Algo dentro do meu peito esquerdo ardia como se estivesse em chamas, e essas chamas se derretiam e queimavam meu rosto enquanto caíam de meus olhos.
Minha mãe mantinha sua expressão fria enquanto eu observava seu reflexo penteando meu cabelo através do espelho da penteadeira. Aliás, aquela era a única expressão presente em seu rosto ao longo do mês que havia transcorrido.
Minha roupa era preta, como se eu estivesse indo para um velório. Todavia, a melancolia dentro de mim realmente se assemelhava à da perda de um ente querido.
Já fazia um mês que eu não via Jasper. Meu corpo sentia falta dele e, poderia ser apenas paranóia minha, mas eu realmente achava que minha barriga já está mais saliente.
Não sabia (e ainda não sei) de quantas semanas estava, porque estava tendo relações com Jasper frequentemente. Mas, acredito que eu estivesse (e estou) com mais ou menos 3 meses de gravidez. A cada dia amo mais esse ser, porque ele(a) é fruto de um amor de verdade, mas a cada dia me sinto pior por colocá-lo no mundo sabendo que ele(a) irá sofrer. Mas não é como se eu fosse aceitar abortá-lo, JAMAIS! Isso nem sequer passou pela minha cabeça, mas me culpo por não ter me prevenido, sabendo exatamente quais consequências isto poderia ter.
Entrei no banco de trás do carro de meu pai, e ele dirigiu pelas ruas de Edinópolis à caminho do tribunal no qual Jasper será julgado.
Finalmente chegamos ao local, ainda sem trocar uma palavra. A dor dilacerante em meu peito crescia conforme eu corria meus olhos pelo tribunal, assim como todos olhavam para mim.
Enrico e uma mulher que eu não conhecia estavam sentados de mãos dadas em um dos bancos, eles estavam ao lado de um casal, que eu acabei por deduzir ser os pais de Jasper e Enrico.
E do outro lado... Estavam Camille e Peter.
Nas cadeiras da frente, estavam dois homens que eu não conhecia e Jasper, e o meu coração quase parou de bater.
Quando ele percebeu que todos estavam olhando para trás, Jasper se virou também. Sua barba estava bem maior do que o de costume e seus olhos azuis haviam perdido todo o calor. Agora eles transmitiam dor e... Arrependimento. E isso fez com que o queimo em meu peito se intensificasse. Se eu pudesse apagar algo da minha memória, eu com certeza apagaria aquele olhar. Não era como o olhar que ele me lançou quando a polícia o levou, porque naquele momento ele estava mais surpreso e confuso do que tudo. Esse olhar era nil vezes pior. Eu até poderia lidar com a decepção dele, mas não com o arrependimento dele quanto ao que tivemos. Desviei meu olhar dele e me propus a apenas seguir meus pais.
— O que está fazendo aqui? — murmurei para Camille quando meus pais se propuseram a se sentar justamente ao lado dela.
— Sou sua melhor amiga, uma das pessoas que mais convive com você; é lógico que eles iriam me chamar para depôr. — ela diz passiva, mas fria ao mesmo tempo.
A juíza é anunciada e entra no recinto. O julgamento se inicia.
Os primeiros que foram ouvidos: meus pais. Eles não disseram nada além do que já tinham dito para mim no dia em que me contaram como sabiam sobre mim e Jasper, e cada palavra fazia minha boca amargar como mil diabos.
Logo após, a menina que estava de mãos dadas com Enrico. Seu nome: Katrina Ávila. A irmã adotiva de Jasper e Enrico.— A senhorita estava aqui no período em que Jasper e Anneliese estavam, abre aspas, se relacionando, fecha aspas? — o homem de terno, ao qual reconheci como o advogado de acusação perguntou à Katrina.
— Não. Eu estava em Barcelona, onde moro com meus pais atualmente. — ela responde tentando parecer firme por fora, mas sei que por dentro ela está tão desesperada quanto eu.
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O Direito De Amar
Short StoryAnneliese cresceu ouvindo histórias de amores impossíveis. Até mesmo a de seus próprios pais. Mas ela nunca acreditou que a sua história de amor também seria assim. E quem dera não tivesse sido... Agora Liese está em um tribunal, ouvindo uma senten...