo na Arena ainda acontecia.

— Você me parece bastante afeiçoada à protegida de Lorde Darcenus — ele comentou com a voz aveludada soando ao pé do meu ouvido, por pouco não sendo abafada pelo clamor da multidão.

Aquiesci, inquieta, meus olhos corriam de dupla para dupla, não perdendo um único movimento.

— Pode se dizer que somos quase amigas — disse-lhe, surpreendendo-me com o quanto minha resposta havia soado sincera.

Zyora salvou a minha vida, ainda que tenha alegado motivações egoístas ao fazê-lo não me deixou agonizar num beco escuro e à mercê do veneno de Meon. Confidenciou-me o seu passado e as suas aflições. Confiou em mim quando eu não confiei. E mesmo assim veio até mim no dia anterior e assegurou minha vitória sobre Meon ao me dar seu elixir neutralizante. Sheviri dhan é como eles, o seu povo, a chamavam: a lâmina do deus Esrodath, a sua justiça.

Sarghan riu baixinho.

— Por essa eu devo admitir que não esperava.

Eu o encarei, maliciosa.

— Isso era para ser, supostamente, um dos meus segredos, Alteza.

— Então vou agir como se você jamais tivesse me dito — ele garantiu, aprumando-se na sua cadeira.

Um pouco mais relaxada pela conversa descontraída, voltei a prestar atenção na luta. E bem no momento em que Zyora atacou Ymira, movendo seus pés sobre a areia quente como numa dança e chocando lâmina contra lâmina. Seu golpe havia sido tão gracioso e preciso, que ela chegou a desestabilizar Ymira por um instante, essa cambaleou para trás com uma expressão metade selvagem metade excitada. Seu cabelo ruivo reluzia sob o sol como uma chama viva e sua pele estava úmida de suor.

Ela ergueu os olhos para o pódio de repente e fitou-me com um sorriso cruel. Enrijeci, apertando a mão de Sarghan com mais força do que o habitual sem pretender. Mas então o momento havia passado e ela baixou o rosto para sua adversária mais uma vez. Perscrutei sua face, indagando-me o que aquele olhar poderia ter significado.

Nós ainda não tínhamos tido a chance de nos confrontarmos, não desde que eu matei seu amante na última luta pelo menos. Eu não tinha dúvida de que Ymira não deixaria isso sem uma retaliação e antecipava o momento em que colidiríamos uma contra a outra. Depois do que Meon tinha me revelado antes de morrer... Eu não conseguia conciliar a imagem da mulher de sorriso frio e maneiras grosseiras com a de uma princesa exilada de sua nação e deposta do seu trono. Pelo que todos sabiam, a atual governante do reino de Éberus era a jovem rainha Gheylla. Nunca foi mencionada a existência de outra candidata ao trono eberusiano ou se houve ela se foi há muito tempo.

Nysa - A Campeã de AstherOnde histórias criam vida. Descubra agora