No Coração da Floresta

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Quando voltei à consciência, percebi que estava em um lugar diferente. Demorei a levantar. Minhas forças todas tinham ido embora. Quando resolvi voltar para minha batalha, percebi que estava entre paredes de tijolos. Levantei lentamente, peguei a lanterna, que estava mais fraca que antes, e comecei a analizar o local. O que seria quilo? Havia um significado por trás? Percebi que o muro tinha continuação. Fui tocando com cautela, sentindo a textura e em busca de mais uma página ou alguma coisa que me fizesse sair dali. Era fria como gelo.

Mal conseguia enxergar e o tempo não ajudava. O céu estava escuro, com pouquíssimas estrelas e nada de lua ainda. Pelo que pude notar, a tal parede, tinha o formato de um “X”. Fui contornando cada muro e acabei encontrando outra página. Olhei atentamente e ela dizia “Ele te segue.” Ri. Ri amargamente. Primeiro emiti um som baixo, depois, quando vi, estava dando gargalhadas estéricas, como um insano. Estava começando a ficar com raiva. “Ele me segue?! Como se ainda não tivesse percebido!” Puxei a página da parede e guardei no bolso junto com as outras. E agora. O que fazer?

Meu fado era segui o caminho de terra. Não me importei. Acho que àquela altura não me importava com mais nada. Meu corpo e minha cabeça doiam, minha lanterna não prestava mais para quase nada e estava preso àquele jogo psicológico e doentio.

Andei até encontrar algumas pedras. Eram grandes, quase como um monumento. Estavavam dispostas em três, fazendo uma concha. Para a minha surpresa, nada tinha acontecido até aquele momento. Tudo estava silêncioso. O vento não soprava, mas ainda sim estava frio. Além do medo que se esvaia e a raiva que aumentava, podia sentir que estava sendo observado. Como decidi não olhar mais para trás, para não presenciar mais surpresas, apenas olhava de “rabo de olho” para ver se Ele estava atrás de mim. Mas não. Ele não estava lá. Ou talvez estivesse. Aquilo sabia se esconder muito bem. Usava a floresta a seu favor, era parte dela. Uma parte sombria e vil, cercado de trevas, pronto para atacar qualquer um que cruzasse seu caminho.

Entrei no vão entre as pedras e achei mais uma página. “Sempre observa, não tem olhos.” Além do texto escrito, tinha o desenho de um rosto e no lugar de cada olho, havia um x. Óbvio demais. Disso eu já sabia. “Estou cansado dessas páginas rabiscadas, que não me mostram nada.- gritei - Não me ajudam, não me mostram o caminho. Que diabos são essas coisas? Quem colocou isso aqui? Que vá tudo para o inferno!” Soquei a pedra com muita vontade, mas só machuquei a minha mão. Um grande ódio crescia dentro de mim.

Com a mão sangrando e o corpo queimando de tanta raiva rasguei aquela folha inútil e joguei no chão. Meti a mão dentro do bolso, peguei todas as páginas recolhidas até ali e rasguei tudo e joguei longe. Chutei, pisei e gritei como um louco. Estava exausto de andar e não chegar a lugar algum. Pior, que sonho era aquele que não tinha fim? Achei que aquilo fossem pistas, que me ajudariam a sair daqui ou entender alguma coisa, mas não.

Me deixei levar pelas emoções e me joguei no chão sem forças e ofegante. Tentei colocar meus pensamentos no lugar. Fiquei ali sentando por alguns minutos, horas talvez. Não fazia ideia. Tinha certeza que o tempo ali corria de forma diferente. Será que ainda estava sonhando? Respirei fundo, passei as mãos nos cabelos e pensei. “Não tem mais nada a fazer, além de andar. Qual será o fim? Teria fim? Será que morri e fui para o inferno e estou vagando num horror infinito?”

Foi quando ouvi um som que me fez meu coração disparar e querer sair pela boca. Um urro alto, de um predador que acaba de encontrar a sua caça e vai atacar. Levantei de uma vez, olhei para a direção do som e vi as árvores chacoalhando violentamente, mostrando que algo enorme estava a caminho. Sem pensar duas vezes saí correndo tentando controlar a respiração, sem olhar para trás. Corri pela minha vida.

Acabei chegando em uma área grande e aberta. Não aguentava mais correr, meus músculos doíam e mal conseguia respirar de tão ofegante que eu estava. Me joguei de joelhos no chão. Olhei para trás com medo do que veria em seguida, mas não havia nada. Parecia que eu tinha conseguido despistar daquele mostro. Com um urro daqueles, não queria nem saber o que era.

O homem Sem FaceOnde histórias criam vida. Descubra agora