O Som Da Meia-Noite

Capítulo V

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As dúvidas sobre tudo neste reino parecem nunca ter fim para mim. minha mente está tão cheia delas que quase não consigo respirar. Do banco de onde estou sentada, entre algumas árvores perto da Beira do rio observo os barcos que transitam entre as terras reais e o vilarejo, estão carregados de mercadorias trazidas das plantações dos camponeses. Tento me distrair um pouco, não têm sido fácil. Quando de relance vejo um rapaz se aproximando à minha direita, não dou muita atenção e continuo à olhar o movimento no rio.
-Você não se parece muito com a rainha- Diz sentando-se ao meu lado- Tem certeza de que é filha de Avalon? Porque não quero que minha futura esposa seja uma princesa de araque- Seu riso descontraído preenche o lugar.
-Não é o primeiro que me pergunta isso- Digo fitando-o. Sua pele bronzeada contrasta bem com seus olhos verdes.- Como tem tanta certeza de que se casará comigo?- falo com uma expressão confusa e sorridente ao mesmo tempo.
-Ah, Milady, quem não irá querer um príncipe que tem a pele da cor das praias do norte e a cor do coral em seus olhos?!- ele diz balançando a cabeça, seus cabelos loiros e desgrenhados balançam junto- Ainda por cima com um bom humor. O que me diz?
-Uma pena que a escolha não é minha, porque você seria a primeira opção- Agora eu é quem está rindo.
-Não acredito que está brincando comigo desse jeito- ele diz com um tom cômico, reencostando-se no banco.- Já conheceu os outros?- ambos olhando para o fluxo de barcos.
-Não todos, apenas Thomas e Mason.
-Sua animação é contagiante.
-Não é isso que eu quero- começo- A União Norte está correndo sérios riscos, um casamento não parece ser a melhor saída neste momento. Parece mais uma distração desnecessária para nós- dou de ombros.
-Estamos sabendo.- ele diz levantando-se.
-Mas como se...- As noticias correm, principalmente as ruins- ele me interrompe.- Bem, tenho que ir agora, você tem que conhecer os outros príncipes, não é mesmo?- ele diz apotando com a cabeça para a casa real.- Ele sai andando com as mãos nos bolsos.
-Espere!- Digo- Você não me disse seu nome.
-Ah, é Nicholas, Nicholas Carter. Do reino stronghold, prazer- ele sorri e dá meia volta caminhando rumo à Casa Real. Passo o resto do dia experimentando vestidos para a cerimônia de casamento, cada dia parece passar mais rápido e sinto como se não conseguisse respirar com todos os preparativos que acontecem, as exigências e os criados correndo de lá para cá arrumando tudo o que há no castelo. Falta menos de um mês, mas ainda sim, todos parecem frenéticos. Fico pensando no que Thomas disse, não é nem um pouco agradável selar um matrimônio com um completo desconhecido, devo conhecer os outros príncipes, mesmo que eu não queira. Quando sou liberada de meus deveres, já no final da tarde, me encaminho para A Casa Real. Estou ainda um pouco longe quando paro e decido que aquela foi uma péssima ideia, não posso entrar, não sozinha. Sinto falta de meus guardas, o rei deve estar ocupado demais com a guerra iminente para se preocupar com as saídas solitárias da princesa pelos arredores de nossas terras. Enfim, aceito as circunstâncias. Passo pelo Salão de Inverno indo até uma grande árvore, que eu chamo carinhosamente de "chuva-de-ouro", sento-me reecostada em seu tronco que é bastante grosso e de um marron escuro, suas flores são douradas como o mais fino ouro, suas pétalas ficam penduradas de modo que lembram a chuva, mas nessa época do ano quase todas secaram e caíram, o que resta agora são galhos nus e as últimas pétalas esperando sua vez de vir ao chão. Nos primeiros meses da minha chegada ao castelo, sempre vinha até aqui para poder ficar um tempo comigo mesma, a vida no castelo quase sempre é conturbada. O sol vai descendo cada vez mais no céu que toma um tom alaranjado, fecho os olhos e permito que minha mente me leve para longe, ouço os pássaros cantando ao fundo e sinto o cheiro das folhas e flores que se acumulam no chão aguardando a chegada da nova e fria estação. Abro os olhos quando alguém se senta ao meu lado, o rapaz não parece ter menos que vinte e cinco anos, seu cabelo liso e acizentado dá um toque especial ao seu visual, suas roupas com cores claras combinam com sua pele parda. E lá vamos nós mais uma vez, foi a única coisa que consegui pensar.
-Ethan Hall, do reino laodicean- ele sorri e estende a mão- seu toque frio me tira de onde minha mente estava minutos atrás.
-Melinda Raiden, encantada- meus olhos passam rapidamente pelo seu rosto.
-O que está fazendo aqui sozinha?- ele diz fitando-me.
-Eu não sei, pensei em ir à Casa Real. Mas não posso entrar lá desacompanhada.
-O que queria fazer lá?
-Ainda não conheço os outros pretendentes.
-Entendo, mas não precisa apressar-se, lá dentro está uma loucura, todos procuram o melhor momento para se apresentar à vossa majestade.
-Milady está de bom tamanho para mim, se não se importa.- digo encostando a cabeça no tronco.
-Você não parece ansiosa ou pelo menos animada com a ideia de casamento.- ele diz confuso.
-Eles estão lutando pela coroa, não por mim. E você está certo, estou insatisfeita com essa nova perspectiva.- Brinco com algumas folhas no gramado- Isso não parece loucura para você? Não escolhemos nosso nome, nem onde queremos morar e muito menos escolhemos com quem vamos passar o resto de nossas vidas. Sempre submetidos à vontade dos outros, a vida que levamos mais se parece com uma fantasia inventada e treinada, não podemos sair, não podemos mudar. A única coisa que fazemos é seguir o que está no papel que nos deram.
-Você que tem alguma influência sobre a decisão do rei?
-Eu não sei.
-Então descubra, e ajude o príncipe que você acha que vai ajudar a União Norte, que vai fazer as coisas serem como devem ser.
-Temo que o poder se encaminhe para as mãos erradas.
-Não deixe que isso aconteça, agora que nossos reinos estão por um fio. Essa decisão será determinante para o futuro.