À Luz da Fogueira

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J terminou de contar e ficou encarando a fogueira em silêncio, com olhar triste. Era a única coisa que iluminava o ambiente. Ana, Isabel, Luke e Brian ficaram em silêncio também pensativos olhando o crepitar da fogueira. Alguns segundos depois, algo que parecia uma pessoa, de terno, porém sem rosto, apareceu atrás dos quatro amigos e gritou bem alto.

Eles levantaram gritando apavorados e o único som que se seguia eram as gargalhadas de J e Liam. Quando os outros perceberam que era uma brincadeira ficaram com raiva e começaram a resmungar.

- Muito engraçado Liam! Você e o J são hilários – falou Ana ironicamente, com a cara fechada.

- Cara, você quase me matou de susto! – falou Luke ofegante.

- Boa! Gostei! – disse Brian. O único que realmente curtiu a tal brincadeira. A única que não falava nada era Isabel. Que mantinha um semblante de cólera, olhando para J, que junto com Liam, riam olhando para o grupo de amigos.

Depois de alguns minutos do passado susto, Isabela se enrolou em seu casaco e finalmente falou:

- Bom, está ficando tarde. São quase dez horas da noite e não quero passar o final da minha sexta aqui nessa floresta estranha. J já contou sua estória, e agora podemos voltar. – falou com a voz tremendo, quase imperceptível, de medo.

- Tá ok pessoal. Vamos voltar. – Falou Liam – Cada um pega as suas coisas e o último apaga a fogueira.

Todos concordaram e assim fizeram. Cada um dos amigos pegou sua mochila, juntaram o lixo que fizeram, colocaram em sacos e levaram consigo.

Brian liderou e os outros o seguiram no caminho de volta para casa. Os únicos que ficaram para trás foram Isabela e J. Ela não conseguia tirar aqueles olhos verdes, cheios de dor de cima de seu amigo. A única coisa que fez foi dar as costas para ele e seguir a trilha de volta.

J agora estava sozinho. Ficou parado, em pé ainda olhando a fogueira. Colocou a mão no bolso e tirou uma foto. Olhou. Nela havia o rosto de garoto com olhar apreensivo, numa floresta, e atrás dele, nas árvores, ao longe, havia uma coisa. Era Alto demais para ser uma pessoa. Era esguio e quase alcançava a copa das árvores.

Ainda segurando a foto, J segurou as lágrimas, sua dor, e olhou para trás, em direção a densa floresta.

- Desculpa meu irmão. Por não ter te ajudado nessa. Eu percebi que você estava estranho, mas acabei deixando de lado, achando que não era nada. Fiquei desesperado junto com nossa família quando você sumiu. Saí atrás de você, mas não consegui encontrá-lo. Nunca vou me perdoar.

Deu uma pausa, mas continuou encarando a escuridão das árvores.

- Já faz um ano que você se foi. Bem aqui, nessa floresta. Obrigado por me mostrar sua estória em sonho. Passei ela adiante como você queria. Agora pode ficar em paz. É um espírito livre.

Com suas últimas palavras, J jogou a foto na fogueira e olhou até ela terminar de queimar. Assim que ela queimou completamente, jogou um balde de água lentamente em cima das chamas e apagou a fogueira. Sentindo um grande aperto no peito, olhou uma última vez para a floresta às suas costas e foi embora, iluminando o caminho com uma lanterna  fraca que achou em casa.

FIM

O homem Sem FaceOnde histórias criam vida. Descubra agora