Meus olhos ardem. Minha cabeça dói e lateja como nunca antes. Não tenho noção de a quanto tempo a minha mãe saiu do quarto, não tenho a mínima ideia de a quanto tempo estou chorando. Apenas sei, pela janela que me mostra a cidade do lado de fora da casa, que já está escuro.
Ouço a porta ser destrancada e Wanessa entra por ela, e parece tomar um choque quando me vê encolhida ao lado da porta, mas logo passa.
Ela caminha até a mesa perto da minha cama, e deposita lá o meu jantar. Sua expressão parecia enrijecida, mas seus olhos eram tristes.
Algo dentro de mim dizia que aquela era a minha última oportunidade, e eu sabia que isso era verdade: só Wanessa podia me ajudar agora.— Por favor. — minha voz saía como um sussurro ruidoso.
Wanessa se virou rapidamente, mas voltou a olhar para frente como se não quisesse me escutar, mas eu falo mesmo assim porque sei que ela me ouve.
— Você é a única pessoa que pode me ajudar agora, Wanessa. A única que pode me tirar daqui. A única. — tento transformar aquilo que chamo de voz em algo mais concreto, mas vacilo mesmo assim.
— Não sei do que você está falando, Liese. — ela murmura sem me encarar e faz menção de sair do quarto, então me apresso mais ainda.
— Você já deve saber que eu estou grávida. — ela suspira, ela sabe — Os meus pais querem que eu aborte, Wanessa. Que eu aborte o bebê que está crescendo no meu ventre.
Wanessa se detém, mas não diz nada, parece em estado de choque. Mas, mais uma vez, ela faz menção de se retirar e, mesmo com custo e um pouco tonta, consigo me levantar do chão e me colocar em frente à porta.
— Eu não posso abortar essa criança. Você não tem filhos, talvez não me entenda, Wanessa, mas pense em como você se sentiria se tentassem destruir um ser ao qual você mesma está dando vida. — ela parece se abalar mais ainda, mas não dá o braço à trocer. — Isso não é por mim ou por Jasper, isso é pelo meu filho ou filha. É para salvar uma vida, a vida de um inocente.
Wanessa passa por mim tão rápido e repentinamente que não consigo barrar sua passagem dessa vez: ela sai do quarto como um furacão, que acabou de destroçar a minha última esperança.
Assim que ouço a porta ser trancada, me deixo inundar mais uma vez.
Isso não pode estar acontecendo, simplesmente não pode. E Wanessa não pode estar contribuindo com isso, não ela.Dessa vez tenho a capacidade de chegar até a cama, e me jogo nela como se ela fosse o meu último porto seguro, todavia, eu sei que não é assim.
Mais uma vez, as horas se passam enquanto me derramo em lágrimas.
Me esforço para comer, pelo ser que está crescendo aqui dentro. E, embora seja difícil, consigo comer ao menos uma parte do conteúdo do prato. A comida desce rasgando pela minha garganta. Bebo um gole da água, mas não demora para que as lágrimas voltem aos meus olhos, abundantes, e choro até adormecer.
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A claridade da janela que dormiu aberta maltrata meus olhos, e me faz custar a conseguir abri-los por completo.
Ainda estou deitada, na mesma posição do dia anterior, abraçada ao lençol da minha cama.Um bombardeio das lembranças mais recentes invadem minha cabeça, e meus olhos ardendo não me ajudam muito a esquecer disso.
Minha mãe disse que hoje o médico viria para tirar meu filho de mim. É difícil acreditar no que ela falou, mas eu sei que eles agora são capazes de tudo.O tempo que dormi não adiantou em nada: eu me sinto ainda mais cansada e detonada do que ontem. Mas não é só meu corpo que dói, mas a minha consciência também.
Me sento na cama e coloco minha cabeça entre minhas mãos, e pela primeira vez penso nisto tudo como um erro, o pior de todos eles, porém, a porta do quarto logo é aberta.
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O Direito De Amar
Short StoryAnneliese cresceu ouvindo histórias de amores impossíveis. Até mesmo a de seus próprios pais. Mas ela nunca acreditou que a sua história de amor também seria assim. E quem dera não tivesse sido... Agora Liese está em um tribunal, ouvindo uma senten...