Meu pai e Eu

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Mark acordou no meio da madrugada. Estava um tanto aliviado por ter dito a verdade para seus amigos e finalmente revelar seu segredo. Não sentia mais um peso em seus ombros e estava feliz por ter sido honesto. Agora o que lhe restava era conversar com seus pais a respeito de tudo. Haechan e Lucas tinham razão, o problema não se resolveria sendo ignorado e ele precisava encarar isso de frente. Não iria fugir dessa vez.

Alguns passos desconectaram Mark de seus pensamentos. Já na cozinha, ele via-se esquentando a sopa que Haechan lhe fizera para jantar junto a um copo de água. Sua mãe foi quem se pronunciou primeiro e logo o senhor Lee adentrou também a casa.

— Como está se sentindo filho? — a mãe deixou a bolsa sobre a bancada de silestone.

— Melhor do que antes, eu acho. — buscou um prato fundo no armário.

— Se ainda estiver ruim, vá para a cama e descanse mais. — o pai falou.

Com um sorriso, a mãe também se aprontou para seguir o marido pelo corredor.

— Vou tomar banho e logo mais dormir. Então... Boa noite. — O senhor Lee já via-se ausentando-se quando interrompido pelo filho.

— Espera... Eu preciso dizer uma coisa.

Seria uma longa noite de conversa para a família Lee. Mark temia que não tivesse voz naquele lugar ou que fosse punido outra vez, contudo não se deixou consumir pelo medo e notou aos poucos que quanto mais se abria, menos angústia sentia. Não queria que o olhassem com desaprovação ou decepção como todas as outras vezes. Agora ali, como se estivesse nu e cru, ele expôs seus sentimentos mais sinceros aos pais, implorando internamente que acreditassem em suas palavras e o amassem como deveria ter sido desde o princípio.

— Eu não estava comprando.

— O que?

— Drogas... Eu não estava comprando e nem o Donghyuk...

— Mark, agora não... — o pai o fitou perplexo.

— Eu nunca faria isso. Estavam obrigando-o e eu quis ajudar, e então...! — foi interrompido pela mãe.

— Mark, não queremos mais falar sobre esse assunto e você sabe...!

— Eu sou seu filho droga, não podem me ouvir ao menos uma vez?!

— Não levante a voz com a sua mãe!

— Vocês ao menos sabem como me sinto?! Sabem como é se sentir solitário e mesmo assim ter de se contentar com a própria companhia?! Essa é a minha vida todos os dias! Droga! Às vezes eu queria nunca ter nascido!

— Já chega! — com um nó na garganta, o pai exclamou — Nunca mais diga uma coisa dessas!

— Eu só estava tentando ajudar meu amigo...! — a voz falha seguia a força em que Mark segurava as lágrimas — Lealdade, dignidade, moral. Um bom coração e bom caráter... Não foi o que me ensinou? — respirou fundo, não queria ceder ao choro — É isso que eu ganho por tentar?

— O que fizemos, fizemos por você...! — o pai foi firme mesmo sentindo o coração se contorcer.

— Por mim? Olhem pra mim, sou uma fraude... Este não sou eu... — a voz saía baixa e pesada — Ninguém precisa saber já que estou lidando com isso sozinho... Eu não sinto seu amor, por que não acreditam em mim?

Seus pais estavam sem palavras. Os lábios trêmulos da mãe pareciam dedurar o coração atordoado. Com os braços abertos ela caminhou em sua própria lentidão para amparar o filho. Sussurrava perdão enquanto acariciava os negros fios de cabelo do garoto seguido por selares leves em suas mechas. Enquanto o pai, de punhos fechados e olhos marejados, encarava o filho sem reação.

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