Capítulo 6

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James estava desenhando no jardim. Sabia que aquele momento chegaria, mas ainda não estava preparado. sabia que a qualquer momento teria que enfretar o Marquês.

- James, disse Gerald, milorde deseja te ver.

Sentiu o corpo gelar. Era agora, enfrentaria o causador da morte de seu pai. 

Respirou fundo, se levantou e seguiu Gerald até o escritório do Marquês.

Bateu na porta e esperou ser convidado a entrar. Henry pediu que entrasse e logo lhe indicou uma poltrona. Puxou na memória lembranças do Marquês e pôde notar que havia perdido bastante peso, o cabelo estava cumprido e a barba por fazer, nada de como se lembrava. O mesmo sempre se destacava por sua altura e seu porte atlético, principalmente pelo exercício que fazia ao ajudar em todos os serviços braçais nas suas propriedades, porém, seus traços aristocráticos estavam ali, intactos, deixando transparecer a verdadeira aparência de um homem que sofre a perda de uma pessoa amada.

- É realmente um prazer senhor Ward. Ouvi coisas muito boas sobre você. Espero que sejam todas verdadeiras.


- Obrigada Milorde. Disse James, encarando o Marquês.

- Eu gostaria primeiramente de me desculpar por não estar aqui quando você precisou. Fiz uma promessa ao seu pai e vou cumpri-la. Henry respirou fundo e se curvou levemente, deixando o peso de seu sofrimento vir a tona. Sinto muito por seu pai, ele era um bom homem.

- Sim, disse James concordando por alguns segundos, ele era sim. E não se preocupe, sei me virar bem quando necessário.

Henry sorriu diante do comentário corajoso do rapaz a sua frente.


- Sei o quanto é difícil para você estar aqui James e sei que você me culpa pela morte de seu pai, mas você já é um homem, e homens James, defendem sua família de tudo o que puderem, foi o que eu fiz e foi o que seu pai fez. Ele sabia dos riscos que corria tanto cuidando de minha esposa quanto cuidando dos enfermos da vila. Se ele tivesse contraído a doença de outra pessoa qualquer você a estaria culpando agora? Culparia uma pessoa por pedir que cuidasse de um ente querido?

James refletiu sobre as palavras do Marquês, tudo fazia sentido. Estaria culpando Henry por seu pai ter sacrificado sua vida em troca de uma vida melhor para o único filho? Fora um tolo descontando sua dor em alguém, seu pai não merecia que sua memória fosse desprezada desta forma.

- Não senhor, eu não faria isso.

- Sei que não, você é um bom garoto e já é quase um homem. Farei tudo o que puder para que você se torne um homem honrado, cumprirei minha promessa ao seu pai, pois ele foi um homem bom.

- Sim senhor, ele gostaria disso.

- Pois bem, disse Henry, gostaria de saber sobre suas preferências de ensino, você pode ir a escola ou pode continuar com suas aulas aqui, claro que eu contrataria mais professores, já que suas lições seriam diferentes das de Mary. Mas não precisa decidir agora, pense e amanhã me avise. Após o café discutiremos esse assunto, o que acha?

James não acreditava na gentileza daquele homem cheio de poder. Ele poderia fazer o que quisesse com ele e mesmo assim estava ali lhe perguntando sobre seus desejos. Realmente aquele lugar não era comum, ninguém ali era comum.

- Eu agradeço sua gentileza senhor, mas não precisa acatar minhas escolhas. Tudo o que milorde decidir é o que farei.

- Meu caro James, disse Henry sorrindo e se levantando, segurando James pelo ombro, você verá que sua felicidade para mim será mais importante que tudo. Enfim, vá se arrumar para o jantar, quero ver meus filhos queridos juntos hoje.

James ficou paralisado, o marquês o chamou realmente de filho? E querido além de tudo? Ele se levantou e foi para seu quarto, mas foi surpreendido pelos empregados levando suas coisas para os aposentos do andar de cima onde apenas os donos da casa se acomodavam.

Não acreditando perguntou a um dos empregados quem foi o responsável por essa ordem.

- Ora, claro que foi o marquês, ele deu a ordem pessoalmente a Gerald e disse que você deve ser tratado como um membro da família agora.

James foi para seu novo quarto com a cabeça em turbilhão. Aquele lugar tinha o tamanho da sua antiga casa. A cama era imensa e tinha uma estante cheia dos seus livros favoritos. Como era possível saber, só comentara com Mary sobre seus gostos. Mary, como ela se lembrou de tudo isso?

Foi se lavar em uma banheira preparada para ele e já ia se trocar quando alguém bateu a sua porta.

- Senhor Ward, disse um rapaz um pouco mais velho que ele,sou Edward, serei seu criado, e lhe ajudarei em tudo que precisar .

- Criado? Mas, mas não preciso de criado. Eu sei me vestir sozinho. Ei pode parar... Disse James afastando as mãos de Edward de sua toalha que estava enrolada na cintura.

- Sim, sei que o senhor sabe fazer tudo sozinho, mas agora vestirá coisas diferentes, o senhor agora faz parte da nobreza.

James deixou que seu criado Edward lhe ajudasse em alguns momentos. Colocar a gravata, por exemplo, foi um desafio, mas no restante se saiu bem e pediu que ele lhe ajudasse apenas quando necessário.

James desceu para o jantar alguns minutos adiantado e encontrou Henry olhando o quadro de sua esposa que ficava no hall de entrada da sala de jantar. Parou um pouco para observar também. A marquesa e Mary eram muito parecida, muito mesmo.

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