Teach Me

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Obviamente, eu não podia ficar naquela sala o dia inteiro, minha parte no caso já tinha acabado, mas eu precisava terminar o meu plantão, e não podia ser dentro de uma sala girando, eu estava considerando sair e contar tudo que aconteceu e tudo que conversamos naquela sala pra Helm, mas imaginar a reação dela com aquilo me fez repensar e não contar nada por agora. Eu acho que tudo que tinha acontecido naquela sala me fez repensar muita coisa, como sempre, eu estava pensando muito.

Eu consegui entender todos os momentos de dúvidas que tive na infância quando eu chegava perto de algum menino, os sentimentos que ignorei na minha época de faculdade e todos as reações...nas calças..que tive durante toda minha vida, tudo isso pra mim era coisa na minha cabeça, mas naquele momento tudo estava se juntando como um quebra cabeça na minha mente.

Eu achava estranho estar me descobrindo bissexual a essa altura do campeonato, claro, não se tem uma idade certa pra se autoconhecer, mas se tivesse, certamente eu acho que não seria depois de passar por tudo que já passei e já ser considerado um ''tio'' pra crianças. Eu não sei se me descobrir me fez triste, ou decepcionado comigo mesmo, eu estava claramente feliz apesar de confuso, o que mais passava sobre minha cabeça é que grande parte da minha vida poderia ter sido diferente se eu tivesse me descoberto antes, mas a pergunta que ecoa é se seria um diferente bom, ou um diferente ruim. De qualquer maneira, seria diferente.

Enfim, depois de muito marretar ''e se..'' na minha cabeça, finalmente sai da sala de descanso, só de estar do lado de fora exposto pra outras pessoas já me fazia nervoso, apesar de só eu saber o que estava acontecendo naquele momento comigo, eu sentia como se todos soubessem e meus pensamentos estivessem sendo narrados em voz alta, era como se todos estivessem me julgando com olhares, eu me senti nu no meio da rua.

Fui para o elevador e chamei ele pra descer e ir buscar minhas coisas na sala de internos, estava na hora da minha saída e eu não via a hora de ir pra casa depois daquele longo dia, que eu queria que tivesse sido de trabalho, mas as coisas sempre acabam indo pra outro lado, SEMPRE.
Eu pensava que o universo já tinha feito o suficiente por mim naquele dia, mas ele nunca para.

No meio do caminho, o elevador parou pra outra pessoa entrar, não podia ser ninguém menos que Nico, que antes de entrar olhou fundo em meus olhos e sorriu.

- Como você está se sentindo? - Disse ele depois de perceber que eu não ia falar nada até chegar no meu andar.

- O que você quer dizer? - Eu sentia todo meu corpo formigando e pesando, a presença de Nico me fazia pensar em coisas que eu nem sequer sabia que eu pensaria um dia.

- Quero dizer com a ortopedia, como foi?

- Ah..Foi ótimo, você é um ótimo professor. - Enquanto eu respondia a pergunta dele, sinto sua mão se aproximando do colarinho do meu jaleco, ele passava a mão por todo o colarinho lentamente, eu só consegui ficar em silêncio, piscando por mais tempo que o necessário e com o coração completamente acelerado. Quando abri meu olho, ele ainda estava ali, nossos olhos estavam alinhados, estava definitivamente acontecendo, Nico me puxou, e me deu o melhor beijo que já dei na minha vida, a mão dele caminhava pelo meu pescoço enquanto eu segurava ela e encostava na parede do elevador tentando controlar meu nervosismo.

Não durou muito, alguém tinha pedido o elevador e a porta abriu, fazendo o beijo parar e causando um silêncio constrangedor durante todo o caminho até o outro andar, o funcionário que entrou logo saiu, permitindo que a gente voltasse pro que estava acontecendo. Assim que o homem saiu Nico virou rapidamente pra mim dizendo:

- Desculpa, isso foi...bruto..Eu só..

- Foi perfeito...o...quando..você... - Eu estava nervoso, e pela primeira vez percebi que não era o único, foi a primeira vez que vi Nico ficando nervoso com alguma situação.

- Você tá bem? - Ele disse...parecendo arrependido, ou..?

- Essa...foi a minha primeira vez...Hoje..fazendo orto..você sabe, eu focava mais em ser cirurgião geral e...nunca parecia certo, mas...eu gostei disso..Orto, você me ensinou bem... - Nem eu tinha entendido essa metáfora que eu fiz, mas eu precisava deixar ele sabendo, porém minha timidez não deixava eu dizer isso com palavras completas.

- Espera...Esse foi..o seu primeiro beijo? - Meu deus, o que eu fiz? Ele provavelmente pensava que eu era idiota, mais uma vez eu sinto vontade de me enterrar vivo.

- NÃO, não foi o meu primeiro beijo... bom com um..homem..sim, foi...é. 

- Olha, desculpa, se eu soubesse disso eu nunca...

- Você disse que iria me ensinar, eu queria aprender...

- Olha, você é fofo e..nerd e...o meu tipo, mas eu não posso te ensinar a ser você mesmo, essa taxa pra mim já foi comprida a muito tempo, eu não posso passar por isso de novo. Me desculpa. - É...Eu levei um fora..outro, será que eu não dou certo com nenhum dos dois gêneros?

- Eu pensei que isso fosse um hospital escola! - Essa foi a coisa mais constrangedora que eu já gritei pra alguém que tinha acabado de viras as costas pra mim, mas eu não posso ser culpado, quando eu finalmente achei que as coisas dariam certo, tudo se desmoronou, novamente, eu acho que eu atingi minha cota de desilusões amorosas, afinal, eu nunca iria ''vencer'' no amor?

E outra qual é o problema de ser um...gay (?) de primeira viagem? Eu estava bravo..mas mais importante, eu estava triste e com tesão. Novamente ele estava me fazendo sentir, várias coisas, e eu queria mais.

Continua...na tempestade.

  

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