CAPÍTULO 12

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— Eu tenho certeza que existem outros sobreviventes.

Rebecca dizia, convicta do que estava falando.

— Rebecca, isso é impossível! ─ Ian, como sempre, discordava de tudo que a parceira dizia — Não é possível que haja outros sobreviventes além de nós. Todos morreram. Nós fomos os únicos que evoluímos e ficamos imunes à radiação.

— Isso não é possível! Como zumbis iriam implantar e lançar uma bomba?! Deixa de ser burro, Ian!

Ian poderia ter ficado com raiva da ofensa de Rebecca, mas ele começou a rir das expressões faciais dela ao exclamar aquilo. E rir era tão mais divertido.

— Do que você está rindo, seu louco?!

Ele respirou fundo e depois olhou para ela.

— Por favor. Eu?! Burro?! — ele forjou uma expressão de estar ofendido — Eu sou a mente mais inteligente da Terra depois da minha filha!

— Modéstia mandou lembrança. — Rebecca cruzou os braços, sem acreditar em quão convencido Ian conseguia ser.

— Não conheço ela. — Ele sorriu e ela também. No final, aquilo era divertido.


Luke estava andando totalmente perdido e falhando em descobrir onde estavam os cômodos daquele lugar. Ele estava totalmente claustrofóbico, nunca havia passado tanto tempo em um lugar fechado!

O garoto encontrou uma sala branca cheia de vidros, viu um líquido azul brilhante e foi ver o que era.

Meredith, sem querer, o encontrou. Ela estava indo até o laboratório testar novos remédios. Ainda bem que ela o encontrou. Se assustou ao ver ele indo tocar o vidro e quase gritou, mas se conteve.

— Não toque nisso. — ela disse. Seca.

O garoto olhou para ela, meio confuso.

— Por que não?

Ele perguntou, quase queria dizer "você não manda em mim" e pegar, mesmo com a ordem, mas na verdade estava com medo de que aquilo pudesse machucá-lo de alguma maneira.

— Isso é veneno... — ela revirou os olhos e colocou as vidrarias que estava segurando em uma bancada.

— Cruz credo! — ele dá um pulo para longe do vidro — Por que você tem veneno no seu laboratório?

— Você acha que veneno é uma coisa ruim?

Ela sorri ao lembrar que teve uma conversa parecida com essa quando estava aprendendo sobre o mundo da medicina.

— Claro que sim! — ele diz, com toda certeza. — Tudo que pode me fazer mal é ruim.

— É. Talvez nesse ponto você esteja certo. — Meredith tomava todo o cuidado para dizer exatamente tudo que seus tutores disseram — Mas se você ligar ele a outras coisas, pode obter coisas boas. Medicamentos, antídotos...

— Sério? — ele ficou surpreso. — Eu pensava que você plantava essas coisas e depois elas viravam essas cápsulas.

Luke apontava para os vidros de remédio que estavam em prateleiras.

Meredith se esforçou para não rir da explicação de Luke, respirou bem fundo, contou até dez.

— Existem medicamentos que são à base de plantas medicinais, mas não são todos...

— Ah.

Luke estava definitivamente desinteressado em saber disso. Afinal, se alguém estivesse morrendo na sua frente, sua primeira opção seria terminar de matá-lo e não inventar de salvá-lo. Morte é vida. Pelo menos na sua cultura.


Eloise andava pelo quarto em que estava dormindo. Ela observava todas aquelas coisas que Meredith guardava com todo carinho. Vários livros, raridades no mundo atual; quadros de pinturas provavelmente pintadas por ela; fotografias... muita coisa mesmo.

Até que ela viu algo muito bonito, brilhante, estava entre um livro e outro. Logo ela notou que se tratava de ouro puro. Todo esculpido. Eloise ficou curiosa e puxou o objeto, era um retrato. A imagem era de uma mulher loira, olhos azuis, seu rosto parecia esculpido por anjos. De relance, Eloise teve um breve flashback de anos atrás. Quando os clãs ainda estavam em guerra. Em 2104. Ela conseguia visualizar Ian, Meredith e Helena dentro de casa. Sendo a família perfeita que todos queriam ser. Naquele dia, a casa de Ian foi completamente destruída por chamas. Ian consegue levar a sua filha para fora e quando percebe que sua esposa não havia conseguido sair, corre até lá para saber o que aconteceu com ela. Tempos depois, sai com a loira nos braços. Ela estava dando seus últimos suspiros, até que morreu, nos braços de Ian e na frente de Meredith. Se foi por vingança, com certeza essa pessoa obteve êxito. Ninguém até hoje sabe quem colocou fogo na casa do líder. Mas todos têm seus palpites.

Eloise larga a foto no chão, com o choque dos flashbacks. Isso faz com que o fino vidro que protegia a foto seja quebrado.

— Droga! — ela cochicha para si.

Não e de seu feitio assumir responsabilidade por seus erros, então ela sai do quarto sem olhar para trás. Vai se perder em outro lugar.


Horas depois, Eloise volta para o quarto sem nem ao menos lembrar do quadro quebrado. Mas a imagem que vê a faz lembrar. Meredith estava chorando, com os pedaços que sobraram do adorno que enfeitava a foto de sua mãe.

A morena não era nem um pouco aberta a sentimentos, principalmente os sentimentos dos outros, mas ela era culpada pelo quadro. Então por um pequeno milésimo de segundo, na parte mais profunda de seu ser, ela se sentiu culpada. Sentou ao lado de Meredith e ficou a observando chorar.

— Alguém quebrou o quadro da minha mãe. — a loira diz entre soluços.

— Ah.

— Por que alguém faria tamanha maldade?

Eloise se perguntava se Meredith lembrava que ela não era totalmente fluente em português e não fazia a menor ideia do que queria dizer "tamanha", mas ela falou a melhor coisa que conseguia falar quando via alguém triste:

— Sei lá.

Meredith tentava olhar as intenções do fundo do coração de Eloise, mas dessa vez não conseguia. Era claro o que havia acontecido. O machucado no pé de Eloise causado por algum vidro, o relance de preocupação com a loira, a falta de palavras... Eloise tinha feito isso. Estava claro.

A médica não guardava rancor, nem um pouco. Mas aquilo era crueldade. Uma das poucas coisas que deixavam a lembrança de sua mãe viva estava agora destruída.

— Você é louca?! — Meredith não conseguiu controlar sua raiva — Você quebrou o quadro da minha mãe!

— O quê? — Eloise falou, surpresa com o rápido raciocínio de Meredith — Do que você tá falando, garota?! Eu não...

Antes que Eloise pudesse completar sua frase. Meredith deu um tapa na cara da morena. Um tão forte que deixou a marca de suas mãos desenhadas.

Eloise prometeu a si mesma que não ia se meter em confusão nesse período de união entre os clãs. Mas depois disso, decidiu quebrar a promessa.

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