1. pretty in blue

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9B.

Estava chovendo bastante naquele dia. Era outono, e outono sempre trazia chuvas pesadas. Não parecia um bom momento para estar diante daquela porta, principalmente quando eu tinha tanto a dizer, mas não era como se eu pudesse realmente virar as costas e fugir antes que fosse tarde demais.

Pensei, mais de uma vez, que ele abriria a porta, ouviria meia-dúzia de palavras e então suspiraria, me diria que não é da conta dele porque já sou grandinho para lidar com meus próprios problemas. Então ele bateria a porta na minha cara e eu saberia, com certeza, que estava fodido.

Fodido e sozinho.

E era por isso que eu estava hesitando tanto. Não tinha certeza de querer essa confirmação, porque eu não sabia o que eu poderia fazer se a reação dele fosse negativa. Eu não tinha ideia de como ia lidar com aquilo sozinho, e eu também não queria.

Achava justo que nós dois entrássemos no barco furado, porque nós dois fomos responsáveis. Ao mesmo tempo, eu não podia cobrá-lo ou mesmo obrigá-lo a me ajudar. Porque no fim das contas, talvez realmente não fosse um problema dele. E todo mundo me diria isso se eu perguntasse.

Era essa a ideia que eu tinha, e meu medo era ter de ouvi-lo dizer isso na minha cara.

Podia ser qualquer pessoa. Eu só não queria que fosse ele.

"Você tá parado aí há uns vinte minutos." A porta se abriu de repente. Ele parecia entediado, o cabelo bagunçado e a expressão de desinteresse que costumava carregar substituída por curiosidade. "Entra logo."

Baekhyun não dividia apartamento com ninguém. Era só ele, morando numa espécie de conjunto habitacional, onde as instalações eram precárias e não tinha muita gente para chamar de vizinhança. Acho que ele gostava dali porque não tinha incomodação; apesar de seus amigos terem fama de quase criminosos, ele era mais quietinho. Irritável, desinteressado e talvez um pouco arrogante às vezes, mas quietinho.

Entrei no apartamento, fechando a porta atrás de mim com cuidado.

"E então?" Baekhyun se abaixou para juntar uma calça jeans do chão. "O que cê quer?" Fiquei em silêncio por um tempo e ele se voltou para mim, erguendo a sobrancelha. "E aí? Não vai dizer por que tá na minha porta às três e vinte da manhã?"

Coloquei a mão no bolso do moletom automaticamente. Eu escondia as mãos quando estava nervoso, mas, daquela vez, havia outro motivo.

Meus dedos agarraram o teste, e a imagem das duas barrinhas azuis voltou para mim como um furacão.

"Eu to grávido." Eu disse, não sabendo se olhava para ele ou para o chão. As palavras foram rápidas, porque eu tinha medo de falar devagar e parar na metade.

Baekhyun deixou o silêncio preencher o espaço entre nós. Eu via latas de cerveja espalhadas pelo carpete gasto, junto com algumas roupas e papéis, apostilas da faculdade e panfletos de pizzarias. Me arrependi, um pouco, de contar para ele. Um cara que não conseguia organizar a própria casa ia me ajudar a cuidar de uma criança como?

Não éramos muito diferentes, no fim das contas.

Quando olhei de volta para ele, já estava sentado na beirada do sofá, uma long neck de cerveja na mão e a expressão relativamente tranquila para alguém que havia acabado de descobrir que seria pai.

"Você ouviu o que eu disse?" Perguntei, caminhando até ele com o teste em mãos. "Deu positivo, Baekhyun. Eu to grávido."

Ele suspirou, se inclinando para trás.

how we collideOnde histórias criam vida. Descubra agora