O Medo Vive a Espreita

49 6 1
                                    


Acordo com um raio forte de luz em meu rosto, abro os meus olhos de vagar, por causa da luz intensa. Só havia eu no quarto inteiro, até a Luna havia sumido desde que chegamos a Freinor. Vou até a janela e vejo uma figura conhecida deitada no gramado, e noto pelo posicionamento do sol que estava atrasado.

Vou às pressas para o lado de fora me encontrar com o Endiniors, ele permaneci calmo e solene, apenas com a brisa da tarde a bater em seu corpo e roupas, a grama se movendo levemente ao seu redor.

- Ei pirralho! – Ele fala repentinamente. – Pretendia demorar mais?

- Desculpe-me pela demora, é que... Eu acabei dormindo muito.

- Bom, isso não importa agora. Vamos começar logo isso! – Eu concordo. – Bom... Podemos dizer que o fogo você já controla, mas agora faltam os outros três elementos, acho que o mais seguro seria o ar para agora... Fique na posição da garça. – Faço como o pedido, erguendo minha perna esquerda até aproximar do meu abdome, logo após ergo minha mão direita, apontando para minha frente, acima de minha cabeça, deixando o cotovelo para traz da minha cabeça, e a esquerda deixo a frente de meu tronco, esticando-a ao longo de sua extensão. – Certo, agora feche os olhos e respire profundamente, e sinta ao longo de seu corpo o ar te rodear, quando você chegar a um estado de concentração total no ar, sinta sua energia, suas curvas, seu cheiro e peso, trate-o bem como se fosse uma bela dama em seu braços; deixe-o te tocar, deixe-o te ferir, sinta seu poder e magnitude sobre tudo e todos que necessitam dele para viver. E quando ele se demonstrar por completo para você abra os olhos e use-o em algum ponto especifico a sua escolha.

Aos poucos o ar se mostra para mim, em minha mente, na forma de uma mulher a dançar em torno de meu corpo, girando e rodopiando de um lado para o outro e falando algo inaudível para meus ouvidos; como os ruídos do próprio vento.

Me ajeito de forma que pudesse guiar a dama pelo palco que é o mundo, sua silhueta bela e formosa, facilitava a qualquer um que a visse, a se vislumbrar de tamanha beleza que ela possuía.

- Sarvim! Pare Sarvim! Abra os olhos!!! – Gritava o Endiniors.

Ao ouvir sua voz paro e abro os olhos, vendo a destruição causada em tão pequeno espaço de tempo, galhos das arvores que cercavam o lugar esparramados, terra arrancada do chão em grandes blocos e uma gigantesca nuvem de fumaça.

- O que houve?! – Pergunto assustado.

- Você é muito forte!!! Todos os elementos até agora causaram uma grande destruição e os próximos não serão diferentes!!!

E ele teve a razão; no dia seguinte treinei a terra, quase abri um cânion na área onde estávamos, sem contar que varias estacas de pedra se ergueram do chão quase atingindo a torre. Com a água não foi tão diferente, a região foi totalmente mergulhada em um oceano, por sorte conseguimos conte-la a tempo.

E mais umas semanas se passam, desde então aprendi a conter todo o meu poder destrutivo, não era seguro usar magia, não para mim, ao menos.

Todos os outros alunos me olhavam invejados, por não terem um grande poder quanto eu tinha e a Skardeni quase não falava comigo mesmo sendo minha colega de quarto. Até que depois de ao todo dois meses treinando e contendo o meu poder, finalmente chega a hora de ser avaliado pelo Grande mestre.

- Bom... Não duvidaria se você não conseguiria cumprir o treinamento em menos de vinte anos, e com tanta eficácia, mas sempre a vocês, os gênios... – Falava o velho senhor me encarando enquanto se debruçava sobre a sua mesa. – Me mostre algo que valha a um ensinamento.

Eu estendo as minhas mãos logo após poucos segundos, e delas começo a expelir um gás lucido que logo toma a forma de uma lança de ar, leve e letal, e logo após a finco no chão, assim formando um buraco no local.

- Impressionante! Mas não o suficiente. – Dizia o velho.

- Espere e vera... – Falo em tom baixo. E após poucos segundos, grandes estacas surgem saindo da ponta da lança, e um grande clarão em chamas surge logo após. – Ops... Acho que exagerei... – Estendo minha mão fazendo uma grande bolha de água que some junto do resto.

