Capítulo XII

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Horas depois, o balanço violento do barco me faz despertar, olho para o lado em busca de alguma luz. Não há janelas em meu quarto e a chama das lamparinas se apagaram. Depois de tropeçar nas malas ao lado, consigo abrir a porta. Preciso de ar, essas paredes estão me sufocando. Espero conseguir algum tempo sozinha, está cada vez mais difícil. Antes mesmo desse pensamento se dissipar, ouço uma das portas se abrir e Christopher passar adiante, fechando-a atrás de si. Que ótimo! o universo não me ouviu dizendo que queria ficar sozinha?

-Posso deixá-la, se preferir, Milady. -Sua voz é firme, mas pelo seu rosto acho que está à beira de uma crise de risos. -Droga, eu falei isso em voz alta? Estou enlouquecendo é isso. Eu não abri a boca um único segundo.
-Está certa, Milady. -Ele me analisa e em seguida se aproxima um pouco mais.
-O quê? -A única coisa que consigo dizer, aparentemente.
-Você não falou, está certa.
-O que você está fazendo? - um misto de medo e curiosidade se forma em meu rosto. - Ele suspira. -Vamos para um local mais seguro. -Ele diz estendendo a mão- Não penso muito, apenas seguro-a e seguimos andando.
Do alto da escada vejo o céu, que antes nublado, agora dá lugar a uma explosão de estrelas, nunca o vi tão magnífico. Chegamos à proa do barco e encostada na beirada observo ao longe Northern, que agora parece bem menor. Logo nossa falta será preenchida pelos guerreiros e em decorrência pelos Maclaurin. Tal pensamento invade minha mente, escurecendo-a, fito a água e penso que não seria uma ideia tão ruim se eu pulasse. Não tenho nada a perder, todos que amo foram afastados de mim e, possivelmente, estarão mortos ao fim desta batalha. Se a pior das hipóteses acontecer, voltarei para um reino em ruínas e cinzas. E me casarei com alguém que não amo. Não parece mesmo uma ideia ruim...
-Você não vai querer fazer isso. -O príncipe de cabelos negros diz tocando minha mão. - Puxo-a abruptamente e afasto-me.
-Procure pensar claramente, princesa, o que vou lhe contar não é fácil de aceitar. - Ele diz e eu apenas aceno. -Meu cérebro manda um comando automático ao meu corpo, minha atenção está longe dali.
-Há muito tempo, antes mesmo da União Norte, havia um pequeno vilarejo chamado Garsadian nas terras ao sul de Northern Snow. Lá habitavam os Wisdomus, antigos que detinham soberania sobre poderes desenvolvidos pela mente. Certa noite, seu vilarejo foi invadido e seus habitantes mortos pelo rei das terras baixas e seu exército que queriam explorar as suas riquezas.
-Se eles tinham tais poderes...
-Eles tinham, Milady.
-Supondo que esse vilarejo realmente existiu, e que eles tinham poderes, como foram vencidos?- Eu não estava interessada de fato, só queria saber aonde ele chegaria com isso.
-Apenas os sacerdotes tinham o controle dos dons. Na noite em que Garsadian foi invadida, eles não estavam lá para protegê-la. O rei das terras baixas instaurou seu reinado no vilarejo destruído, decretando a busca pelos sacerdotes. Uma vez que ele tivesse os dons a seu favor, nada mais seria impossível e sua soberania, inigualável.

O Som Da Meia-NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora