Capítulo V

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Acordei com frio.

O corpo quente de Noah não estava mais perto do meu. Rolei um pouco na cama e fiquei observando o teto até decidir me levantar. Manti o meu pijama e fui em busca das minhas pantufas de unicórnio.

Minhas pantufas mesmo, não de Sara, eu sinto saudade de ser excêntrica, ser uma imitação é um saco.

Caminhei até a cozinha arrastando os pés, minha barriga roncava, mas eu não tinha coragem nenhuma de cozinhar, muito menos de caminhar dois quarteirões pra comer em algum café.

Abri a geladeira.

Preciso fazer compras.

Peguei a garrafa de leite e coloquei em cima da bancada, abri um dos armários e encontrei Sucrilhos. Peguei a caixa e uma tigela verde.

Despejei o conteúdo da caixa na tigela e adicionei leite.

Café da manhã de adolescente, mas saboroso.

Comi enquanto fuçava minhas redes sociais, o silêncio da casa estava me incomodando. Por isso, liguei a TV, na esperança de que o som me fizesse sentir menos sozinha.

Meu aniversário é daqui a quase três semanas. Odeio festas, todas as que tive foram graças à Sara. Ela era o espírito da festa, sabia, com facilidade, como se integrar a grupos diferentes, ser atenciosa a todos os convidados e ainda conseguia se divertir.

Quando meu cérebro voltou a funcionar, percebi o que tinha feito. Acabei de enviar uma mensagem em nome da Sierra.

O mundo acha que a Sierra está morta. Deixei meu celular em cima da mesa e me afastei do mesmo.

Caralho, eu sou muito burra.

Meu coração batia acelerado, minha garganta secou tão rápido que comecei a tossir. Eu iria ser descoberta antes do que eu imaginava, eu tinha certeza disso.

Sentei no sofá com cautela, eu sentia que o celular podia me atacar a qualquer minuto.

A cerimônia de Sarah foi quase que secreta, minha família não ficou sabendo, na verdade eu não tinha contato com quase ninguém.

Todas as pessoas que eu amo morrem. Minhas avós, meus pais e então Sarah.

Soltei uma risada amarga. Isso dói.

Eu sabia que tinha que contar pro Noah, em algum momento minha farsa iria ser revelada. Em algum momento eu iria deixar escapar alguma coisa, deslizaria, me embolaria na minha mentira. Eu tinha que contar agora que a mentira ainda estava recente. E então esperar que ele pudesse, algum dia, me perdoar.

A porta do apartamento se abriu e um Noah suado com a camisa jogada no ombro apareceu.

- Eai, dorminhoca? - Ele veio até mim e antes que selasse nossos lábios eu vi, em sua barriga as marcas do acidente. Toquei seu abdômen, seus olhos seguiram o caminho que meus dedos faziam ao percorrer cada centímetro de seus machucados.

- Dói? - Perguntei quando percebi seu cenho franzido.

- Com você tocando assim? Não - Ele pegou uma mecha do meu cabelo que estava em meu rosto e a colocou atrás da minha orelha e então fez um carinho em minha bochecha. - Mas se você apertar, ainda dói.

Levei meu rosto em direção ao seu abdômen e depositei um beijo no lugar que me parecia mais dolorido devido a sua coloração roxa.

- Um beijinho para sarar - Falei e sorri docemente para ele.

Sua mão puxou meu rosto para mais perto do seu e me beijou, um beijo calmo e doce. Ele terminou o beijo com um selinho doce.

- Seu lado romântico está sendo uma novidade pra mim, assim eu apaixono de vez. - Ele falou com a boca ainda próxima da minha.

Lie to MeOnde histórias criam vida. Descubra agora