O garoto do coração medroso

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A noite foi mais silenciosa do que de costume e Lucas sabia que aquilo tudo era culpa de seus pensamentos preocupados. Ambos, ele e Mei Ling, ficaram tão aflitos ao conhecer o pai de Mark, e ver as expressões do garoto, que não conseguiram conversar melhor sobre sua relação atual; apenas se despediram quando os pais da garota chegaram para buscá-la. Mesmo que não fosse este tópico que perturbasse a mente de Lucas agora, ele sabia que Mei Ling no momento era mais do que sua amiga. Sabia também o que ela sentia por ele, contudo precisava de um esclarecimento a respeito dos seus sentimentos. Infelizmente acabou sem tempo para questionar seu coração, tudo o que conseguia fazer agora era se preocupar com Mark assim como Mei Ling também estava fazendo. Rolava de um lado ao outro tentando desligar sua mente e dormir logo, entretanto tudo em vão, por isso decidiu ir à cozinha tomar algo quente e ver se seu estresse diminuía.

Enquanto aguardava o chocolate quente que fazia na máquina ficar pronto, Lucas ponderava qual o possível segredo que Mark escondia. Em pouco notou a presença de Yan na entrada da cozinha. Ela o fitava quieta, contudo, estava com o olhar um tanto aflito.

— Qual o problema? — assim que a máquina apitou, ele esticou seu braço alcançando duas canecas no armário.

— Você está apresentando fortes sinais de estresse e tensão. Está preocupado.

Com um sorriso de lado, Lucas dividiu o chocolate quente nas duas canecas e entregou uma, a amarela, para Yan. O robô por si só não sentia fome, entretanto Lucas se sentiria mal tomando tudo sozinho, mesmo que conseguisse pela pouca quantidade que fizera. Yan agradeceu com um aceno de cabeça e alcançou a caneca amarela, todavia diferente das outras vezes ela não sorriu.

— É, pode-se dizer que estou preocupado. — se apoiou na pia aquecendo as mãos na caneca azul marinho que segurava.

— Está preocupado com seus amigos? — para ela, beber aquele líquido extremamente quente não doía.

— Bom... Com Mei Ling eu sei que vai ficar tudo bem. Quero dizer, os pais dela são um pouco ausentes por causa do trabalho, mas eles se importam muito com ela. Vão ficar desapontados? Talvez, mas não farão nada pior do que colocar de castigo, eu tenho certeza. Agora o Mark... Estou tendo um mal pressentimento.

— Então é no Mark que está pensando?

Lucas concordou com a cabeça e logo que viu a forma acolhedora em que Yan o encarava, acabou pensando alto:

— Como se assemelha tanto com uma pessoa carinhosa sendo um robô...?

— Fui criada com alguns sentimentos salvos no meu banco de dados, gostaria de ver minha lista de...

Lucas levantou sua canhota negando com a cabeça brevemente.

— Não tudo bem, eu me lembro disso. — tomou uma golada do chocolate após resfriá-lo um pouco — Esse episódio foi algo inesquecível.

Certamente o dia em que Yan foi criada nunca mais seria esquecido por ninguém que estava presente para ver.

— Você deveria ir dormir. Sua mente precisa de um descanso apropriado.

— É eu sei... Mas como sempre, fácil de falar, difícil de fazer.

O silêncio quis perdurar novamente com os dois focando-se somente em tomar o aquecido leite com chocolate que Lucas havia feito. Yan buscava uma forma de solucionar o problema de Lucas, porém a qualquer sinal que ela fazia para tentar animá-lo, ele simplesmente sorria de forma melancólica.

— Bom, obrigado pela companhia Yan, mas está na hora de ir pra cama. Vai ser uma batalha perdida, só que preciso dormir de qualquer forma.

Os dois se despediram naquele momento, a robô voltou a se sentar no sofá para desligar e recarregar seu sistema enquanto Lucas deixou as canecas umedecidas com água dentro da pia e seguiu novamente para seu quarto. Estava de volta na cama encarando o teto. O silêncio sempre foi incômodo para o garoto, e esta noite ele estava o perturbando mais que o normal. Cobriu o rosto com o travesseiro abafando um suspiro irritado e após um tremelique na cama, Lucas continuou sua luta para conseguir dormir.

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