- Sim... Sim... Isso é o que eu queria... Três, não, cinco elementos ao mesmo tempo... Você realmente tem muito potencial meu jovem! Pegue o que te escolher e siga a sua jornada...

Agradeço ao Grande mestre, e vou até altas prateleiras que tinha ao lado esquerdo da sala, e um pequeno livro de bolso me chamou atenção, por ser o mais simples entre os livros que havia, pois era o de aparência mais simples e ao mesmo temo o menor entre todos; sua capa feita de couro, sem adornos, e todo surrado.

Eu acabo por pegar ele, e me retiro da sala, fazendo a devida reverencia. Vou até o meu alojamento onde as minhas coisas estavam guardadas, e ao chegar pego o livro que a Skardeni me deu, ele possuía algo com meu passado, mas não só isso, suas paginas por estarem lacradas me chamava ainda mais atenção.

O colocando na mala e pegando o meu novo livro, virando suas paginas uma a uma, nele haviam vários escritos em diversas línguas, dificultando seu entendimento, com tendo uma magia completa a cada dez paginas demoraria um longo tempo até eu me acostumar com sua linguagem diferenciada.

Começo a lê-lo, pois possivelmente essa seria minha ultima noite em uma cama macia e confortável, no próximo dia partiria para um verdadeiro reino de sombras, de onde apenas a morte poderia me retirar... O castelo no demônio ao norte.

O conteúdo interior do livro se baseava em escritos singulares aos das magias de fogo, mas não eram magias normais, como as que qualquer um imaginaria. Citava mais sobre um guerreiro que lutara com chamas negras devastando terras e povos, o tornando lenda, e muitos alertas sobre o perigo da magia em si...

Para convoca-lo para o nosso plano, necessitava citar uma única palavra de um alfabeto completamente diferente do normalmente usado; "tirsfiken", também chamado "fogo celeste". O fogo que queimaria por toda a eternidade, trazendo assim o fim dos tempos, junto as suas chamas.

Eu tentei evitar prosseguir a leitura e até mesmo vir a usar ele, mas algo dentro de mim ansiava pelas chamas do purgatório, algo cruel e odiável, um ser do qual não gostaria nem de ver por reflexo.

Um gelo em minha espinha me faz fechar o livro, o ar aparentava estar rarefeito, era uma sensação da qual eu nunca antes tive a oportunidade de ter, era o que eu pensava; meu peito ardia em chamas, meus braços tremiam interminavelmente, e meu sangue fervilhava.

- O que eu... Sou...? – Falava com as minhas mãos me enforcando. – Um demônio...? Quem eu... Sou...? – Meu ar acabava a cada segundo que passava. – Meu nome...! Eu quero... Eu quero saber!

- Sarvim! – Ouço uma voz familiar e começo a procurar sua fonte, mesmo não enxergando nada, minha visão estava totalmente embaçada. – Para Sarvim! Está... Me... Matando...

Minha visão subitamente volta, e a minha frente ninguém mais do que o Endiniors, ele estava com as mãos em seu pescoço que estava sendo apertado pelas minhas mãos.

- Ah... Ah! Perdão! – Grito já soltando de seu pescoço.

- Afinal de contas o que houve?

- Algo... Não! Um ser demoníaco... Isso um ser, a algo terrível dentro de mim!

- Bom... Difícil de saber sobre essas coisas... Mas talvez você realmente tenha um grande poder oculto dentro de seu corpo... Bom... Sarvim, esta na hora de sua partida, tenha uma boa jornada.

- Certo... Acho que devo mesmo partir em minha busca, nela talvez eu descubra algo sobre mim...

- Vá com cuidado!

Sem prolongar a conversa, ajeito meus pertences, e rumo ao mundo novamente, deixando o conhecido para descobrir o desconhecido, e talvez até saber quem ou o que sou...

Normalmente as historias se originam a partir de grandes feitos de antepassados, dos quais os jovens decidem seguir como exemplos, mas eu foi por minha pura determinação e medo. Esse seria o ponto onde tudo começaria, mas no fim, essa é apenas o seguimento de uma longa jornada para as montanhas do fim, onde ele estaria me esperando com suas presas ensanguentadas com o sangue de minha amada e de outros...

Aventuras em ZarganfOnde histórias criam vida. Descubra agora