Capítulo VIII

47 14 25
                                    

-Está tudo bem?- Uma voz sai de detrás de uma das árvores. Após nossa discussão, Mason saiu me chamando de todos os nomes ruins possíveis. Ele fez um corte em meu braço, me apertou tanto que achei que fosse quebrá-lo. Ainda estava em transe quando esse moço de pele parda e cabelos cacheados e pretos chegou até mim. Olho-o de alto à baixo e me surpreendo com tanta calma e elegância que parece emanar dele.
-Estou sim, foi só..-faço uma pequena pausa olhando para a ferida que aquele canalha deixou em mim- Aquele idiota que me persegue.-digo exausta.
-Tenho certeza de que esse príncipe já está fora de sua lista de preferências.- ele dá um meio sorriso e se aproxima.
-Ele a machucou?- Pergunta analisando a mancha vermelha que se fez sob minha pele pálida.
-Nada demais, eu é quem o machuquei de verdade.
-Como?- Sua expressão é confusa, mas ele, curiosamente, não me pergunta a razão daquilo tudo.
-Atirei uma pedra em sua cabeça, ela fez um pequeno corte na testa.- Digo não muito satisfeita do que fiz. Ele parece não acreditar no que acabei de lhe contar, mesmo assim ele concorda e retira um lenço branco do bolso de sua calça.
-Deixe-me vê isto.- Ele envolve o lenço de seda na parte superior de meu braço.- Bem melhor.
-Agradecida, Sr...- Espero que ele me diga seu nome.
-Ian Ecsamus, do reino Whiteland.- Diz, fazendo uma pequena referência. Dá para notar de qual reino ele é sem precisar sequer de uma pergunta, sua aura de gentileza e paciência inundam o lugar.
-Espero que isso não volte a acontecer novamente, Milady. Senão, serei obrigado à mostrar um pouco de hostilidade ao meu concorrente.- Ambos rimos. Ian senta-se em umas das cadeiras do Deck. Apesar de sua postura inflexível, ele aparenta ter bom humor.
-Como é em Whiteland?- Apoio o rosto com uma das mãos e analiso o seu rosto que me parece um pouco menos sério agora.
-Perfeito demais, eu diria- Ele ri.- As pessoas são tão educadas e prestativas que chega a ser entediante. Não me entenda de maneira equivocada, essas são qualidades que prezo. Mas meu reino não possui qualquer espécie de aventura ou desafio, todos estão certos o tempo todo. Em geral, é um ótimo lugar para se viver. As plantações são ricas e a distribuição de renda é justa. Meu pai consegue administrar muito bem e em breve, meu irmão mais velho vai assumir o seu lugar.
-Você tem quantos irmãos?- Digo após alguns segundos.
-Três, duas mais novas e Caleb.- Lembro de Elisa e Tristan, e o quanto sinto a falta deles.

-Deve ser divertido, infelizmente a rainha não me deu esse privilégio.- Digo com olhar triste. Ou melhor, ela me tirou isso. Ian despede-se e se retira do Deck. Logo após, volto ao castelo, o frio começa a castigar. Andando pelo corredor, observo as grandes pinturas de reis e rainhas passados. Daqui há algum tempo eu vou estar nesta parede, a ideia me parece tão absurda quanto em qualquer outro dia que estive aqui. Eu sou uma grande farsa, como isso pode ser justo com os outros? Continuo a andar até o salão principal, que está vazio. Chego às escadas e começo a subir, minhas botas encharcadas com a neve derretida pesam à medida que levanto um pé atrás do outro. No quarto degrau, abaixando-me retiro as pequenas botas. Já no meu quarto, penso que preciso desesperadamente de um banho quente e ao tirar as camadas e mais camadas do vestido me encaminho ao quartinho do banho. Nos primeiros meses no castelo, Avalon disse-me que como eu chamava esse cômodo era grosseiro então a partir desse dia comecei a chamá-lo por tal nome. Entro vagarosamente na banheira e sento-me, encostando a cabeça na sua borda. O corte em meu braço começa a arder, o que não me permite ficar muito tempo submersa, levanto e enrolo-me na toalha vermelha suspensa no cabide de madeira. A ferida não está nada bem, coloco um tipo de pasta esverdeada feita de ervas e enrolo novamente com o lenço de seda dando um nó em baixo deixando firme.

O Som Da Meia-NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora