Flippo abriu os olhos, ainda deitado em sua cama. O calor remanescente da lareira, quase apagando, mantinha a cabana aquecida, tirou a pele de urso que o cobria e sentou-se, espreguiçando.
Olhou para a chaleira em cima do fogareiro e constatou que seu pai já havia saído. O cheiro no bule denunciava o preparo da bebida quente que ele sempre fazia, antes de ir para as minas.
Ele então levantou e serviu-se de um gole da bebida.
Abriu a janela para ver como estava o dia e os primeiros raios do sol começavam a tingir de vermelho o céu. Não haviam nuvens espessas, nenhum sinal de chuva, apenas a neblina matinal, tudo normal. Terminou de beber seu chá, lavou o rosto na bacia e colocou suas vestes de caça.
Mesmo para um menino franzino, alguma função ele precisava exercer na ortodoxa vila anã dos Bedaürinde, ao extremo norte do planeta.
"Nenhuma gema é minerada sem o martelo de um anão" - dizia o avô de Flippo, era o que o menino costumava lembrar antes de sair para a caça.
Já vestido com o casaco, as aljavas cheias de flechas, a mochila com os restos de comida e o cantil com água apostos, pegou suas duas armas: o arco curto e a flauta de marfim. Guardou-as em suas costas e bolso, respectivamente e deixou a pequena cabana.O frio matinal o saudou, fazendo-o estremecer. O clima na colina era bem severo.
A direita estava a estrada para a vila anã na montanha branca. Mas, seu destino era o outro caminho. Flippo desceu pela escada natural que havia formado na encosta do morro, adentrando na floresta que descia até o litoral da grande ilha. Árvores altas, com as pontas finas, em forma de pinhos, ainda mantinham as folhagens verdes, sobrevivendo a estação que antecede o rigoroso inverno.
Depois de alguns passos, os barulhos das aves e dos pequenos mamíferos procurando por alimento se transformavam em alvos para o pequeno caçador.
Flippo olhou ao redor e sacou uma de suas armas, a flauta que havia escondido em suas vestes. Ele a levou à boca, fechou seus olhos buscando se concentrar e suavemente começou a entoar notas que se mesclavam aos sons da floresta.
Algumas aves levantaram vôo, mas alguns animais menores como esquilos e coelhos brancos se aproximavam ao som melodioso da canção. Flippo abriu os olhos, sem terminar a última nota, ansioso para avaliar o tipo de caça que havia conseguido atrair, quando viu os animais ali presentes ficou constrangido por serem todos de pequeno porte, mas aproveitou a cilada e antes que eles fugissem capturou um de cada espécie para garantir o jantar de seu pai.
Jogou as caças no alçapão e seguiu para a trilha no encosto da montanha, adentrando ainda mais a floresta, com rapidez e destreza em seus passos.
Era um caminho conhecido, que Flippo tinha pressa em trilhar.
Depois de longos passos ligeiros, saltos e travessias em riachos, ele chegou na abertura oculta ao pé da montanha, encoberta pelas árvores e ramagens.
Havia inscrições na caverna na cor azul néon, que eram refletidas durante a noite. Flippo se aproximou com cuidado e assobiou como quase a imitar um pássaro da região. O assovio alto foi respondido por outro do mesmo som, porém com tonalidade mais grave.
Esse era o sinal combinado, o local estava seguro ele entrou na caverna onde seu mestre estava escondido.
Uma criatura negra, de estatura alta e corpo esguio, cabelos azuis escuros como uma noite enluarada, presos em pequenas tranças e olhos prateados reluzentes. Era um elfo das profundezas, ou drow como era conhecida sua raça.
- Como vai Mestre? Precisa de algum alimento? Tenho comida , água e carne fresca aqui comigo. - perguntou o menino
- Você subestima minhas habilidades, pequeno aprendiz. Eu já me recuperei do ataque que sofri, já consigo caçar. - após uma pausa ele continuou – Aliás, com mais aptidão do que somente roedores e mamíferos pequenos.
Flippo abaixou a cara para o chão, suspirando de decepção. Seu rosto era iluminado pelas chamas azuladas que crepitavam das tochas presas nas paredes da caverna.
- Não se preocupe tanto assim, você tem evoluído bastante, antes nem isso conseguia. - tentou consolar o tutor.
- Verdade mestre, mas quando vou conseguir enfeitiçar um cervo ou um urso polar?
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As Aventuras de Flippo e o Trinustempus
PertualanganHá quase um ano do desmoronamento que soterrou sua mãe nas minas anãs de Bedaürinde, Flippo toma conhecimento de um torneio que tem como prêmio viajar no tempo. Instigado pela lembrança da mãe, o pequeno parte rumo à essa aventura. Na companhia do...