• PRÓLOGO ||

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Já fazia cinco minutos desde que cheguei a porta da escola, estava no banco de trás e com as mãos espalmadas no vidro enquanto eu via as outras crianças chegarem com seus pais, felizes e depois de receberem abraços dos seus pais, corriam sorridentes para o portão de entrada.

Elas sorriam.

Sabe, tinham um sorriso real em seus rostos, não o perfeitamente ensaiado que carrego em todo lugar que vou ou estou com meus pais. Carolina sempre diz que tenho que sorrir, assim vão ver que somos uma família feliz. Ela não entende que não sou e nunca fui feliz. Se soubessem o teatro diário que vivo. Suspirei, ganhando um olhar de repreensão dela.

- Está na hora Otávio, o que tanto espera? - olha em seu relógio caro e rosna frustrada.- Sai logo do carro, por sua culpa perdi meu horário na manicure. Garoto inútil.

- Eu- eu só q- queria um abraço. - engoli em seco, meus olhos em meu colo.- Como eles! - apontei para as crianças lá fora.

- Nada de abraços garoto! - destrava as portas, ela procura por algo em sua bolsa.- Sai, estou atrasada.

- Mas mãe...

- Não me faça repetir garoto!- destravei o cinto de segurança, pegando minha mochila, assim como o lanche que babá Cássia fez para mim.

Mal tenho tempo de fechar a porta do carro, quando ela sai em alta velocidade, o vento causado por sua pressa, agitou algumas folhas secas caídas na calçada, eu fiquei ali olhando para o seu caminho, pensando no motivo de não gostar de mim, me amar.

Acho que cansado demais de esperar, o porteiro manda que eu entre. Meus ombros caem e sigo devagar até estar no pátio da escola. E encontro mais uma vez as crianças felizes, o sinal bate e entramos para a sala de aula. Sentei na primeira cadeira, pois era a única vazia, mesmo não gostando da atenção que receberia sentando - me ali, não tive outra alternativa senão me sentar ali. Fui apresentado para a turma como aluno novo e quase dormi na sala de aula, essa noite eu não pude dormir. Estremecendo ao me lembrar da escuridão a me cercar, sendo embalada pela discussão deles novamente, pisco algumas vezes para espantar essas imagens.

As vezes eu olhava para o garoto ao meu lado e senti vontade de bater nele, que sorria muito e todos gostavam dele. Um sentimento estranho apertou meu peito e pelo resto da aula, eu o ignorei. Mesmo que por diversas vezes ele tenha tentando falar comigo, garoto chato.

- Hey!- continuei mastigando meu sanduíche, bebi três goles de suco e dei mais uma mordida. De repente uma sombra tapou meu sol, um corpo bateu em mim quase me desequilibrando e olhei para o lado de cara feia, grunhi para seu sorriso que quase dividia seu rosto. Era ele. - Hey Coringa, estou falando com você!- sorriu largamente para mim.

- Não me chamo Coringa.- disse simplesmente.

- Como se chama então?- o ignorei, deixando que fale sozinho.

Fiquei ereto e continuei a comer, tomando mais três goles de suco. Ele bufou ao meu lado, meus olhos varriam todo o lugar. Minha vontade era de joga- lo no chão, ele invadiu meu espaço pessoal. Ouvi seu suspiro audível, parecendo impaciente.

- Quer que eu comece? OK, me chamo Tyler, mas pode me chamar de Ty, para os mais íntimos.- alisou seus longos cabelos para trás, bufei.

- Não te conheço! - olhei para as bonitas folhas alaranjadas que caiam no pátio. Entre elas, algumas variavam entre amarelas e avermelhadas. Eram bonitas, eu gostava delas e tinha uma coleção escondida debaixo de minha cama.

- Hey, olha para mim, sou mais interessante do que essas folhas. Mamãe diz que sou lindo!- isso atrai minha atenção e consigo pegar seu sorriso longo.

- Ela diz? - me peguei perguntando, me toquei de que não queria falar com ele. Desviei o olhar.

- Sim, mas desconfio que ela só diz isso por que sou filho dela, você sabe essa coisa de meu filho é mais bonito! Mas eu acredito nela...

Sua mãe o acha bonito, olho para minhas unhas machucadas e sem que eu veja estou tocando meu rosto, meu queixo, meu nariz que é um pouco arredondado, minhas orelhas, testa, cabelos. Acho que não sou bonito, minha mãe nunca me disse isso.

- E então? - sou arrancado dos meus pensamentos, quando Tyler toca meu ombro, me encolho quando sinto um pouco de dor. E ele está invadindo de novo meu espaço pessoal.

- O- o que disse? - recolhi minhas coisas, guardando tudo em minha lancheira.

- Quer ser meu amigo?- olha ansiosamente para mim, o analiso bem.

Por que ele que quer ser meu amigo? Tem outras crianças por ai que fariam um bom papel de amigo, eu não tenho muitos, exceto meu primo Raphael que estuda em outra escola.

- Não! - seu sorriso morre e sinto uma pontada em meu peito, mas ignoro o deixando ali. Voltando correndo para a sala de aula.






OLHA ESSES BEBÊS AINDA CRIANÇAS.
28/04/20


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