Não me concentro na aula. Esse assunto 'Jenifer' está me tirando a paciência.
— Essa é fácil. Uma frase da obra Camões? — Professor Marcos, de literatura pergunta.
— "Amor é fogo que arde sem ver, ferida que dói é não se sente"... — Respondo.
Ele ri e me parabeniza. Agradeço, mas minha mente se mantém em outro lugar.
— Tá curiosa? — Madu pergunta.
— Madu, minha cara, olha bem. Eu tô me matando de curiosidade e você me pergunta?— Relaxa que daqui a pouco vocês conversam.
Segue-se mais algumas aulas, até que chega a hora do almoço. Sai apressadamente e encontro Heitor na porta. Ele cumprimenta Madu, que já sai a procura de Lucas.
— Vamos para o ginásio. — Fala e eu assinto o seguindo.
Sentamos numa arquibancada e ele suspira.
— Bom... O quê quer saber?
Cruzo os braços e me estico.
— Tudo. Quem é Jenifer? O que Ricardo tem haver com ela?
Heitor olha pra mim e posso notar seus olhos. Ele está prestes a chorar.
— Eu tinha uma irmã. Mais velha que eu. Ricardo foi o namorado dela durante anos. Eles pareciam ums casal feliz, mas Ricardo conheceu o lado das drogas, bebidas, apostas e dos abusos. Ele abusou da minha irmã, a espancou, e tirou dela o prazer de viver.
Eu escutava atentamente. Meu Deus, esse cara é um mostro.
— Um dia, antes de sair pro colégio, ela disse que ia ficar para ajudar minha mãe. Eu achei esquisito, por quê ela nunca faltava as aulas. Quando cheguei em casa, meus pais estavam aos prantos, e eu subi ao quarto da minha irmã. Eu vi Amanda, eu vi o corpo da minha irmã pendurado, com sangue em volta e uma carta na mão dela. Pra mim. Eu peguei a carta e li. Ela culpava Ricardo por tudo isso.
Nessa altura, Heitor estava chorando, deitado com a cabeça em meu colo, e eu massageando seu cabelo.
— Eu prometi que ia fazer ele pagar. De uma maneira digna. E não do jeito que ele acabou com a vida da minha irmã. De uma forma machista.
Heitor se levantou, enxugou as lágrimas e me olhou.
— Heitor... Eu... Me desculpa ser tão... Entrar nesse assunto...
— Não Amanda. Eu... Eu tirei um peso das costas. Desabafar me fez bem.
Eu sorri. Lhe ofereci meu sorriso sincero. Ele também sorriu e me abraçou.
— Não quero que confronte Ricardo. Por favor, fique longe dele.
— Okay. — Respondi e senti as mãos de Heitor em minha nuca.
Ainda estávamos abraçados, quando o horário do almoço acaba. Eu sentia por Heitor. Pela sua irmã. Pela sua família. Eu queria oferecer a Heitor um ombro amigo e por um segundo, queria ser mais do que isso para ele.
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Hello, Puberdade!
Teen FictionAmanda Silva anda pelos corredores de São Tomé de Castro observando tudo e todos. Reparou que muitos adolescentes estão passando por fases, mudanças de humor e descobrimento de coisas novas. A tão conhecida "Puberdade", é o terror para pré-adolesc...