A Floresta - Parte 2

704 31 10
                                    

A cada passo que dava, minha agunia e meu medo aumentavam, não sabia o que esperar. Conseguia pressentir que algo terrível aconteceria comigo, e não ia demorar muito.

Ainda não entendo o porque de estar sonhando com isso. Continuei vagando por aquele lugar sinistro, escuro, escutando apenas as minhas passadas na terra. Mais uma vez resolvi virar o foco de luz da lanterna para os lados, procurando por uma vida ou algo que me ajudasse a sair daquele inferno, e mais uma vez, estava apenas eu, perdido naquele lugar.

Eu não fazia ideia de quanto tempo estava ali. De repente, fui me aproximando de um outro carro. Por que será quem tem carros aqui? O que pode ter acontecido aos donos dos veículos? Em busca de mais uma pista, fui olhando atentamente para o todas as partes. Portas, vidros, janelas e até mesmo as rodas. Fui investigando tudo que estava a minha frente, quando encontrei mais uma página. Ela estava na parte traseira da caminhonete abandonada. Não conseguia entender. “Me deixe em paz.” O que aquilo queria dizer? Nada fazia sentido.

A primeira página que encontrei dizia “Ajude-me.” Enquanto olhava para aquele papel sem entender nada, passei a ficar nervoso, a vontade de sair dali aumentava. Minha respiração começou a acelerar. Não tinha percebido, mas já estava tremendo. “Cadê a saída? Vou tentar encontrar as grades!”

Resolvi tomar coragem e sair da estrada de terra. Estava sentindo que ao andar por ali estava sendo observado, do jeitinho que ele queria. Estava muito fácil. "Se isso é um jogo, vamos jogar.” – falei baixo olhando ao redor e para o topos das árvores. Ali era tudo estranho.

Pensei rapidamente no que fazer. "Sei que não há muito que possa fazer, mas posso complicar as coisas para ele. Se aquilo pensa que vou seguir o caminho que ele quer, está muito enganado. Vou sair daqui, nem que seja a última coisa que eu faça."

 Depois de alguns minutos tomando coragem, respirei fundo e olhei para a floresta a minha volta. “Vamos ver se consegue me achar agora, tão facilmente.” Escolhi uma direção, apressei meus passos e fui para às árvores e a escuridão. Não sei porque, mas passou uma onde de confiança em mim que não sei da onde veio, mas era bom aproveitar a sensação, antes que fosse embora. Tinha consciência de que era um sonho. Esperava que realmente fosse. Fundo, dentro de mim, eu me apavorava ao pensar que não fosse. Por isso, mesmo sem saber, a vontade e o objetivo era sair vivo daquele lugar amaldiçoado.

Ao passar pelas árvores, tudo mudou. Assim que pus os pés ali, me arrependi amargamente da minha escolha. Como estava com muito medo, fui andando lentamente, tentando não fazer barulho, me fazer passar despercebido. Mas àquela altura a floresta sabia que eu estav ali. Os sons da natureza se intensificaram. Agora podia ouvir os grilos e bater de asas, mesmo olhando para a copa das ásvores e não vendo nenhum pássaro.

A medida que ia avançando, as batidas do meu coração acelerava. Será que haveria mais alguma página por ali? Temi o que poderia encotrar. Com passos firmes fui andando para frente, quando senti algo se movendo atrás de mim! Instintivamente me virei e apontei a lanterna para para o meio dos troncos, nada. Devia ter sido algum bicho. Minha vontade era de desistir. Sentar ali no chão, esconder minha cabeça entre as pernas e me entregar. Mas a ideia de como seria meu fim, me fazia seguir em frente. Não queria sofrer.

Depois desse ocorrido, apurei meus ouvidos e fiquei mais atento. Acelerei o passo, que toda hora, devido ao medo, diminuia. Ouvi mais um barulho estranho. Dessa vez como se jogassem pedras, ou algo pesado no chão, um pouco mais a minha frente. Mesmo temendo, a curiosidade tomou meu corpo e fui em direção ao barulho. De fato havia alguma coisa ali. Um corvo. Morto e já em estado de putrefação. Que cheio horroroso. Logo veio a vontade de vomitar, mas segurei. Olhei mais atentamente e percebi que aquele corvo era diferente. Parecia maior. Respidei fundo, prendi a respiração, cheguei um pouco mais perto e continuei observando. Não sei no que estava pensando, mas tinha certeza de que ele levantaria e voltaria a vida, quando uma revoada de corvos surgiu do nada e me atacou. As bicadas feriam meus braços, que tentanvam proteger meu rosto. Segurei firme a lanterna na minha mão. Não pudia perdê-la de forma alguma. Era a única arma que eu tinha. Saí correndo em qualquer direção, sem enxergar o caminho, só sentindo a dor e os fachos de sangue escorrendo pelo meu braço. E aquele fedor de bicho podre ao meu redor. Eles me atacavam com raiva. Eram muitos. Não via, mas sentia. Era uma bater de asas infinito no meu corpo. Fui correndo e batendo meus ombros, braços, costas, cabeça, tudo contra as árvores até que senti que saí da floresta. Tropecei em meus próprios pés, a lanterna voou da minha mão e logo tomei a posição fetal, tentando defender meu corpo daquele ataque insano e vil. Não pude perceber na hora, o pânico tomou todo o meu seu, mas depois de alguns minutos percebi que não havia mais nenhum corvo podre me atacando. Lentamente fui saindo daquela posição e vendo que estava novamente na estrada de terra, próximo a uma túnel antigo.

