Capítulo 17

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Graziela

― Eu preciso retomar minha vida!

Roberta abaixa o queixo e vira os olhos.

― Beta, eu estou falando sério! Antes de este homem aparecer a minha vida era totalmente diferente. Eu era focada no meu trabalho! Agora eu estou pagando minha língua, porque antes eu dizia que não paro minha vida por homem nenhum. E agora, olha eu aqui, há dois meses suspirando e esperando esse "boy" voltar ao Brasil!

Roberta balançou a cabeça e sorriu.

― Prima, aproveite essa fase. Pois em algum momento você se pega tendo que se lembrar de tirar a carne do congelador para o jantar e verificando se o lenço umedecido da benção ― ela aponta para o Gael que dorme no carrinho ― acabou.

Olho para Roberta. Minha prima que sempre foi tão doce e vaidosa está com a raiz do cabelo reluzente e com olheiras profundas. Suspiro e desisto de arremessar meus problemas banais em cima dela. Afinal é tão raro termos esses encontros... Sentar em uma cafeteria e estar juntas nem se for por uma hora que for é tão prazeroso e nostálgico, que sim eu desisto e mudo de assunto. Falo dos programas de "TV", falo da novela, do trânsito, e o papo fluiu sobre qualquer banalidade, até ela olhar em seu relógio de pulso e acelerar a despedida.

― Tenho que ir. Daqui a pouco Júlio está chegando do trabalho.

Respiro fundo e abraço forte.

― Vamos repetir mais vezes. ― digo olhando em seus amendoados olhos.

― Claro!

Sei que a resposta entusiasmada da Beta não é muito real. Todos nós ― família ― sabemos que a presença de Roberta só é confirmada com a "autorização" do seu marido.

É cada respirada funda que temos que dar nesta vida...

Faço questão de pagar a conta do nosso café da tarde e acompanho Beta até o carro para ajuda-la a colocar o Gael no carro.

Quando ela se acomoda no veículo puxando seu cinto de segurança e acena para mim, eu a observo sair com o carro com cautela e sumir na primeira esquina.

Quando giro para seguir na direção onde meu carro está estacionado, vejo Dona Janice, parada a me olhar. Obvio que não seria nenhuma perseguição e sim uma tênue coincidência encontra-la, afinal estou no bairro onde ela e minha avó residiram por mais de trinta anos.

― Como vai dona Janice?

Como educada que sou a cumprimento.

― Vou bem minha filha, e você?

― Seguimos bem.

Estranho ter que responder que você está bem quando seu peito se assemelha a uma ferida que teima em não cicatrizar.

― Sabe minha filha, eu rezei muito e sabia que este momento ia chegar.

Dona Janice estava com olhos marejados e eu não entendi porque.

― A senhora está bem?

― Sim estou.

― Então que momento é esse que a senhora está falando?

Dona Janice abriu sua bolsa, e tirou uma chave. Daquelas chaves bem antigas, que em sua ponta a ferragem retorcida se assemelha a um coração.

― Eu estou com essa chave há mais de cinco anos. Guardada a pedido da sua avó. ― meu coração disparou ― Minha amiga Eleonora sempre foi muito espirituosa ― Dona Janice soltou um sorriso em meio a sua emoção ― e disse que antes de ficar ruim da cabeça ou morrer, queria deixar tudo preparado.

Entre Risos e Lágrimas(EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora