Capa by: Anaila Lima
Otávio estava muito bem sozinho.
Isso era o que ele repetia todas as manhãs em frente ao espelho quando seus olhos castanhos claros o encaravam de volta.
Ele era feliz, outra grande mentira. Mas quem estava contando? Ele pens...
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Eu sou o homem dela.
De tudo o que eu ouvi da discussão das duas, essa foi a única parte que eu realmente me interessei. Conveniente eu sei mas foi somente essa pequena mas poderosa sentença que fez meu coração se contrair violentamente em meu peito. A dor da perda vem me sufocando a medida que os dias se passam após a última respiração de minha Cássia. Meu norte quando eu não tinha ninguém para lutar por mim. Minha âncora quando estava com tanto medo de dormir que minha bexiga perdia o controle. Meu lugar seguro quando as coisas saiam do controle.
Carolina disse acidamente que ela não era nada. Mas ela está tão enganada, seu ego e egoísmo a cegando completamente. A mulher para quem apresentei Mariana dias atrás, era meu centro de apoio. E quando ela foi embora sem se despedir ou me abraçar pela última vez, foi como se algo importante em mim tivesse morrido. A pequena porção de felicidade que habitava dentro de mim, se foi com ela. Não tinha ideia do motivo dela ter me abandonado. Mas na carta que ela deixou para mim com sua sobrinha, ela me explica que Carolina a obrigou a ir embora. A mulher é tão insensível que não mediu esforços para me tirar a única coisa que me fazia sorrir.
Ainda é difícil imaginar um mundo sem ela. Por isso me tranquei em mim mesmo por dias. A única família que conheci, que é formada por meus poucos amigos esteve ali por mim. Ty com suas palhaçadas e risada histérica. Bel com seu jeito calmo de ser e abraço que me aquecia em tantos níveis. As crianças com sua inocência acerca da morte me fazendo ver que não é o fim. Rita com seu colo de mãe e ela. Mariana Melo. A tempestade em minha vida. Suas loucuras, comida que não é tão excelente, sua risada simples e sua companhia. Ela ainda está em meu apartamento e dorme comigo como se fosse algo normal. E talvez para ela seja, a mulher se faz a vontade em todo o lugar que chega.
Não me pronunciei acerca disso e acho que não vou. Te - la assim tão perto é como um bálsamo para minha alma. Ainda não disse para minha psicóloga sobre isso mas em breve ela saberá sobre ela. Desde que chegou ao meu apartamento aos prantos falando milhas por hora, que durmo bem em minha cama. É certo que depois do enterro de Cássia eu não dormi mais do que duas horas inteiras mas acredito que logo estarei entrando no meu normal.
Sinto o vento passar rente ao meu rosto, dou dois passos para trás desviando por pouco do pé de Tyler. O filho da puta ri como se tivesse contado uma ótima piada, aperto meus olhos em sua direção. Ele ri ainda mais dando de ombros.
- Está distraído Otávio. Foco na luta! - bate suas luvas pretas juntas, um sorriso completo estampa seu rosto. A barba quase loira cobrindo parte dele. Bufo como um touro raivoso, partindo para cima.
- Impressão sua russo abusado! - lhe dou um pontapé frontal, que ele consegue desviar por pouco. O infeliz joga a cabeça para trás em vitória.
Pulando de um pé para o outro, ambos fazemos uma avaliação conjunta de onde acertar um ao outro. Ambos vestindo somente um calção de tecido mole que acumula um pouco do nosso suor. Nossos troncos nus acumulam um certo número de hematomas. Mas é disso que eu preciso. Uma semana trancado em mim mesmo, remoendo o fato de que ela se foi e então o estopim de tudo foi ter que cruzar com Carolina novamente na minha casa e ser ferido mais uma vez por suas palavras ácidas. Acredito que se Ty não tivesse ido me buscar, eu faria meu caminho sozinho para não quebrar na frente dela.