This Is A Teaching Hospital

Slide Away

Era um novo dia no hospital e dessa vez eu estava nos trabalhos de cirurgia plástica com o Dr. Avery...fazendo cirurgias você deve estar pensando? Não, tirando pele de peixe, eu não questionei, então também não me questione, até então eu não tinha entendido o motivo, mas sinceramente eu não estava com uma grande vontade de fazer cirurgias naquele dia de qualquer jeito, mas os outros queriam, e questionaram, infelizmente.

- Se a gente está fazendo isso pra experiencia com bisturi porque não podemos fazer em corpos?

- Vocês não estão cortando pele de peixe pra técnica com bisturi.

- Ah não? Então pra que estamos? - Questionou Casey

- Pra isso - Disse Avery abrindo a cortina e revelando um homem com queimaduras coberto de pele de peixe, eu queria vomitar pelo cheiro, mas eu estava chocado demais pra sequer entender o que eu realmente queria.

- Nós vamos transformar as pessoas em peixe! - Não é porque eu mudei que minhas piadas ficariam de fora dessa, eu passei o resto do dia esfolando peixe, acabei ficando com a pior parte do trabalho, mas foi até bom, o tempo que eu fiquei por lá sentado pude refletir sobre tudo que estava acontecendo, e principalmente me decidir sobre meu ultimo impasse, quando eu contaria pra minha mãe sobre Nico? No caso, sobre mim. Eu passei tanto tempo cortando peixe que eu poderia facilmente ser confundido por um de tantas escamas que tinham no meu jaleco, meu turno acabou e eu nem sequer tinha percebido, curiosamente, eu não tinha visto Nico nenhuma vez naquele dia, o que era estranho, mas nada absurdo, mandei uma mensagem pra ele e fui normalmente pra casa.

Acabei passando pela minha mãe ao chegar, eu só queria sentar com ela e contar tudo, dizer o quanto eu estou apaixonado por ele, poder ouvir a opinião dela sobre, negativa ou positiva, eu só queria que ela vivesse aquilo comigo, porque querendo ou não, eu estava feliz, e sim, eu poderia simplesmente dizer tudo isso pra ela, mas a única coisa que disse foi - Estou muito cansado, vou ir direto pra cama - pousando um beijo na testa dela e descendo as escadas pro meu quarto, me jogando no sofá e descansando minha cansada mente.

Por coincidência (ou por ordem do Nico rs), acabei ficando nos serviços dele no dia seguinte, trabalhando em um caso de osteoporose, o que deve ser mais do que fácil pra Nico, que deu uma solução rápida pro caso, enquanto eu sorrio e aprecio o talento dele de longe, Dra. Bailey acaba entrando na sala, ela conhecia o pai do paciente e parecia ser super próxima dele, e garantiu que Nico seria um ótimo médico pra seu filho.

Parecia que esse seria mais um daqueles dias onde tudo curiosamente dá certo e nada de errado acontece, vamos esperar eu fazer alguma merda então. Fomos até a cirurgia e tudo parecia correr bem, ficamos menos de meia hora lá dentro e era um trabalho aparentemente simples. Eu precisava questionar se tinha realmente acabado.

- É só isso?

- Não é porque eu fiz parecer simples, que significa que é. - Disse Nico enquanto dava uma piscada pra mim, sua confiança podia me irritar as vezes. - Fomos ao pós operatório e Josh, o paciente, já tinha acordado da anestesia, Nico explicou algumas coisas pra Bailey e o pai do paciente, que logo depois se afastaram, deixando apenas nós três ali.

- Eu posso ir no banheiro? - Perguntou Josh a Nico, com um sorriso no rosto.

- Pode, claro.

Eles começaram a falar dos hospitais que Nico poderia ir, seu contrato estava acabando e depois da tempestade, renovar seria impossível.

