SETE || - MARIANA

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A dor da perda

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A dor da perda.

Uma dor realmente nunca experimentada por mim em seu estado mais cru e puro. No entanto, eu sentia uma dor semelhante a cada beijo de boa noite que me foi negado quando criança, a cada história para dormir que não tive acesso e a falta dos conselhos que só uma mãe de verdade poderia me dar. Nasci de uma mulher que na época era jovem demais para criar uma criança, fui entregue a um abrigo, passei boa parte de minha infância me questionando o que fiz de errado para que meus pais não me quisessem. Trinta anos depois, a mesma mulher que me abandou surge das profundezas do maldito inferno, dizendo ser minha mãe, que quer recomeçar e ainda recebo um irmão de brinde.

Olhando agora para Otávio, eu não consegui definir como o homem estóico está se sentindo. Destruído internamente é o meu melhor palpite. Nas poucas horas que passei com sua antiga babá, pude ver ainda que ele tentasse esconder de mim, sua admiração e carinho por ela. Se ele pudesse, acredito que moveria uma montanha por ela, se pedisse. Naquela manhã no quarto de hospital, os olhos baixos, os dedos longos e firmes ansiosos sobre suas coxas cobertas pelo jeans e a postura tensa me diziam o quanto a situação da mulher que dizia ama - lo tanto o abalava profundamente. No entanto, não permitiu que ninguém enxergasse isso através dele. Mas eu o fiz, me calando no entanto.

Ele não falou desde que recebeu o telefonema uma semana atrás. O confortei o máximo que pude o abraçando firmemente, estando ali para ele quando as lágrimas evidentes da perda viessem mas elas não vieram. Ele apenas mandou seu celular para o inferno, gritou roucamente e se deixou cair.  Mas as lágrimas decorrentes dessas horas, não vieram. O que me preocupou intensamente. Então decidi esticar minha estadia em seu apartamento. Esperava arrancar alguns reação negativa dele, ao literalmente invadir seu espaço mas ele apenas seu de ombros. Ele passa a maior parte do tempo sentado no chão de piso escuro de sua sacada. Não o vi dormir duas horas seguidas desde que chegamos do cemitério. Tyler e Belinda estão aqui todos os dias, Vivi sempre consola o tio do seu próprio jeito ao escala - lo como uma árvore e enchendo - o de beijos. Rapha faz um beicinho fofo e praticamente o ganha. E tem Mateus que com seu jeito de adulto no corpo de uma criança o conforta com palavras firmes.

E tem eu.

Ninguém até hoje entende nossa "relação". As vezes nem eu o faço. Temos nossos momentos de trocar farpas, piadas ácidas e até um soco meu aqui ou ali perto de seus equipamentos. Mas é algo só nosso. No início, quando o conheci eu realmente achava que o homem de postura rígida e olhar firme não me suportava. Mas então nós nos beijamos e tudo mudou. Ainda trocavamos nossas farpas mas algo havia mudado. Ao invés disso, ele preferiu se afastar, eu deixei. Mas ainda há algo que me puxa para ele. E é esse algo que me fez estar aqui em sua cozinha, depois de dar folga para dona Rita, tentando fazer um café da manhã decente.

Acho que me distrai um pouco pois sinto a queimadura feroz em meus dedos. Xingando gravemente, jogo a frigideira do outro lado da cozinha, a causadora de minha dor acerta a parede caindo no chão com um som surdo. Levo meu dedo a boca pulando de um pé para o outro. Odeio sentir qualquer tipo de dor, por isso estou tentando lutar contra as lágrimas sorrateiras.

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