Eu entrei no quarto praticamente chutando a porta, furiosa.
Elvis estava sentado na ponta da cama, assistindo algum comercial que passava na televisão.
Como sempre, o quarto estava em total escuridão, até as janelas estavam fechadas com as cortinas pesadíssimas, inibindo qualquer fio de luz.
Eu bufei e fui até o interruptor, acendendo-o.
Elvis se virou para mim com os olhos arregalados. Ele reparou no meu olhar assassino em direção a ele, meu peito subia e descia rapidamente.
— O que foi, meu amor? — Ele perguntou, uma nota de preocupação em sua voz. Seus olhos azuis passearam pelo meu rosto, silenciosamente procurando o que estava de errado. Filho da puta falso do caralho.
Eu então ergui as duas mãos no ar, segurando os envelopes cor-de-rosa que eu havia achado hoje de manhã.
— QUEM É ESSA PRISCILLA? — Eu berrei.
Sua expressão mudou no mesmo segundo, de preocupado para furioso.
— Onde foi que você achou isso? — Ele perguntou seco, andando em passos rápidos em minha direção. Elvis era bem mais alto do que eu, e mesmo eu estando de botas de salto-alto, ainda continuava tendo que olhar para cima.
Ele tentou tirar os envelopes da minha mão, mas eu fui mais rápida. Dei um passo para o lado e escondi as cartas atrás das minhas costas.
Ele se virou em e me fuzilou com o olhar, depois maiou as portas atrás dele. Elas se fecharam com tanta força que eu podia jurar que tinha visto a parede dar uma balançada. Ele me olhava como se estivesse pronto para dar um tiro em mim — e eu sabia que ele tinha armas enfiadas em todos os cantos de Graceland. Há dois anos, esse olhar poderia me fazer esquecer de tudo e pedir perdão ali mesmo, mas não agora. Agora eu queria que ele ficasse com raiva, tanto quanto eu estava com raiva.
— Me dá isso! Agora! — Ele mandou, estendendo o braço em minha direção.
— Não!
— Me dá!
— Não vou dar porra nenhuma!
— BB!
— Elvis!
Ele deu um soco na porta, depois foi bufando alto até a porta entreaberta do banheiro. Entrou e maiou a porta, e eu o ouvi fechando a trinca por dentro.
Eu fui até lá e comecei a bater na porta.
— Você vai se esconder aí, é isso então, seu covarde? Não consegue olhar na minha cara e dizer a merda que você está fazendo? Me responde quem é essa Priscilla! — Eu gritava e gritava, minha voz ficando cada vez mais fina e estridente. Meus olhos ardiam. Eu piscava rapidamente, tentando de tudo para não chorar, não ali na frente dele. — Era com ela que você estava falando ontem? Era? E todas as vezes que você desligou o telefone perto de mim, era ela? Hein?
Eu me afastei da porta com um último soco na porta. As juntas das minhas mãos já pulsavam de dor. Eu joguei os envelopes no chão, amassando e furando alguns com a ponta da minha bota de cano alto.
— Essa era... É aquela garota da Alemanha? — Eu sussurrei, não sabendo se ele havia ouvido ou não.
Eu respirei fundo e me abaixei, apoiando os cotovelos nos dois joelhos. Eu tampei o nariz com a mão, para ele não ouvir enquanto as lágrimas corriam soltas pelo meu rosto, pingando no tapete felpudo no chão.
Eu havia conhecido Elvis quando este havia voltado do Exército, uns dois anos atrás. E claro que o mundo todo havia visto a foto da ''garota que ele deixou para trás'' nos jornais. Eu me lembro que mal conseguia me aguentar de ciúmes, mas depois ele nunca mais tocou nesse assunto, então eu acabei esquecendo totalmente da Alemanha, garota que estava com ele e não era eu e qualquer outra possível namorada que ele possa ter tido.