Estava tão tenso, que quando estiquei meu corpo, ele todo doía. Permaneci alguns minutos no chão, olhando bem para os meus braços. Estavam todos cortados, furados e ensanguentados. Eles ardiam muito. Certas partes estavam roxas, pelas batidas com força nos troncos das árvores. Será que tinha fraturado algum osso? Sem contar a enorme dor de cabeça, que começava a perturbar. Quis chorar, estava desesperado. Passei as mãos pelo meus cabelos e pensei no que eu tinha feito para que tudo aquilo estivesse acontecendo? Se era um sonho, porque meu corpo doía tanto. Sempre soube que nunca sentíamos dor nos sonhos. O que era aquilo, aquele lugar?

Depois de tentar entender e não chegar a nenhuma conclusão. Resolvi seguir caminho. A esperança já quase se esvaia de mim. Mas mesmo assim, me pus de pé e me voltei para o túnel. Minha lanterna estava jogada um pouco longe de mim. Caminei até lá, a peguei e iluminei meu caminho. Não acredito que tinha voltado à estrada de terra. Todas as dúvidas e falças esperanças foram embora naquele momento. Não havia para onde fugir e muito menos como enganá-lo. Ele me via em todos os lugares e exigia que continuasse pela estrada. Como pude ser tão estúpido? Eu quis mesmo competir com Ele, e perdi.

Sem muitas forças fui andando na direção do  túnel. Da onde eu estava, tinha a impressão de não ser muito comprido. Enquando andava, decidi não mais olhar para trás. Era mais seguro, se é que se podia chamar de seguro. De agora em diante andarei para frente, olharei apenas para frente. Só.

A medida que ia me aproximando percebi minha lanterna começar a enfraquecer. Sua pilha deveria estar acabando. “Droga! Não tinha pior hora para isso acontecer! Deve ter sido na hora em que deixei ela cair no chão.” – falei baixo. Tentei desatarrachá-la, para tentar trocar a posição das pilhas, vai que dá certo, mas não consegui abrí-la. Parecia que era uma peça única, sem encaixes. Abandonei a ideia de tentar abrí-la e me contentei com ela fraca daquele jeito.

Fui chegando cada vez mais perto da entrada e a lanterna ficando cada vez mais fraca. Direcionei o pequeno faixo de luz para o final do túnel e entrei. Não consegui enxergar quase nada a minha frente. Procurei por mais páginas, mas ainda não tinha encontrado nada. Cheguei ao final dele e nada mesmo. Ainda tinha esperanças que pudesse haver alguma pista por ali, mas não tinha. Ouvi passos lentos atrás de mim. O túnel realmente não era comprido. Tive vontade de me virar e olhar o que vinha atrás de mi. Essa curiosidade terrível crescia a cada segundo. Sabia que não poderia fazer isso. Me arrependeria com certeza.

Comecei a tremer e não consegui mais dar nenhum passo adiante. Segurando as emoções, decidi ver o que estava a minha espreita. Coração quase pulando pela boca. Fui virando lentamente para o início do túnel até estar olhando diretamente para a entrada. Quando a minha lanterna focou a frente, ele estava lá. Parado e olhando para mim. O mesmo homem das fotos e dos meus pesadelos. Alto, de terno e sem rosto. Assim que meus olhos bateram nele, um som ensurdecedor de estática e “microfonia” invadiu meu cérebro e comecei a gritar desesperadamente. Involuntariamente larguei a lanterna coloquei as mãos nos ouvidos, tentando não ouvir aquele som sobrenatural, e encolhi meu corpo até me ajoelhar no chão. Era tão alto que sentia meu corpo todo gelar, sem contar um arrepio forte, como um choque, tomava conta. Eu gritava e chorava tanto, que comecei a babar. Até que o som foi diminuindo e eu fui perdendo os sentidos até desmaiar.

Continua

O homem Sem FaceOnde histórias criam vida. Descubra agora