CAPÍTULO 1: AQUELA PALAVRA!
- Eric – Eu me lembro do dia fatal em que minha mãe proferiu aquela palavra pela primeira vez. Aquilo chegou aos meus ouvidos como um carrapicho na meia e cheirou mal como uma torrada queimando na cozinha. Eu nunca mais seria o mesmo. Como pude ser exposto de tal forma àquela palavra? Eu estava bem na minha quando, de repente, percebi que o nariz de minha mãe se aproximava do meu rosto como se ela fosse um cientista maluco analisando pelo microscópio uma ameba amassada. Eu, sentindo-me um tanto desconfortável, tentava desviar-me. mas o nariz persistia - aproximando-se cada vez mais perto... e mais perto... e mais perto. Até que finalmente: - Ah! Minha mãe vencera! Ela descobrira a verdade escondida... um pontinho amarelado! Mas a pior parte estava por vir. Foi a palavra que ela disse que provocou mal-estar e embaraço. - Eric, parece que você está na... E foi bem aí que ela falou aquela palavra! Pouco tempo depois, fui novamente exposto àquela terrível e abominável palavra. Outra vez ela saiu dos lábios inocentes e confiantes de minha própria mãe. Dessa vez, aconteceu na cozinha. Eu não sabia do perigo iminente, enquanto fuçava, matava a sede e a fome em um de meus cômodos preferidos da casa. Era lá onde eu encontrava algum refrigério. Era naquele exato lugar onde eu encontrava paz, alegria e satisfação. Mas também foi lá onde eu me vi face a face com aquela palavra! - Mãe, me dá um copo de leite? Enquanto dizia aquilo, minha voz falhou como uma taquara rachada. Foi como se um enorme ovo tivesse sido quebrado bem em minha cara. Minha mãe riu e disse:
- Que bonitinho! Eric. você está passando pela... E outra vez. tão claro como o dia, tão mal cheiroso quanto um gambá -aquela palavra. É muito triste ter de dizer isto: eu, Eric, não sou o único que foi amaldiçoado por essa terrível palavra. Essa palavra tem uma reputação! Na realidade, é algo centenário! Sabemos que ela fez com que os criminosos mais durões ficassem corados de vergonha. Muitas mães já experimentaram grande desgosto, e pais se esconderam devido ao seu simples pronunciamento. E ela não afetou apenas a plebe. A história nos revela que ela derrotou até mesmo o cavaleiro mais corajoso e a princesa mais digna. Na verdade, essa palavra maluca é conhecida por ter fraquejado os joelhos do zagueiro mais durão e por ter amolecido como gelatina o coração do mais bravo oficial da marinha. Aquele dia fatal na cozinha não seria a última vez que eu teria uma colisão frontal com aquela palavra. Não passou muito tempo para que as espinhas começassem a brotar em meu rosto como os cactos do nosso jardim e uns odores estranhos começassem a exalar de minhas cuecas anunciando em "claro e alto som" que Eric estava embarcando em um período de sua vida chamado... AQUELA PALAVRA! Logo depois, todo o caos culminou com um enorme massacre da dignidade de minha infância, quando meu pai me chamou para termos "A conversa". "A conversa" baseou-se naquela palavra. Tudo o que era mais desagradável, tudo o que era estranho, tudo o que era gorduroso era culpa daquela palavra! Uma noite meu pai me convidou para acompanhá-lo em uma volta pela cidade. Não havia nenhuma razão em particular, apenas um passeio inocente pela cidade. Foi uma conspiração! Eu devia ter pressentido no ar, mas estava muito distraído para perceber. Entramos em nosso carro amarelo cor de banana (uma linda lembrança dos meus tempos de criança) e nos dirigimos para a rua para um... estacionamento! Meu pai sabia o ambiente perfeito para fazer com que seu filho se sentisse confortável. Com a justificativa de conversar sobre estratégias de futebol (meu pai era o meu técnico, e nós teríamos um jogo na manhã seguinte), ele começou a falar:
- Então. hum. Eric... ah. acho que você poderia me ajudar a planejar a posição do time para o jogo de amanhã contra os Blazers. o que acha? Ele perguntou com um constrangimento que encheu todo o nosso carro amarelo cor de banana. Concordei, e papai prosseguiu - procurando por uma folha de papel que tirava de sua maleta. Eu podia sentir que uma granada estava para explodir. - Bom. porque não colocamos o Luck aqui. à direita, e talvez o Johnny no meio do campo, à esquerda e...uh... Ele parou. De repente, o silêncio pairou no carro como o vento gelado de inverno atravessa a camiseta. Passados alguns segundos, com a coragem de um novilho que sabe que está indo para o matadouro, ele continuou: - Éééééé que. bem... ele murmurou. - Hã! hã!... pigarreou e continuou, falando nisso. Eric. tem uma coisa que quero falar com você. A granada havia sido lançada, e eu era o alvo. Nunca me esquecerei daquela noite no estacionamento. Passei, praticamente, toda a noite fitando o chão do carro amarelo cor de banana, com as bochechas enrubescidas e com os ouvidos transbordando com aquela palavra. Naquela monotonia, a única coisa que eu disse durante toda a noite foi "u-hum". Era como se fossem dois terríveis pesadelos em um só: beijar o meu irmão na boca e ir para a escola sem roupa. Mas se para mim era difícil, imagine para o meu pai. pois ele foi a pessoa que. de fato. falou aquela palavra! Se eu pudesse, nunca mais pensaria naquela palavra, ou a ouviria, ou a pronunciaria novamente. Mas acontece que um crime imperdoável ocorreu em nossa sociedade, e o culpado precisa ser claramente identificado. É isso mesmo - aquela palavra é a suspeita principal. Essa não é uma acusação trivial. Esse foi um crime capital merecedor de uma punição que "coloque todos os pingos nos is" até que haja o cumprimento total da lei. Existe alguma coisa em nossa sociedade que tem torturado as mentes dos jovens, atormentando-os com