Capítulo 25 - Coronelzinho

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— ... Não sei o que fazer, Lulu. Simplesmente não sei. — Eustácio disse depois de contar todo o caso para sua amiga pelo telefone de seu escritório na promotoria da cidade, esperou o horário do almoço, o único momento em que seu escritório estaria vazio para fazer a ligação.

Houve um momento de silêncio entre eles.

— Taço, por que não tentas beber? Assim vai ter coragem para fazer o pedido.

— Beber? — Tacinho tinha dúvidas a respeito deste método.

— Sim, costumo fazer isso com meus clientes tímidos. Ofereço alguns goles de uísque e toda a timidez vai embora.

Eustácio ficou uns segundos em silêncio, pensando no que Lulu acabara de lhe falar.

— Funciona?

— Sempre funciona, a timidez vai embora e dá espaço para a coragem. Mas Taço, você deveria fazer o que quer, não o que seu pai lhe manda fazer. Vai chegar um dia e você vai se arrepender de tudo isso e...

— Obrigado Lulu. — Disse Eustácio interrompendo a amiga, não se importando com o conselho que ela lhe dava sobre o pai. Não esperou nenhuma resposta da menina, agradeceu e desligou o telefone.

No palacete, quando Alfredo, o fiel assistente do coronel chegou, os dois logo se trancaram dentro do escritório e passaram horas ali dentro trabalhando. Betinho buscou algo para fazer, ficou na biblioteca com seu caderninho, ficou escrevendo ali até chegar a hora do almoço. Saiu animado, correndo pelo corredor e desceu as escadas numa velocidade assustadora, chegou na sala de jantar e viu que havia apenas um prato sobre a mesa, o seu prato. O coronel e Alfredo partiram poucos minutos antes, iriam almoçar fora, mas antes passariam no escritório do advogado, o Thompson. Ao concluir que teria de passar mais algumas horas sozinho, Betinho teve uma ideia, chamou Wanda e lhe fez um pedido:

— Wandinha, seria possível chamar Laura para fazer-me companhia? — Ele concluiu a pergunta e quando estava prestes a contar como estava se sentindo sozinho, tendo o pai e o irmão sempre trabalhando, que seria muito gentil da parte dela ceder a presença da filha, Laura, durante seu almoço. Mas Wanda que não é boba nem nada, que já estava suspeitando da atitude do menino com sua filha, logo fez sumir o sorriso doce e forçado no rosto e falou rapidamente assim que o menino terminou sua pergunta.

— Laura está trabalhando na cozinha no momento, Betinho. Em seguida ela irá trocar as roupas de cama de todos os quartos, portanto estará muito ocupada.

Betinho não se deu por satisfeito. Sentiu raiva da governanta, da mulher que cuidava dele desde pequeno.

— Pois então quero almoçar na cozinha. — Falou e começou a caminhar na direção da cozinha.

— Betinho, não é aceitável que o senhor almoce na presença dos funcionários, muito menos que almoce na cozinha, rapaz. Não posso aceitar seu pedido. — Wanda falou de modo drástico, ele interrompeu seus passos, foi até ela.

— Não estou pedindo, estou mandando! Trata-se de uma ordem! ORDEM! — Puxa vida! Por essa Wanda não esperava, os outros funcionários ouviram o garoto falando alto, coisa que nunca havia feito antes, Laura preocupada foi até lá ver o que estava acontecendo.

— Não levante a voz para mim, Alberto Andrada! Saiba que sou muito bem paga para atender as ordens apenas de Emílio Andrada, não as suas! — Betinho estava vermelho de raiva, mostrava a todos o temperamento que havia herdado de seu pai. Ao ver Laura presenciando aquilo, Wanda foi rápida e mandou a garota voltar para a cozinha. Betinho caminhou até seu assento diante da imensa mesa batendo forte os pés no chão, sem desviar seu olhar em nenhum momento de Wanda, sentou-se e, ainda não se dando por vencido, disse:

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