Esse assunto sinceramente não me agradava muito, levando em conta que Nico estava disposto a ir embora, pra longe, o que fez eu me perguntar se ele pensou em mim em algum momento, óbvio que ele tem que pensar principalmente nele, mas será que eu poderia ser incluído nessa questão em algum momento?  Mas enfim, eu estava ignorando esse assunto até que ele de fato acontecesse, pelo bem do nosso ''relacionamento''.

Parecia tudo bem, até eu ouvir Nico gritando o nome do paciente, com ele em seus braços, Josh tinha desmaiado, não tinha pulso e a gritaria estava formada, o pai de Josh questionando, Nico sem entender o que aconteceu e eu menos, conseguimos fazer o ressuscitamento e corremos pra sala de cirurgia novamente, o nervosismo do Nico ficava claro no seu semblante, pra piorar, ele e Maggie acabaram entrando em uma discussão no meio da cirurgia, Nico tinha claramente cometido um erro, e Maggie deixou isso claro, eu apenas acompanhei tudo em silêncio. 

Foram minutos de tentativas para salvar Josh, eu ainda estava tentando processar o que estava acontecendo, ele estava tão bem em um minuto, sorrindo e conversando e no outro já estava no chão tendo que ser socorrido, eu não consigo imaginar como Nico deve estar se sentindo agora.

E ele morreu, Nico perdeu um paciente de 21 anos, ele estava travado, eu conseguia sentir a pressão que ele estava sentindo, e eu não sabia o que fazer pra ajudar, Bailey acabou entrando na sala, me dando a função de fechar o corpo e fazendo Nico acompanha-lá pra noticiar o pai do paciente, até então não tínhamos trocado uma palavra, e eu não sabia se iria conseguir, Nico agora definitivamente ia embora do hospital, agora que tinha perdido um paciente, nada estava a seu favor e nem ao meu.

Tinham se passado horas e eu fui procurar Nico, eu precisava saber como ele estava, precisava falar com ele, acabei o achando em uma das salas, de terno e com o notebook em sua frente, ele tinha seguido em frente com uma das entrevistas de emprego.

- Oi, te procurei por toda parte, pensei que você iria cancelar a entrevista.

- Não se pode cancelar uma entrevista de emprego Levi.

- É, eu sei, mas eles poderiam abrir uma exceção, pelo o que aconteceu hoje, sabe?

- Por eu ter sido tão idiota ao ponto de matar alguém? - Nico me encarou, mas não foi como as outras vezes, ele tinha um olhar diferente, de raiva, ou tristeza, foi simplesmente diferente dos outros. - Sim, é claro, vou ligar pros entrevistadores e avisar, Levi. - Ele foi grosso, extremamente grosso, eu não o reconhecia.

- Você tem certeza que está na melhor condição pra entrevista dos seus sonhos? Só mande um e-mail, e nós poderemos sair daqui. - Falei colocando a mão em seu ombro, tentando confortar e acalma-lo pelo o que tinha acontecido.

- Não, você não entende. - Nico aumentou seu tom de voz - Você teve fracassos toda a sua vida, é basicamente sua identidade, mas não é a minha. - Enquanto Nico dizia as palavras mais horríveis que eu já tinha ouvido, seu Skype tocava, eu estava sem reação, ele atendeu e começou sua entrevista normalmente, eu sai, batendo a porta.

Meu turno já tinha acabado, então eu fui pra casa, chorando, sim, eu chorei nesse dia, nunca imaginei que em tão pouco tempo eu já estaria nesse nível, chorando por alguém, eu questionei todos os momentos que nós tivemos juntos depois que fechei aquela porta, seria aquele o Nico de verdade? E o que eu conhecia era só uma versão restringida daquele?

Eu amo ele, eu deixei isso claro, eu disse em voz alta, ''eu te amo'', falei mais de uma vez, ouvi isso dele, mas acho que eu te amo não é a unica coisa que vai ficar ecoando na minha cabeça durante um tempo. Eu perdi ele.