Capítulo 28 - A visita de Portugal

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Durante o café da manhã, no dia seguinte, Betinho não comeu nada, nem ao menos uma torradinha se quer. Estava apreensivo, mas conseguia beber, tomou umas três xícaras de café, uma atrás da outra. Mas seu pai não notou o comportamento estranho do filho, estava preocupado com as notícias que lia no jornal, tinha de estar muito bem informado sobre tudo o que acontecia no país e no mundo também. Betinho não era prioridade. Laura entrou na sala trazendo uma bandeja cheia de pães de queijo recém-saídos do forno, quentinhos. Enquanto caminhava até a mesa, deu uma olhada em Betinho, não gostou do que viu, mas ela sabia que se olhasse no espelho também não ia gostar. Também estava apreensiva, dormiu pouco por causa de toda aquela preocupação.

Laura colocou a bandeja sobre a mesa, imediatamente, ao sentir o cheiro de pão de queijo, o coronel dobrou o jornal e o colocou de lado.

— Obrigado Laura. — Debruçou-se sobre a mesa e sentiu o cheiro gostoso que vinha daquela bandeja. — Mas que maravilha, do jeitinho que eu gosto. — O coronel logo pegou dois e colocou em seu prato, deu uma grande mordida e mastigou lentamente. Saboreou. — Hmmmm, que coisa boa! Prove um Betinho. — O garoto não ouviu o pai, olhava para o nada. — Betinho!

O garoto deu um pulo na cadeira e olhou atento ao velho coronel.

— Sim, papai?

— Vamos, prove um pão de queijo. Está uma delícia, se você não comer vou acabar com todos. — O coronel falou e sorriu, fazendo graça.

— Obrigado, mas estou sem fome, papai. — Betinho falou e tomou mais um gole de café. O coronel não gostou da atitude do filho, o sorriso saiu seu rosto e ficou sério. Eustácio chegou diante da mesa, todo arrumado, pronto para tomar o café e ir ao trabalho, puxou uma cadeira e sentou. Betinho ficou atento, queria falar com ele, acabou esquecendo-se de seu pai.

— Coma! Ora essa... Tanta gente sem ter o que comer no mundo. — Mandou e resmungou o coronel. Betinho e Tacinho olharam para o pai, o caçula pegou um pão de queijo e deu uma mordida, não tinha fome, não queria comer, mas era melhor comer do que ter de aguentar a raiva de seu pai. Ao que tudo indicava, Tacinho estava bem, o garoto havia bebido muito na noite passada, portanto o coronel quis se certificar. — Acordou bem, Eustácio? Pensei que fosse mais tarde ao trabalho hoje.

Eustácio encheu sua xícara de café e respondeu:

— Ah papai, estou com dor de cabeça e olhe que antes de dormir eu tomei muita água, como o senhor me pediu. — Ele prendeu um cigarro na boca e o acendeu. — Tenho de ir trabalhar, não posso me dar ao luxo de faltar. Uma hora essa dor de cabeça vai passar.

— Isso mesmo, meu filho. Trabalhe, mostre serviço. — O coronel tomou um gole de sua xícara e continuou. — Mas também se continuar se sentindo mal, volte para casa. Você não é escravo da promotoria da cidade.

A campainha da casa tocou, a família não deu atenção. Deixaram que Wanda fosse até a porta.

Betinho comeu o pão de queijo, no final deu um elogio somente para agrado do coronel, que já estava no quarto pão de queijo. O garoto sentiu que aquele era o momento correto para falar com Eustácio, pelo menos falar que gostaria de conversar a sós com ele, mas o coronel talvez ficasse curioso. Vai querer saber do que a conversa se trata, ou talvez não, talvez o coronel esteja muito preocupado com seus negócios, talvez não queira saber dos problemas do filho caçula. Era um risco que Betinho tinha de lidar.

— Tacinho? — Começou o garoto ao irmão.

— Sim? — Eustácio disse e em seguida tomou um gole de sua xícara.

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