cappuccino, mocca e expresso

Bittered Irish Coffee

🍀🍀🍀

Felix nunca teve muitos amigos.

Primeiramente porque sempre foi aberto com sua sexualidade. Olhava para garotos da forma que seus amigos olhavam para garotas, fazia os comentários sem vergonhas e era ele mesmo, e não via problema nisso.

Ao menos, não na Austrália.

Mas foi inevitável sentir-se envergonhado de quem era durante todo o seu ano na Coreia.

Apenas tinha dois amigos, Yedam que era um ano mais novo e falava inglês perfeitamente, e Dahyun, que era uma amiga virtual e morava em outra cidade. O primeiro, diferente de Felix, tinha muitos amigos e precisava de certos dias pra sair com cada um deles, mesmo que o australiano fosse prioridade, às vezes outras pessoas precisavam do mais novo, que à pedido de Felix, os ajudava e deixava o australiano sozinho.

   Naquele dia em específico, alguns bullers do colégio tinham pego um pouco pesado com ele. Tinham jogado seu estojo de markers de tom pastel no lixo, rasgado os desenhos que fez usando um casal lgbt da escola como base e quase roubado seu suéter amarelo pastel e jogado-o pela janela, se Yedam não tivesse aparecido para impedir.

   Yedam, porém, tinha o clube de música ao qual pertencia, e Felix não estava com vontade de ir para a aula. Nem se importava pela penalidade que levaria da comissão do intercâmbio e nem da sua host family, só queria ficar sozinho com sua insegurança e esconder o rosto sardento e feioso entre os joelhos.

   O jardim escondido da escola, seu refúgio, onde normalmente escutava musicas felizes e desenhava algumas flores, era hoje o cenário para uma tarde acinzentada tristonha, com cheiro de chuva e terra molhada.

   — Hey, menino, por que está sozinho? — escutou uma voz gentil, e não resistiu em levantar o olhar avermelhado e encharcado. Sua surpresa? O casal lgbt do colégio que sempre lhe inspirava à desenhar. Limpou seu rosto com rapidez e pensou em sair correndo, mas foi parado pelo mais alto dos dois, que o segurou pelo rosto e o olhou nos olhos.

   — Por que está chorando? Aí meu Deus, Changbin você tem um lencinho? — pediu, com o coração partido e olhando para o mais velho, que logo saiu do transe e começou a procurar os lenços no bolso interno de seu blazer escolar.

   Felix não tinha os uniformes completos, apenas a calça e a camisa social, uma jaqueta e o uniforme de educação física. Não tinha gravata, blazer ou os sapatos obrigatórios, por isso sempre era parado pelos inspetores do colégio e interrogado em uma língua que mal entendia.

   Logo o mais velho se abaixou ao lado do namorado, se inclinando para limpar as lágrimas dos olhos arredondados do intercambista, que sentiu o coração acelerar num descompasso indescritível.

   Changbin logo o reconheceu como o garoto que precisou fazer o discurso no primeiro dia de aula com um coreano todo quebrado e quase saiu correndo chorando. Ele era muito fofo de perto, com as sardinhas bem distribuídas e as olheiras e a pele amorenadinha, simplesmente um encanto. Hyunjin também sentiu o coração pular uma batida quando notou os lábios avermelhados e as feições angelicais. O australiano parecia um ser tão precioso naquela hora.

   — Shh, shh, não precisa chorar amorzinho — Hyunjin continuou, passando as mãos nos cabelos e ombros do menor, enquanto Changbin ainda limpava suas lágrimas.

   — Respira fundo, tudo vai ficar bem, okay? — o mais velho ali declarou, dando a mão para o mais novo em sinal de conforto. — Aí Jesus, será que ele entende coreano??

   — Fala em inglês amor! — Hyunjin encorajou, e Changbin logo começou a falar num inglês muito quebrado.

— Hush, hush baby, don't you cry no more — cantarolou, apertando as bochechas macias do australiano. — Oh my gah- this is so fluffy!!