Eu tinha 14 anos quando nos conhecemos. Minha mãe não havia gostado nem um pouco disso, mas como Elvis sabia passar a imagem de bom moço de família, e soube como convencer minha mãe perfeitamente, nos encontrávamos secretamente sempre quando eu estava de férias da escola. Com exceção de que eu ainda não podia esfregar na cara de todo mundo que eu estava namorando Elvis Presley, nossa relação estava ás mil maravilhas.
Até um mês atrás.
Elvis começou a agir estranho comigo. Ele começou a ligar para alguém que ele nunca queria me contar quem era, e a receber várias cartas de envelope cor-de-rosa, destacando-se das demais de fãs que ele recebia semanalmente. E toda vez que eu tentava pegar um e ler, ele tirava rápido da minha mão e escondia. E nunca mais eu via aquela carta na minha frente.
Então hoje de manhã eu surtei e comecei a vasculhar cada centímetro de Graceland, até que encontrei alguns dos envelopes escondidos na gaveta.
Eu os abri e comecei a ler um por um. Eram todos dessa mesma garota, Priscilla. E todas declaravam seu amor incondicional por Elvis, e de como estava louca para ir visitá-lo, aqui em Graceland.
Foi como sentir uma facada no peito. Elvis não poderia estar fazendo aquilo comigo. Não comigo.
— Responde! — Eu gritei, minha voz chorosa entregando minha condição. Eu me levantei e dei mais um soco na porta.
— Se você não parar com isso agora eu te expulso daqui e você volta para casa agora! — Ele gritou, sua voz abafada pela parede, mas não menos poderosa.
— Ah é? — Eu limpei as lágrimas do rosto — Pois é isso mesmo que eu vou fazer, e não preciso de sua ajuda para isso!
Eu sai de lá praticamente correndo, e fui até o meu quarto, onde eu deixava todas as minhas coisas. Tirei a mala de baixo da cama e comecei a jogar qualquer roupa e sapato que eu encontrava lá dentro. Quando não cabia mais nada, eu fechei o zíper e saí do quarto, deixando uma bagunça trás de mim.
Eu andei até o corredor principal, e quando alcancei a escada que levava á sala — e á saída daquele meu tormento — Elvis apareceu atrás de mim e me puxou em direção a ele, me abraçando com força. Ele tirou a mala da minha mão e a jogou escada á baixo. Ela foi quicando alto, até parar quase toda arrebentada no chão da sala lá embaixo.
— Você ia me deixar assim? Hm? E você ia para casa como, meu amor? Como... — Ele sussurrava no meu ouvido, me abraçando forte. Sua voz suave me fez amolecer toda em seus braços. — Eu perdi a cabeça lá atrás. Foi só isso. Você sabe que eu sou assim, baby, você me conhece tão bem, você sabe, não é?
Eu estava com o rosto enfiado em seu peito, quente e protetor. Eu não aguentei e comecei a chorar outra vez. Então Elvis me puxou ainda mais para junto dele, quase me erguendo do chão.
— Por quê você não me ama mais? — Eu chorei, minha voz abafada pelo suéter que ele usava — Por quê?
— Não, não, não. — Ele segurou meu rosto com as duas mãos e me fez encará-lo. — que história é essa? Eu nunca deixei de te amar. Aquilo... Aquilo já passou agora, querida. Passou. Por isso eu escondi de você. Eu não queria que se preocupasse á toa.
Deus, por favor, me faça acreditar nele. Eu quero acreditar no que ele diz. Por favor, por favor...
Ele me encarava como se eu fosse a coisa mais linda do universo. E talvez eu fosse. Talvez eu fosse.
Eu mordi os lábios e tentei sorrir.
Elvis inclinou a cabeça e me beijou.
Droga, Agora que eu não iria para lugar nenhum mesmo.
— Promete que nunca mais vai tentar me deixar desse jeito. — Ele disse, separando nossos lábios ligeiramente, apenas para poder me olhar no olhos.
— Prometo.
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A.K.A. Groupie
FanfictionOne-shots com a nossa Groupie favorita, BB Wild. BB wild é uma personagem que eu criei para escrever esses contos. Alguns deles são de uma história muito maior e única que eu pensei há algum tempo, porém, nunca terminei de escrever. Um dia, quem sab...