17. fear

627 34 131
                                    

eu nunca senti quando eu era jovem

eu nunca soube de onde vinha

agora eu sinto como um furacão

e é tão difícil parar a chuva

(Current Joys)

O ano-novo havia, enfim, chegado.

Eu havia passado a manhã de sábado inteira fazendo companhia para minha mãe. Saímos para tomar café bem cedo e depois fomos caminhar pelo centro da cidade; ela enganchou o braço ao meu e fazia comentários alegres sobre tudo o que nós víamos nas vitrines pelas quais passávamos.

Eu sabia que ela estava tentando tornar as coisas mais fáceis e isso me causava uma agitação estranha no estômago. Me sentia abalado por saber que aquele seria nosso último dia juntos, apesar de tudo, e o sentimento se tornava pior quando eu via mamãe se esforçando tanto para fazer aquele último momento a sós ser agradável e sem lágrimas.

Ela havia me dito que iria embora quando janeiro chegasse e janeiro era no dia seguinte.

Assim como ela estava fazendo, eu me esforcei para não chorar — o que foi extremamente difícil, desde que eu estava mais sensível que de costume —, usando todas as minhas energias para tornar aquele momento algo bom para a gente. Ela ia voltar para Nova Jersey e nós dois ficaríamos não sei quanto tempo sem ver um ao outro; tudo bem que eu havia me mudado para Seul e nós passamos mais de um ano sem nos vermos cara a cara, mas dessa vez era diferente.

Ela estava indo embora sem ninguém, e eu ia ficar e construir uma família. Faltava pouquíssimo tempo para aquela criança chegar e estabelecer a monotonia na minha vida, eu entraria numa rotina voltada para ela e suas necessidades, e não teria muito tempo para influências externas, mesmo com Baekhyun me ajudando em tudo como ele prometeu fazer. Eu sabia como era difícil criar filhos pequenos, havia presenciado situações desconfortáveis o suficiente na minha família.

"É o último dia do ano." Mamãe comentou comigo, aumentando o aperto de seu braço ao redor do meu. Ela havia mudado o corte de cabelo e comprado brincos elegantes para usar naquela noite. No momento, vestia um sobretudo que combinava com o meu, roupas que havia comprado para a gente dias atrás. "Como você se sente?"

Dei de ombros.

"Meio estranho." Admiti. "Não parece que o ano tá acabando de verdade, sabe? É esquisito. E também me sinto meio inchado."

Ela esfregou a bochecha em meu ombro, manchando o tecido escuro do meu casaco com maquiagem e sorriu. Era um sorriso sério e o olhar era mais sério ainda. Eu já imaginava.

"Você conversou com seu namorado sobre o bebê?" Ela perguntou, me puxando para descer a calçada e atravessar a rua. Eu balancei a cabeça, assentindo de maneira nervosa para aquilo, porque eu vinha vivendo frequentemente em meio ao receio e não seria diferente com ela. Principalmente depois do Natal e depois da nossa conversa no shopping. "E o que ele disse?"

"Ele entendeu." Respondi, me esforçando para manter a voz firme. "Ele também tem medo de ser pai. Quer dizer... é difícil para nós dois, sabe? A gente não esperava."

"Eu sei como é, meu bem." Os dedos dela acariciaram meu braço de maneira gentil. "Também foi difícil para mim, e mais difícil ainda para o seu pai. Acontece, não podemos ter controle de tudo o tempo todo, não é?"

Eu concordava com ela, mas me mantive em silêncio, porque sabia que ela tinha muito mais a dizer.

"Antes de ir embora, eu queria te ajudar." Continuou, desacelerando os passos ao caminhar na calçada, para que eu não ficasse cansado tão rapidamente. "Pouco antes de ter você, eu demorei para me acostumar com a ideia de cuidar de um filho. E eu conversei com a minha mãe sobre isso, porque ela e meu pai me deram todo o apoio de que precisava para ter e cuidar de você. Filho... eu fiz aulas de puericultura quando estava grávida, e eu queria que você e seu namorado fizessem também."

how we collideOnde histórias criam vida. Descubra agora