Capítulo III

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A aurora começa a aparecer no céu que antes dava lugar às estrelas de uma noite iluminada. Não consegui pegar no sono, estive analisando toda minha história, ou a pequena parte no passado em que ela realmente me pertenceu. Lembro-me do dia em que os guardas do Rei apareceram em minha porta, há oito anos, e me trouxeram para cá. Meus pais me falaram, duas noites antes, o que iria acontecer e como iria acontecer, contaram que isso precisava ser feito dessa forma, e a partir do momento em que eu atravessasse o rio que divide os vilarejos do castelo deveria me tornar outra pessoa. O rio levou o barco ao seu destino, mas levou para longe de mim meus sonhos, minha família, quem eu era. Eles nunca me disseram o motivo pela qual eu partira, apenas que eu deveria aceitar e nunca confiar em ninguém, o reino era novo para mim mas sabia que havia algo de errado no instante em que pus os pés neste lugar. Nos primeiros meses a dúvida me consumia pouco a pouco "porquê estou aqui?", parecia perdida entre as paredes do castelo, nas escadarias que não davam á lugar nenhum. Nada se encaixava. Eu não me encaixava. Os guardas me vigiavam a cada momento do dia, não quando eu conseguia fugir um pouco de toda essa atenção inconveniente e me aventurar pelos limites do castelo. Os pinheiros cobrem grande parte dos arredores, juntamente com pequenos arbustos e flores que colorem a paisagem, o rio é calmo e garante uma boa pescaria na maior parte do ano. Vejo através da janela os moinhos que trabalham há alguns quilômetros daqui, as pequenas casinhas que agora parecem menores do que me lembro. Começo a pensar o que estaria fazendo se estivesse lá agora, mas deixo esses pensamentos de lado quando alguém bate a porta. Quando abro, a criada está com um vestido enorme em tons de rosa e bege em uma mão e um pequeno sapato em outra. Ela não fala nada, os criados não devem. Após me vestir, sento na penteadeira e ela começa a fazer uma trança muito bem trabalhada em meus cabelos um pouco rebeldes à essa hora da manhã. Ao terminar retira-se do quarto rapidamente e faço o mesmo logo em seguida, descendo pelas escadas passo pelo salão principal e vou direto para a biblioteca, o único lugar em que posso ficar sozinha e em paz. Pego um livro já desgastado na prateleira e me dirijo à uma mesinha perto da janela central. Perco as horas lendo e quando enfim me dou conta estou atrasada, novamente.
-Uma futura princesa deveria ser mais pontual.- Avalon diz olhando para o relógio na parede e em seguida pondo seu olhar frio em mim. Bernard está ao seu lado concentrado em sua comida. Dou de ombros e sento-me duas cadeiras antes de Mason que parece ocupado demais lendo uma carta sobre a mesa, com o símbolo real de seu pai. Cada um dos sete reinos têm sua própria cor, isso demonstra sua soberania sob a hierarquia. O reino de Ravenearth possui a cor marron, representando seriedade e astúcia. Highground cor verde, saúde e natureza. Stronghold cor vermelha, força, ação e devoção. Suncastle cor amarela, otimismo e curiosidade. Laodicean cor cinza, neutralidade e estabilidade. Whiteland cor branca, pureza e paz. E
Northern Snow, cor preta, inteligência e mistério. Mason se retira do salão, com uma expressão indecifrável e com a carta ainda em mãos. Continuamos à comer, nenhum de nós troca uma única palavra.

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