Pesadelos

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Fui tomar um banho para esquecer esses absurdos na minha vida, querendo imensamente que a água levasse todos os meus problemas, meus medos, ralo abaixo. Sempre tomava banho quente. o banheirinho que havia ali tinha se enchido de vapor. Saí do banho. De frente para o espelho embassad olhava meu reflexo, e via uma imagem totalmente distorcida de mim. E era exatamente assim que eu me sentia por dentro. um borrão do que eu fui.

Estiquei a mão para desembassar o espelho e assim que comecei a enxergar alguma coisa, vi rapidamente um vulto preto passando atrás de mim, indo em direção ao quarto. Levei um grande susto, como se uma onda de choque passasse por todo o meu corpo. Meu coração em disparada me fez quase desmaiar. Fiquei alguns segundos parado me recompondo e fui para o quarto ver se tinha alguma coisa por lá. Mas como sempre, tudo estava do mesmo jeito de antes.

Levei as mãos ao rosto, como se para afastar aquele terrivel pesadelo, mas infelizmente minha situação não mudou. Troquei de roupa, fechei bem a porta do banheiro e me enfiei debaixo das cobertas. A iluminação do meu quarto era precária. Eu tinha apenas um abajur, que ficava na mesinha ao lado da minha cama, ligado direto, que acabava projetando algumas sombras nas paredes. Elas não me incomodavam mais, já estava acostumado e sabia exatamente o que eram cada uma delas.

O ventilador de teto também não era bom. Precisava ser consertado, mas ainda sim produzia uma certa ventilação. As noites eram frias, então não era de tanta necessidade. Involuntariamente os pensamentos ruins voltavam a minha mente. O início dos pesadelos. Que infelizmente me perturbam até o momento e cada vez pior. Sinto que meu fim está próximo.

"Será que tem como ficar pior do que isso?" - Pensei.

Depois que vi aquela coisa nas fotos, parei de me fotografar. Eu não precisava mais de provas. Já tinha certeza de que ele estava atrás de mim. Não havia como evitar. 

Os pedelos começaram. Sonhava que estava em uma densa floresta. Eram apenas as árvores e eu. Estava perdido, como se fosse um gigantesco labirindo, com um pouco de névoa. Corria por entre as árvores e nada. Começava a me desesperar. Olhava para todas as direções, sem esperança de que fosse escapar. Até que a atmosfera começava a ficar fria, e brarulhos de galhos sendo pisoteados chegava cada vez mais perto de mim. Até que eu finalmente vi a criatura. Não acreditei.

Com expressão de terror e com o corpo todo paralisado, vi um homem alto, muito pálido, de um branco cadavérico, vestindo um terno preto muito bem alinhado. Como um homem normal, a única diferença é que onde era para existir um rosto, não existia nada. Absolutamente nada. 

Eu não conseguia me mexer, mesmo mandando meu cérebro mexer meus músculos, era em vão. Ele chegava cada vez mais perto de mim. Me encarando mesmo sem rosto. Ficando a apenas alguns passos da minha figura presa ao chão, ele começou a crescer. Foi se esticando lentamente até ficar, mais ou menos, a três metros do chão, e aí eu acordei. Estava muito suado, respirando descompassadamente e com o coração batendo acelerado.

Depois desse primeiro pesadelo, todas as noites me via preso nessa floresta, que era a única coisa que se repetia, pois os pesadelos eram sempre diferentes. Mas acho que nenhum dos que tive anteriormente se compara ao que tive a dois dias atrás. Assim que acordei dele, não parei mais de tomar café e energéticos. Não quero dormir. Tenho medo. Muito medo. Tenho a impressão que algo muito ruim vai acontecer comigo depois do que sonhei e não tenho mais para onde ir. Só me resta esperar. Sei que é apenas uma questão de tempo. Ele está vindo para me matar.

O homem Sem FaceOnde histórias criam vida. Descubra agora