CAPÍTULO 1

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Ano: 2205

Rebecca, líder do clã do Sul, sempre acreditou que a paz entre os dois clãs poderia existir. Desde quando ela era apenas uma pequena criança que ia até a fronteira entre os dois clãs para ver pessoas se movimentando no clã do Norte através das frestas entre as pedras que formavam a enorme muralha construída para protegê-los dos possíveis ataques sulistas.

Mas ela conseguia pressentir que algo ruim estava para acontecer. Ela nunca, jamais, havia visto o líder do clã vizinho de perto. Apenas ouvia falar de sua tirania, mas gostava de acreditar que isso não passava de boatos.

O ex-governante do Norte havia morrido tragicamente de uma tosse seguida de hemorragia e nenhum remédio que o seu clã dele inventava era suficiente para parar aquilo. Muitas pessoas especularam que essa doença teria surgido de algum vírus que o clã do sul criou para afetar os nortistas, mas essa teoria era quebrada pelo próprio preconceito dos nascidos do norte: eles achavam que ninguém do clã do sul era inteligente o suficiente para criar nada.

Aliás, estou me precipitando, deixe-me explicar como tudo funciona por aqui:

O Clã do Sul é um clã composto por guerreiros. A maioria dos habitantes fala inglês, apesar da língua mais falada atualmente ser o português. São vingativos. Sem leis. Quem tem armas, tem poder. Porém, depois de anos, eles começaram a respeitar seus líderes e suas vontades se tornaram uma espécie de lei, mas, ao contrário de vários outros líderes, Rebecca não usa de seu poder para dar a volta por cima de ninguém. Ela se iguala a seu povo. E faz de tudo para que eles fiquem seguros e bem. Talvez por isso eles a respeitem tanto.

O Clã do Norte, por outro lado, é composto por médicos e cientistas, acreditam que as leis são a base de tudo e que sem elas a sociedade cairia. Seu líder, Ian, está mais para um governador. Ele sim, usa de seu poder para ter o que quer e, claro, garantir a segurança de sua filha recém-nascida e de sua esposa. Apesar de já ser casado e ter uma filha, Ian é um homem, digamos, festeiro. Ele ama sua esposa e jamais a trairia, mas ele não dispensa um drink de vez em quando – ou todo dia –, mas ele toma decisões importantes. Seu relacionamento com seu pai não era muito bom, alguns dizem que ele apanhava do antigo governador e que sua mãe foi assassinada pelo mesmo. Bom, nada vindo de nenhum clã é um fato certo, as vezes são só boatos sem fundamento, e acredito que nem o próprio Ian sabe a verdade concreta.

Os clãs viviam em paz desde que seus ancestrais estabeleceram as regras há quase 180 anos. Nenhum clã se comunica, exceto os líderes e só para resolver alguma coisa pendente. Ninguém poderia mudar de clã ou discordar publicamente dos princípios impostos por seu clã. Cada um poderia viver a sua vida separadamente, não havia uma comunidade em que todos trabalhavam juntos para construir um futuro melhor e reestabelecer a antiga civilização que existiu antes da guerra. Não. Esse sonho morreu junto com aqueles que viram a guerra acontecer. Agora o foco é a sobrevivência.

Bom, voltando a história, Rebecca foi convocada para uma reunião com o líder do clã do Norte. Como ela não poderia entrar no mesmo, ela ficou esperando na frente do imenso portão que protege os nortistas. Ha uma pequena estrada de terra que dividia os dois.

Rebecca não consegue parar de bater o seu pé no chão, está ansiosa e nervosa para saber sobre o que essa reunião se trata. Seus longos cabelos escuros estão presos em um rabo de cavalo mal feito, aliás, o seu penteado dizia muito sobre seu humor, cabelo preso significava que ela estava em um humor bom e cabelo solto, bom, geralmente ela lutava de cabelo solto, então você já deve imaginar. Ela nunca usava tranças.

Depois de quase uma hora de atraso – falei que Ian era irresponsável – o líder do clã do norte finalmente aparece.

Rebecca fica absolutamente sem fala ao ver aquele cara de olhos azuis e cabelo perfeitamente bagunçado. Não, ela não estava se apaixonando por ele ou algo assim, ela simplesmente o reconhece.

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