Fui retomando a consciência. A medida em que fazia isso, fui começando a sentir todas as dores que envolviam meu corpo. Senti que ainda chovia, mas não tão forte quanto antes. Devem ter sido os pingos que me acordaram. Nunca desmaiei com tanta frequência assim. Talvez tenha sido a fraqueza de tanto correr.
Com a consciência totalmente recuperada e ainda deitado no chão, comecei a olhar aonde estava. A floresta ainda me cercava. Mas parecia diferente. Mesmo com dor resolvi me sentar e observar melhor. Eu não estava no mesmo lugar. Tentei me lembrar o que tinha contecido por último. Lembro que estava correndo muito, depois ficou tudo escuro.
Olhei para o céu tentando me lembrar mais de alguma coisa. Não estava mais sob o mesmo céu. Algo que me marcou muito foi que, aonde eu estava, ele era avermelhado. Nunca esquecerei que presenciei algo parecido. Aqui ele estava normal. Era noite e tinha várias estrelas. Mesmo no escuro pude notar que estava em um lugar bonito.
Lembro-me de que aonde estava tinham grades contornando o local, agora não via nenhuma grade. Tentei levantar, mas logo caí no chão de novo. Muita dor. Sei que estava fugindo de alguma coisa. Olhei para os lados e vi o que me fez recordar de tudo que acontecera até ali.
Uma folha branca, a apenas alguns passos de distância de mim. Me arrastei até ela e reli. “Não pode fugir.” Olhei mais uma vez para a floresta e estava em um lugar totamente diferente. Peguei a página em um silo, desmaiei bem na frente dele. Onde ele está? Ele não estava ali. O que aconteceu?
Decidi reparar bem. Olhei mais uma vez, lentamente, em todas as direções, quando meu coração quase parou. Voltei para casa. A floresta onde começei a investigar as fotos estranhas. Ele me teleportou? Isso seria possível? Como isso aconteceu? Acho que subestimei aquele “homem” esguio. Agora sim eu sabia que não estava sonhando. Aquilo era real. Ele me trouxera para cá. Seu golpe final.
Temendo o que poderia me acontecer, resolvi com ou sem dor, me levantar. Minha casa era perto dali, podia correr e me esconder no meu quarto. Será que ainda adiantaria me esconder?
Levantei com dificuldadde e tomei uma direção. Fui andando lentamente e mancando. A chuva agora estava mais fraca. Dei uns três passos e senti uma presença atrás de mim. Parei. Respirei fundo, se é que aquilo era possível, e resolvi olhar para trás. Em uma árvore, lá longe havia uma folha. Não acreditei. Só podia ser brincadeira mesmo. Tentei me convencer de que não queria olhar e que o melhor seria voltar para casa, mas a minha curiosidade era sempre maior do que tudo. Lembro-me do meu irmão falando “cuidado irmãozinho! A curiosidade matou o gato!”
Sentia saudades do meu irmão. Saí de casa sem dizer nada. Sumi. Logo ele que sempre foi meu melhor amigo. Sinto que estou em débito com ele. Será que se eu tivesse falado a verdade, tudo teria sido diferente? Mas eu não poderia envolvê-lo em algo assim. Sei que fiz o certo. Não sei o que faria se tivesse perdido ele para essa criatura horrenda.
Sentia que o fim estava próximo. Sabia que essa era a última cartada dele contra mim. Era agora ou nunca. Cedi à curiosidade, dei meia volta e fui em direção à folha. Andando com muita dificuldade, levei bons minutos para chegar até a árvore onde a folha estava presa. Arranquei e li. Não dizia nada. Havia apenas um desenho que me assustou mais do que se palavras estivessem sido escritas.
A folha me mostrava o desenho da criatura no meio de várias árvores. Algo me dizia que era exatamente aquela imagem que eu estava vivendo. Não demorou muito ouvi o urro do monstro que assombrava minha vida. Olhei para frente, onde a copa das árvores chacoalhavam. Estava paralizado, mas não pelo poder ele. Agora era de extremo pavor.
As árvores continuavam se mexendo, me mostrando que ele estava cada vez mais próximo. Além do pavor, do cansaço de fugir correndo, meu corpo doía muito. Minha perna estava seriamente machucada. Talvez tenha até fraturado algum osso. Não conseguiria sair correndo àquela altura. Bem que aquele espírito poderia aparecer e me dar forças. Fazer com que aquela névoa tomassem meu corpo novamente e curasse toda a dor e todas as feridas que me acometiam. Seria muita sorte. Sorte. Ela me abandonou faz tempo, não adianta mais pedir por ela.
Esse foi o meu último pensamento até a criatura sair do meio das arvores e me encarar. Agora ele não tinha dois metros de altura, deveria ter uns quatro. Estava mais fino do que nunca. Era por isso que ele conseguia se esconder atrás das árvores de forma que eu achasse que não estava lá.
Ele não urrava, apenas veio até mim, caminhando lentamente, me obervando. Ficou uns minutos apenas me olhando, mesmo seu rosto não tendo nada. Era apenas uma massa, uma pele circundando sua cabeça. Era realmente monstruoso. E por quê o terno? Eram muitas perguntas sem respostas. E duvidava que naquela situação em que eu me encontrava, saberia todos esses mistérios.
Depois de praticamente um minuto me olhando sem fazer nenhuma ação, eu comecei a chorar. Cherei bastante, mas em silêncio, mordendo os lábios para que ele não se deliciasse por inteiro com a minha dor. De repende ele fez uma coisa que não sabia, nem imaginaria que fizesse. De suas costas saíram tentáculos que se agitavam descontroladamente. Sabia que aquele era o meu fim. Em pensamento me desculpei com todas aquelas pessoas queridas que sei que magoei desaparecendo sem nenhuma razão. Devem ter até chamado a polícia quando fiquei desaparecido mais de quarenta e oito horas. Tentei me desculpar por tudo que fiz de errado.
Não conseguia parar de chorar e também não conseguia desviar do olhar dele, com aqueles tentáculos que se balançavam frenéticamente e cresciam. Ele nem precisou me paralizar. Sabia que dessa vez eu não sairia correndo.
Ele esticou dois tentáculos, como se fossem braços. Já não tinha mais nenhuma força para lutar contra. Deixei que ele fosse o juíz que decidiria meu destino. Ele me levantou do chão até ficar “cara a cara” com ele. Era até engraçado pensar assim, porque ele não tinha “cara.” Me olhou por alguns segundos, virou seu corpo e começou a correr para dentro da floresta, me segurando apenas pelos tentáculos, e essa foi minha última lembrança e em poucos minutos, meu último suspiro.
![](https://img.wattpad.com/cover/16403154-288-k166713.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
O homem Sem Face
Mistério / SuspenseConheça a criatura que se assemelha ao homem, mas de humano não tem nada. Ele existe a muito tempo e essa é a estória de mais uma de suas vítimas. Cuidado, ele está sempre nos observando, só esperando a hora certa de te encontrar e te matar.