Capítulo 1

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 York, Inglaterra, 1870.

Mary acordou assustada com o som da chuva que caia impiedosamente lá fora. Agarrou sua coberta, não deveria ter tanto medo, já tinha 13 anos e prometeu que seria corajosa, já que foi esse o último pedido de sua mãe que sucumbira, juntamente com muitas outras pessoas das vilas próximas, a uma epidemia de escarlatina.

Tentou dormir novamente, mas os trovões pareciam mais próximos. Fechou os olhos e ouviu um barulho diferente, era alguém que batia fortemente na porta, mas quem seria naquele temporal? Levantou silenciosamente, colocou seus chinelos que estavam perto da cama e foi ver quem era. Aproximou-se da escada e agachou-se para escutar a conversa, já que tudo estava muito escuro.

Ouviu passos indo em direção à porta, era Gerald, o mordomo, que se apressava em colocar um robe sobre o corpo muito magro.

O visitante bateu novamente, agora com mais força, com se tivesse urgência em ser atendido.

Gerald abriu a pesada porta e duas pessoas entraram no saguão.

- Onde está o Marquês? Disse o homem que acabara de entrar. Ele já devia ter chegado há uma semana?

Gerald assumiu sua postura ereta e imponente de sempre e respondeu ao visitante:

- Milorde chegará em breve, como o senhor deve saber sua esposa, a marquesa, faleceu há um mês. Aliás, quem é o senhor mesmo para bater na porta de um marquês a essa hora da noite, tenho certeza de que deve ser um caso de vida ou morte.

- Hora, eu sou John McRyan, vim trazer esse garoto para o marquês, seu pai também faleceu com a epidemia e ele é um tutelado de milorde. Mandei uma carta a ele, mas ainda não obtive respostas. Esse garoto, disse o homem apontando em direção a segunda figura, está me causando muitos problemas.

Pela primeira vez Mary olhou para o garoto que estava encolhido tremendo de frio por estar encharcado. Estava muito escuro, mas pôde ver que ele deveria ter uns 15 anos e já era bastante alto para a idade, era magro, mas não muito, então como se ele tivesse ouvido seus pensamentos e olhou diretamente para ela. Seu rosto foi iluminado por um relâmpago que caiu lá fora e pode ver seus olhos com clareza. Eram azuis, muito profundos e estavam furiosos.

Assustou-se e voltou correndo para seu quarto. Só pode ouvir Gerald repreendendo o homem:

- Mas que absurdo, um tutelado do marquês sendo tratado desta forma, vamos meu jovem, disse o mordomo agarrando o garoto pelo braço, vamos te secar e arrumar uma cama quente pra você.

Mary se escondeu em baixo das cobertas e tentou dormir mas não seria fácil, tanto os trovões quanto aqueles olhos não a deixariam descansar.

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