🌼Capítulo 1🌼

622 33 7
                                    

— Esse trinunal condena o réu a: 10 anos de detenção em regime fechado, sem direito a pagamento de fiança, pelo crime de pedofilia. — se a partir deste momento a Juíza Elaine disse algo a mais, eu não me importei em ouvir. Pois nesse instante o chão ao meu redor se partiu me puxando para a escuridão.

Aquele homem é o amor da minha vida. E eu o coloquei nessa. Ele foi uma vítima da minha mentira.

Lágrimas escorrem por meu rosto, e o arrependimento chega a ser quase palpável.
A expressão fria e satisfeita das pessoas a quem eu chamo de pai e mãe me causam náuseas.

Mas sabendo apenas essa parte da história, nada disso faz sentido. E, para que entendam os motivos que nos trazem a este tribunal, precisaremos voltar no tempo. A partir deste momento, sejam bem vindos à minha vida.

Tudo começou no final do outono do ano passado.
As folhas amarronzadas ainda cobriam o chão ao redor da viçosa árvore da pequena praça de Edinópolis, uma cidade com pouco mais de 16 mil habitantes do interior de São Paulo. E, essas folhas, acariciavam meus pés do lado de fora do tapete ao qual eu estava sentada. Os primeiros traços do inverno já vigoravam, o que tornava meu casaco de linho impróprio para este momento.

— Está parecendo uma verdadeira criança, Enrico. — um homem alto e de cabelos castanhos extremamente desgrenhados se aproximava da grande árvore e, consequentemente, de mim, ao lado de um homem minimamente mais baixo, com sua cabeça coberta por fios louros perfeitamente penteados. — Têm 26 anos e ainda assim cria ideias estúpidas e infantis como esta.

— Idade é apenas um número, meu irmão. Escalar o velho carvalho não tem nada haver com números. — o louro pronuncia e bate na testa como se estivesse dizendo o óbvio ao mais alto, e eles param à minha frente.

Eu já estava a os encarar, como já devem ter percebido, e ao me notar o mais louro deu um sorriso de lado, arriscando mais um passo em minha direção, praticamente pisando em mim com seu tênis caro.
Ele se abaixou até atingir minha altura, quase caindo no meio do processo. Mas isso não se devia apenas à inclinação no relevo, e soube disso quando seu hálito bateu contra meu rosto: cheirava a álcool puro.

— Princesa... — ronronou tocando meu queixo — Poderia se levantar e deixar que eu fizesse o meu trabalho? — perguntou suavemente ainda sorrindo e, à medida que ele falava, seu hálito me intoxicava mais e mais.

Decidi nem sequer discutir sobre nada, seguindo o conselho que minha mãe sempre me deu: não discuta com bêbados; você sempre vai sair perdendo moralmente, verbalmente ou até mesmo fisicamente.
Tirei com cuidado a sua mão que repousava em meu queixo e me levantei.
Andei para fora do chão forrado de folhas marrons parando ao lado do homem de cabelo castanho.

— Veja e aprenda, como é ser um homem de verdade, querido irmão. — o louro, a quem o mais alto chamara de Enrico, lançou e seguiu em direção à enorme árvore.

No primeiro movimento que fez para subir, Enrico derrapou e quase voltou ao chão com tudo.

— Ele vai cair feio. —  murmurei mais para mim mesma, mas o homem ao meu lado me escutou, e enfiou suas mãos nos bolsos da calça jeans preta.

— Vai. E isso é bom. Talvez quando quebrar o pescoço o Enrico aprenda a não ficar bêbado em plenas 5 horas da tarde. — ele murmura e eu ergo meus olhos à ele.

O Direito De AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora