A Verdade Nas Fotos

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A chuva estava cada vez mais forte. Mesmo sem querer eu acabava olhando pela janela, porém muito rapidamente. Temia encontrar sua figura dentre às árvores. Que cidade infeliz que em todos os lugares existiam árvores e mais árvores! Ficava atento a todos os barulhos. Externos e internos. Vez ou outra batia na porta algum dos outros moradores para saber se eu estava vivo. Não que se importassem comigo, mas pelo fato de querer o meu quarto para outros fins, apenas para fazerem coisas desagradáveis. Apenas respondia "vai embora!", para que não fosse mais perturbado.

Tomei coragem e levantei da cama. Fechei a persiana, que era de PVC, e estava toda estragada, amassada, mas dava para o gasto. Ela conseguia me fazer esquecer de alguns segundos olhar lá para fora. 

Fui até a mesinha que estava cheia de pacotes de biscoito, papéis amassados, marca de canecas de café entre outras coisas que eu mesmo não conseguia identificar. Olhei diretamente para o quadro de cortiça onde prendi todas as minhas fotos de meses atrás, me mostrando como tudo aconteceu, de forma cronológica.

Nas primeiras fotos estou eu feliz com meus amigos. Gostávamos muito de sair juntos, afinal era uma amizade de longa data. Íamos sempre para o parque perto de nossas casas. Cansamos de fazer lanches ali, andar de bicicleta e até mesmo estudar. Nas próximas fotografias, estou eu com eles, em outro dia, um pouco mais falhado, como se a câmera estivesse desfocada, o que era impossível, pois minha máquina era novinha e não tinha essa função. Troquei as lentes, achando que esse era o problema. Mas não era. E aí começaram as fotos estranhas, que de um tempo para cá, passaram de estranhas a bizarras.

Nas fotos eu comecei a reparar uma sombra preta. As primeiras vezes ignorei completamente. Outra coisa que reparei foi que eram sempre nas fotos em que eu estava no parque junto com meus amigos. Esse porque era muito bonito, cheio de verde e muitas árvores. Primeiro pensei, mais uma vez, ser minha câmera. Mas isso não era possível. Mostrei aos meus amigos e eles também achavam que era a câmera. Deixei o assunto de lado. Resolvi trocar de máquina fotográfica.

Mas de nada adiantou. A partir daí comecei a ir sozinho para o parque, sem que ninguém soubesse, perto do pôr do sol, onde não tinha quase ninguém e comecei a bater fotos e mais fotos. De vários ângulos, de várias partes diferentes do local. E elas me revelaram a verdade. Havia realmente alguém atrás de mim. Parecia uma pessoa, mas não conseguia identificar quem era, seu rosto ficava muito desfocado, como se nem o tivesse. Seria um dos meus amigos que sabia das fotos com as manchas pretas e estava querendo fazer uma brincadeira comigo?

Quanto mais fotos eu tirava, mais nítido aquilo aparecia. Eu não sabia mais se era uma pessoa ou não, porque agora, nas fotos, o tamanho da coisa era diferente. Em uma das fotos ele tinha estatura normal de um homem como outro qualquer, porém em outras, ele ficava do tamanho das árvores, quase se igualando a elas. Impossível uma pessoa se transfigurar dessa maneira. O que seria aquilo? Um alienígena? Não conseguia acreditar nisso. Era demais para a minha cabeça.

Agora eu sentia que estava sendo perseguido em todos os lugares. Não contei aos meus amigos. Não iriam acreditar. Pensariam que estava modificando as fotos para assustá-los. Guardei aquele segredo só para mim e isso está me matando.

Soquei o quadro, algumas fotos caíram e machuquei a minha mão. Não aguentava mais aquele desespero. Comecei a chorar e a rir como se fosse um louco, um psicótico.  Não tinha mais o que fazer parado ali em frente, remoendo tudo o que aconteceu comigo até agora e fugindo, ainda não sei do quê.

Voltei para cama e encarei o teto lembrando no que me transformei após tudo isso. Se me lembro bem, e não tinha mesmo como esquecer, tudo piorou com os pesadelos. Isso mesmo. Foram os pesadelos que me fizeram sair de casa, sumir sem avisar a ninguém, me trancafiar em um lugar horrível como esse, no pior lugar que você possa imaginar. Mas nada se comprar ao horror de quando os meus pesadelos começaram a se fundir com a realidade.

O homem Sem FaceOnde histórias criam vida. Descubra agora