Há falhas em nossa perfeição

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Você não está tentando me mudar

Mesmo que eu seja louco

O dia havia começado com uma chuva amena naquela sexta-feira de primavera - estação favorita do jovem rapaz de dezessete anos. Por um instante, Todoroki Shouto deixou-se enganar. Talvez aquela péssima semana que estava tendo teria um final razoavelmente agradável. Com sorte, ele poderia até mesmo passar algum tempo com seu melhor amigo depois da escola. Talvez ir ao cinema...

E então, o instante passou.

"Tolice. Acho que peguei a doença do "pensamento positivo" de Izuku."

Aquele seria um dia ruim.

Ultimamente todos os dias estavam sendo ruins, então Todoroki sabia dizer. E ele não tinha ninguém além de si mesmo para culpar.

Suspirando, o garoto pegou sua mochila e seguiu em direção à cozinha. Seu plano inicial era roubar uma pera do cesto de frutas e encaminhar-se para a escola sem nenhum alarde. É claro que sua sorte - ou seria a falta dela? - tratou de frustrar seus planos.

Não que Todoroki estivesse de todo surpreso por encontrar seu pai estagnado no meio do corredor, impedindo sua passagem. Na verdade, sua tentativa de esgueirar-se casa afora sem ser notado era exatamente para evitar aquele encontro.

Aquele homem.

Aquela conversa.

- Aonde pensa que vai? - perguntou Todoroki Enji, encarando o filho de cima.

- À escola.

Para o Todoroki filho, uma resposta óbvia. Para o pai, um sinal de desrespeito que deveria encontrar repreensão imediata.

O som estralado de um tapa ecoou pelo corredor. O rosto do rapaz ardeu. Quase tanto quanto as chamas no rosto do Flame Hero.

Herói... Que piada.

Ironicamente, o lado que quase saiu de controle depois do tapa, foi o esquerdo. O lado amaldiçoado pela individualidade de seu pai.

Errado!

Sua individualidade! Não de Endeavor! As chamas pertenciam à Todoroki e ele já havia aceitado-as. Não ia deixar que aquele homem o afetasse mais.

Respirando fundo, conseguiu manter a calma. Voltou, então, seus olhos heterocromáticos para seu pai, usando de sua habitual expressão neutra.

Não fosse pela tensão palpável no ar, Fuyumi - que tinha ido ao quarto do irmão ver o porquê da demora - nem desconfiaria que uma agressão havia ocorrido ali, segundos antes. Ou talvez desconfiasse, já que seu pai raramente aproximava-se de seus filhos com outro propósito além de agredi-los verbal e, no caso de Shouto, fisicamente.

- Shouto?

- Saia daqui, Fuyumi! Shouto e eu estamos no meio de uma conversa.

- M-mas o caf-fé... - Ela não conseguiu evitar gaguejar diante do olhar hostil de seu pai. Não era forte como seu irmão, apesar de mais velha.

Todoroki, aproveitando-se da distração que sua irmã proporcionou, escapou de seu pai e seguiu pelo corredor enquanto falava:

- Na verdade, eu já estou de saída. Não vou comer nada, nee-san. Perdi o apetite.

- SHOUTO! Volte já aqui!

O rapaz parou no meio do caminho e com a voz monótona de sempre, disse:

Perfect (TodoDeku)Onde histórias criam vida. Descubra agora